Capítulo 33

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Após passar alguns dias em Beaconsfield, voltei para Bournemouth.  Arthur também não teve notícias de sr. Thomas.

Pela primeira vez fui além da propriedade, chegando até a costa da praia que fica a poucos quilômetros. Era um longo caminho, mas me deu uma visão mais ampla de todo o lugar que passei bom tempo sem conhecer a sua totalidade.

Junto comigo, a Sra. Elsie me acompanhava, além do cocheiro que fez questão de levar os cavalos para nos levar de volta para casa. Havia outra pequena residência que ficava mais próxima da praia, que também pertencia ao sr. Thomas. Eu não fazia ideia do tamanho real de tudo o que lhe pertencia, e isso me fez questionar o porquê ele ainda estava no exército, se poderia viver uma vida sem muitas preocupações, e não necessitava tanto da aprovação do pai mais. O que ele ainda estaria tentando provar?

Os dias se passaram, até virarem semanas e meses. Nenhuma notícia de Sr. Thomas chegava. Às vezes, eu andava pela praia e pelo bosque pensando nele, sentindo saudades dos seus cuidados e até das suas ordens, muitas vezes exageradas. Perdi as esperanças lentamente de que ele estivesse vivo. Ouvia várias histórias amedrontadoras sobre a vida no mar, da quantidade de homens que se perderam nas águas turbulentas, e até as mais calmas. Era mergulhar no abismo. No entanto, parecia que sr. Thomas gostava da adrenalina que o mar oferecia.

Com o inverno rigoroso, a estação levou neve para toda a Bournemouth, deixando um manto branco por toda a parte. Ainda que fosse solitário ficar naquele casarão sem sr. Thomas, eu conseguia sentir um pouco de paz. Penso que eu usava as bruscas nevascas como desculpa pela demorar de seu retorno, e uma parte de mim, bem pequena, ainda queria acreditar que ele ainda estava vivo.

Eu estava em frente à lareira com a minha leitura habitual quando a sra. Elsie atendeu aos chamados da porta, cuja, batidas eram desesperadas. Quando me virei para olhar o que acontecia, não quis acreditar no que via.

— Sr. Halfenaked? O que faz aqui? — Elsie indagou, espantada.

Sir Benjamin estava parado, na minha frente, com parte da roupa e cabeça coberto de neve. Ele tremia tanto que não conseguia falar algo com clareza. Tudo o que eu escutava eram os rangidos dos seus dentes. 

Nós o acolhemos e o aquecemos perto da lareira, oferecendo-lhe uma xícara de chá, que embora estivesse fumegante, ele não reclamou.

— Perdoe-me aparecer assim. — Começou ele. 

— Temo que seja importante, sir Benjamin. — Eu disse, em tom de sarcasmo, porque não acreditava na coragem dele de aparecer, depois de tudo o que fizeram comigo e com a minha família.

— Eu não tenho palavras que consigam expressar a minha vergonha por tudo o que lhe fiz. Tentei reparar o meu erro há mais tempo, mas não a encontrei. O sr. Thomas até prometeu me ajudar, mas... 

— Espera, ele prometeu que o ajudaria? Quando foi isso?

— Acho que quando ele voltou da última vez, eu não me lembro ao certo. Nós nos encontramos em Soutbourne. Disse que você ainda estava aqui, então eu viria encontrá-la. Quando cheguei, soube que tinha acabado de ir para Londres...

— Isso foi no último verão?

— Sim.

Lembrei-me de como Sr. Thomas esteve calado quando retornou na última vez. Algo o incomodava. Agora, tudo faz sentido, ele não queria que sir Benjamin me encontrasse, muito menos que soubesse da minha gravidez. Por ciúme ou pura proteção, levou-me para longe e me isolou. Tive um misto de sentimentos, e não foi nada agradável. Revirou todo o meu estômago.

— Está se sentindo bem? Parece pálida. — Perguntou.

— Eu só... preciso de um segundo, para digerir tudo o que está dizendo. 

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