Capítulo 19

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  Finalmente chegou o dia do casamento. Duas criadas me ajudaram com o vestido, além de Charlotte e minha mãe. Era a minha vez de tomar várias xícaras de chá de camomila. Só de pensar que veria o Sr. Thomas no meu casamento, o meu estômago se revirava. Charlotte, que percebera todo o meu nervosismo, tentou me acalmar segurando em minha mão. Ela, certamente, estava sofrendo calada.

— Você está bem? — Perguntei.

— Ficarei!

O seu olhar era de angústia. Vê-la assim estava acabando comigo e me fazendo pensar cogitar a ideia de abandonar tudo, mas logo percebia que já não podia fazer isso.

Toda a cidade e convidados de fora compareceram à igreja.

Fui levada até sir Benjamin por Louis, que substituía nosso pai todo emocionado. Ao em entregar, ele olhou nos meus olhos.

— Seja muito feliz e abençoada, irmã. — Disse.

— Obrigada, Louis.

O padre me recebe ao lado do meu noivo e inicia a cerimônia. Sr. Thomas, que ficou ao lado de sir Benjamin no altar, olhou para mim o tempo, e eu podia jurar que seus olhos estavam marejados. Meu coração se despedaçava tendo-o por perto e aceitando tudo.

No fim da cerimônia, olhei para o Sr. Thomas pela última vez. Praticamente o implorei no meu silêncio para que me tirasse dali, envolvida em seus braços. Torci para que ele adivinhasse os meus pensamentos.

Saí de braços dados com sir Benjamin, agora, como meu marido. Era como se eu confirmasse que tudo havia acabado e nada se podia fazer em relação aos meus sentimentos por Sr. Thomas.

Fomos para a nossa festa de casamento, foi quando eu soube imediatamente que Sr. Thomas estava voltando para o regimento naquela mesma noite e não pôde ficar para comemorar. Mas eu sabia que ele estava sofrendo, e isso doeu em mim mais do que qualquer outra coisa, fazendo com que eu me sentisse culpada.

Passei a maior parte do tempo recebendo os convidados e agradecendo-os por tudo. Benjamin, sendo meu marido, ficava ao meu lado o tempo todo.

Charlotte nos observava à distância e forçava alegria, por nós dois. Antes de partir para o Casarão, eu a abracei fortemente.

— Perdoe-me. — Eu disse baixinho em seu ouvido.

— Se desculpe sendo feliz ao lado dele, fazendo-o feliz, da mesma maneira.

— Eu prometo.

Ainda na carruagem, eu soube por Benjamim que o casarão, onde moraremos em Bournemouth, foi presente do Sr. Thomas,  e que não teve como recusar.

— Já tínhamos uma casa pronta, perto do castelo da minha família, mas Sr. Thomas fez questão de passar seu casarão para nós, como presente. Não consegui recusá-la, por mais que tentasse.

— Tudo bem. Estou surpresa, e parece fazer parte da personalidade altruísta do Sr. Thomas.

— Exatamente.

Passamos a primeira noite no castelo dos Halfenaked em quartos separados, depois fomos para Bournemouth no dia seguinte, fazendo algumas paradas no meio do caminho para descansarmos. Toda a viagem foi desgastante e temerosa, já que existia sempre  o risco de sermos saqueados nas estradas.

O casarão era mais um castelo. Benjamin ficou espantado com o tamanho e a beleza de toda a propriedade. Os criados correram para a entrada da residência para nos receber e se apresentarem. A governanta nos entregou as chaves e mostrou-nos tudo, além de uma carta de boas-vindas do Sr. Thomas, o que me deixou um pouco inquieta. Notei que sir Benjamin, o meu então marido, percebeu meu estado emocional, mas não disse nada.

Como ainda estávamos no entardecer, a governanta atenciosamente nos serviu de um saboroso chá com biscoitos amanteigados. Segundo ela, eram os preferidos de Sr. Thomas. Revelou também outras preferências do antigo dono do casarão, e até contou alguns fatos sobre ele, atiçando ainda mais a minha curiosidade. No entanto, isso fez com que meu marido me chamasse para dar uma volta, e eu pressentia que ele queria me dizer algo, que talvez fosse difícil de verbalizar em momentos comuns, ou com a tranquilidade que lhe exigia.

— Espero que, a senhora, minha esposa, tenha gostado da nossa nova residência. Mas, se houver algo que queira ou prefira, diga-me, que providenciarei imediatamente. — Ele disse.

— Gostei de tudo, meu marido. A casa é perfeita e não consigo imaginar que haja outra melhor para nós. Adorei, de antemão, o jardim. É muito florido para um lugar tão frio como esta região. Fico curiosa como conseguiram tal façanha...

— O meu amigo, Sr. Thomas, foi muito atencioso conosco, e é uma pena que ele já tenha partido. Gostaria de ter tido a oportunidade de oferecer o nosso primeiro jantar aqui, com a presença dele, como agradecimento.

— É, realmente é uma pena, meu marido.

Ele mexe e remexe em algumas flores e galhos enquanto caminhamos pelo bosque.

— Sei que nos casamentos... relativamente muito rápido, e mal nos conhecemos, minha bela esposa, e compreendo a sua necessidade de adaptação, dada a nossa atual situação neste nosso relacionamento. Só quero deixar claro que não quero forçá-la a nada, e desejo ardentemente que nossos sentimentos fluam naturalmente. — Ele inspira, como se implorasse por algum fôlego — Posso fazer-lhes uma pergunta? Não precisa me responder se não quiser.

— Claro...

— Por que aceitou se casar comigo? Sei que não foi por amor, e acredito que nem pelo dinheiro. Você é franca demais para querer brincar com os meus sentimentos.

— O senhor é um bom homem. Acho que, primeiramente, considerei que fosse o melhor para mim, e que poderíamos ser felizes.

— Fico honrado com as suas palavras. — Eu sorri para ele, e ele me devolveu, na mesma medida. — Como eu disse, não quero forçá-la a nada. Acredito que assim, teremos uma relação baseada no respeito e confiança, acima de tudo.

— Sim, eu concordo.

— E acredito também que eu não tenha cativado seus sentimentos, ainda, e que talvez, posso estar errado sobre isso, outra pessoa tenha cativado tais afeições antes de mim. Estou errado?

— Não escolhi o senhor por razões fúteis.

— Sei muito bem que não. Por acaso, esse outro alguém foi o Sr. Thomas?

Embora eu tenha me espantado com a pergunta, eu me esforcei a máximo para respirar normalmente.

— Por quê a pergunta, meu marido?

— Tenho percebido coisas... Talvez sejam besteiras da minha cabeça.

— Não cogito esconder coisa alguma. Nunca houve um nós, entre o Sr. Thomas e eu. Não posso negar que ele tenha cativado grandes sentimentos, mas somos apenas bons amigos, nada mais.

— Ele sabe de tudo isto?

— Dos meus sentimentos? Talvez. O que me faz pensar que não é correspondido, ou o suficiente para ficarmos juntos.

— Isso me faz pensar...

— Por quê? Sr. Thomas não tem planos de permanecer em terra, e já voltou para o posto. Não há o que pensar, sir Benjamin. O senhor e eu estamos casados, somos marido e mulher. O que há para pensar?

Eu me senti ofendida por ele estar pensando no assunto, como se estivesse arrependido de ter se casado comigo, ou cogitando repensar. Tudo isso fez com que eu ficasse agitada no restante do dia e mal nos falamos depois desta conversa no bosque. Eu não sabia o que se passava em sua mente, e a minha fervilhava. Estaria, eu, sentindo algo por sir Benjamin? Eu não fazia a menor ideia. A única coisa que tinha certeza, era de que Sr. Thomas estaria prestes a se tornar um fantasma em nosso casamento.

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