Capítulo 20

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Sir Benjamin ficou comigo por três dias, e nós não conversamos o suficiente para nos conhecermos melhor. Tudo o que eu soube nesses tão poucos dias, é que ele detestava chá quente demais e de carne mal passava. Gostava muito de ler, como eu, e passava horas escrevendo cartas comerciais e para a sua família. Nossas poucas horas juntos eram naturalmente no momento das refeições, passeios matinais pelo bosque e antes de dormirmos. Compartilhamos o mesmo quarto somente uma noite que antecedia à sua partida, tornando-me mulher com ele.

Na despedida, ele prometeu-me que voltaria em breve e passaríamos mais tempo juntos, ressaltante que três dias havia sido muito pouco para ele. Vê-lo partir doeu, como eu nunca havia imaginado, e admito que fiquei confusa em relação aos meus sentimentos.

Na minha primeira noite sozinha na casa, foi de uma solidão insuportável. Qualquer barulho me assustava. Nas noites seguintes, para não me sentir atormentada, eu passava horas na biblioteca que Sr. Thomas formara e deixara para trás. Isso me fez pensar que talvez tenha deixado por minha causa. Ele sempre soube do meu gosto pela leitura.

Alguns dias depois, minha mãe, Leo, George, Louis e Olívia, vieram me visitar, passando alguns dias no casarão e diminuindo a minha sofrível solidão.

— Como ele pôde deixar você aqui sozinha? Não podia adiar o retorno para mais alguns dias? — Reclamava minha mãe aos quatro cantos da casa.

— Ele tem responsabilidades, mamãe, e não podia fazer nada além de cumpri-las.

— E planeja ficar aqui, sozinha?

— Esta é minha casa agora. Preciso administrá-la. Sou uma senhora casada, é a minha obrigação cuidar dela e esperar pelo meu marido.

— Você amadureceu tão rápido!

— Fiquem aqui por mais tempo. Louis e os meninos podem voltar antes.

Assim, passaram dias a mais do combinado comigo, e voltaram para Beaconsfield com o coração apertado, como o meu também estava. No entanto, eu precisava conhecer melhor a nova casa e aprender a administrá-la.

A governanta, Sra. Elsie, me ajudava com tudo, inclusive me deu algumas dicas valiosas. Aprendi a cozinhar um pouco com as cozinheiras, que se espantavam todas às vezes em que entrei na cozinha pedido que me ensinassem algo. De fato, não era muito comum que a dona da casa se juntasse com os empregados e realizasse tarefas domésticas, era espantoso para muitos, mas para mim, era algo natural. Eu nunca vi maldade ou algo negativo nisso. E certamente, minha mãe me alertaria, alegando que seria mal visto.

O tamanho de toda a propriedade era tão grande que eu levaria pelo menos três dias para conhecer tudo. Além do jardim, o bosque, ainda havia uma pequena fazenda que fazia parte, e fornecia um grande número de alimentos para a casa, como leite, grãos e carnes, por exemplo. Toda semana recebíamos remessas da cidade para abastecer a despensa, que eram trazidas por um mercador. O Sr. Thomas tinha apenas três mercadores de sua confiança e fez questão de nos dar meses de abastecimento sem nenhum gasto. A sua generosidade era comumente ressaltada pelos empregados, que o elogiavam sempre que eu perguntava algo. Isso fez com que eu o admirasse mais, mas me sentia culpada, por ser casada com outro homem e ainda pensar nele com tanto afeto.

Eu me senti mais próxima de Sr. Thomas quando passava horas na sua biblioteca, ou quando tocava o piano que ele deixou. Eu sentia a sua falta, e queria vê-lo só mais uma vez. Uma única vez, e me repreendia sempre que pensava nisso. No entanto, era muito mais forte do que eu.

Revolvi guardar alguns objetos pessoais, que eu vinha adiando, na escrivaninha do antigo dono. Entre os meus objetos, encontrei a carta que ele me entregara no jantar do meu noivado. Eu ainda não tinha lido. Tinha medo de que meus sentimentos me traíssem. E olhei para o envelope por um tempo e resolvi finalmente lê-lo.

Sentei-me junto à janela e abri o envelope cuidadosamente, como se abrisse o Santo Graal.

"Minha amada Beline;

Em solicitude, estou me reservando junto aos meus sentimentos, que sempre foram e sempre serão genuínos para com a senhorita. Devo ter me expressado mal em nosso último encontro, e agora, estou cá, me reunindo com seu futuro marido e à minha dor de vê-la partir. Eu a amo e sempre a amarei, com todo o meu ser e íntimo.

Saístes de coração abalado e magoado, e eu fui incapaz de me expressar e fazê-la acreditar nas minhas verdadeiras intenções. Pensei muito, e continuo pensando. Não devo ter medo do que sinto, e não devo menosprezar do vínculo que a senhorita e eu construímos.

Saiba que estou pronto para assumir o que sinto para quem quer que seja. Estou pronto, principalmente, para assumi-la em minha vida. Não importa os obstáculos que enfrentemos, tampouco as opiniões que deverei lidar. Prometo estar ao seu lado em qualquer dificuldade, e ser sua força nos seus momentos de fraqueza.

Estarei aguardando sua resposta, mesmo sabendo ser tarde demais para fazer uma escolha, mas eu ainda preciso tentar, preciso lutar por tudo o que acredito. Preciso lutar pela mulher que brotou em mim sentimentos intensos e tão reais, que vivo diariamente. Preciso tentar porque somente desta forma sentirei alguma paz na minha alma, sabendo que dei um passo implorando por uma única chance de escolha. Mais uma.

Espero conseguir apagar aquele último encontro em Londres da sua mente, e recomeçarmos de novo, assim, eu finalmente ser merecedor do seu afeto e amor, para finalmente propor-lhe um futuro ao meu lado.

Estarei aguardando a sua resposta, e prometo que não alimentarei muitas expectativas, e não a culparei de nada. Absolutamente nada. Não a culparei jamais se não me escolher. Acolherei a sua decisão e respeitá-la, e guiar todos os meus sentimentos para enviar-lhes votos de felicidades.

Do sempre seu.

Thomas Lancaster."

Li a carta mais uma vez, como se quisesse ter certeza do que havia lido, ou do que eu havia entendido. Sr. Thomas esperou por uma resposta, mesmo eu estando noiva na época. Ele quis lutar, se arriscar. Comecei a chorar, e chorei a noite toda pensando em tudo isso. 

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