Explicações

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As coisas pareciam confusas e sombrias para Lisa Marie. Desde que tinha ouvido toda aquela comoção na televisão, como também o funeral que tinha que ir, queria entender o que tinha acontecido de verdade. A sua mãe não tinha conversado com ela sobre seu pai morrer, e por mais que todos estivessem falando sobre isso, queria saber se isso era mesmo verdade.

O esclarecimento veio à tona quando ela e a mãe deram uma volta de carro, deixando o apartamento onde moravam, indo para algum destino que Lisa desconhecia. De repente, sua mãe parou o carro, o que deixou a menina assustada. O que é que ela pretendia com tudo isso?

-Olha meu amor, eu sei que tudo parece muito estranho, dá pra ver nos seus olhos - Priscilla se inclinou para tocar o rosto da filha, movida por compaixão - mas é que eu preciso te contar um segredo muito grande, primeiro, eu preciso saber, meu bem, se você confia completamente em mim.

-Mãe, eu confio, mas você tem razão, eu tô com medo, me conta o que tá acontecendo, por favor - Lisa implorou, tentando buscar respostas para as dúvidas que não paravam de crescer.

-O seu pai, Lisa, ele não está morto - Priscilla contou a verdade, com toda delicadeza possível - ele teve que se esconder e fingir que morreu, pra que o deixassem em paz.

-Isso é uma mentira, mãe, isso não tá certo - foi a primeira coisa que veio dos lábios da menina - será que não tinha outro jeito de deixarem ele em paz? Ele não podia pedir por isso?

-Sabe meu amor, existem pessoas que, mesmo você pedindo com gentileza, elas não te entendem, então não vai restar outra alternativa a não ser fazer uma coisa que parece errada - Priscilla explicou de uma maneira que ela conseguisse entender.

-É errada, mas não é uma coisa certa com o papai, eu sei que ele estava cansado - Lisa apontou - isso é muito triste mãe, se ele vai ter que se esconder, quer dizer que a gente nunca mais vai ver ele? Isso não é justo, eu sinto falta dele, eu te disse várias vezes que tenho saudade dele.

-Eu sei, meu amor, eu sei, é por isso que estamos tendo essa conversa agora - sua mãe voltou a falar, com certa dificuldade, respirando fundo - o seu pai está esperando pela gente em outro país, só que vamos ter que esperar um pouco pra vê-lo, pra que não desconfiem da gente.

-Está bem, mas isso tudo é triste... e estranho - Lisa disse sua opinião outra vez.

-Eu sei, mas Lisa Marie, foi uma ideia do seu pai e nós acabamos concordando - insistiu Priscilla - tudo que ele quer é uma vida comum, uma vida feliz ao nosso lado, ele também sente sua falta, ele queria passar mais tempo comigo e com você...

-Quer dizer que vocês dois estão juntos de novo? - isso foi uma novidade que a menina percebeu em toda aquela conversa absurda - isso é bom, eu fico feliz com isso, mamãe.

-Obrigada meu amor - Priscilla acabou sorrindo de alívio - eu precisava falar sobre o plano antes de contar, mas sim, eu e seu pai estamos juntos de novo, não foi fácil, mas eu segui meu coração.

-E papai tá seguindo o dele também? - Lisa quis saber, só assim tudo faria algum sentido para ela.

-Sim, é isso, meu bem - sua mãe confirmou, o que deixou claro que as duas acreditavam na mesma coisa, no que Elvis acreditava, seguir sua coração parecia a coisa certa a se fazer.

Lisa acabou lhe dando um abraço de conforto, vendo o quanto ela estava abalada e como aquela conversa tinha sido difícil, ainda era muito pra digerir, mas a pequena tinha entendido as motivações dos pais.

Então, seguiram-se os dias das duas, mantendo companhia uma a outra, enquanto Priscilla cuidava de Graceland, cuidando de tudo, se certificando que desde o menor detalhe até as maiores questões financeiras estivessem nos eixos. Eventualmente, também da mesma forma secreta em que arquitetaram todo plano, contou a Vernon o que realmente tinha acontecido.

-Não, não, não, não pode tá falando sério, Priscilla - foi o que ele disse a princípio, sentindo as pernas tremerem e cedendo à queda, a ponto de desmaiar.

-Calma, Vernon - ela correu para ele, o apoiando rapidamente - eu não queria te assustar tanto assim, claro, essa é a reação natural, sinto muito por isso.

-Eu espero que sinta mesmo, moça! - ele se exaltou, ainda desorientado - eu vi o corpo dele, nós o enterramos, acha que não conheço meu próprio filho?

-Era um boneco muito convincente - ela murmurou em resposta.

-Mas você estava devastada, você chorou tanto, aquilo não pode ter sido uma encenação - ele ainda se lembrava do estado de comoção dela.

-Eu estava apreensiva com muitas coisas e triste por termos que fazer tudo isso pra que tratassem o Elvis como um ser humano - ela se explicou, soando magoada.

Nesse momento, Vernon teve certeza de que ela não estava mentindo nem um pouco. Talvez fosse capaz de mentir dentro de todo esse esquema de farsa, mas não tinha o hábito de mentir, muito menos para ele.

-Priscilla, filha, por que não me contou? Por que não confiou em mim? - ele arriscou perguntar, querendo satisfações agora que acreditava no filho estar vivo.

-Eu sinto muito, mas quanto menos gente soubesse melhor e também, tínhamos que ter certeza de que ele estava mesmo seguro e que tudo tinha dado certo - ela se justificou mais uma vez, sentindo se desgastar com o assunto, querendo mesmo deixar tudo aquilo pra trás - estou contando agora porque eu e a Lisa estamos indo visitá-lo e pensei que você gostaria de vê-lo.

-Claro que eu queria, tem tanta coisa que eu queria dizer e... - Vernon acabou chorando - achei que não teria mais a chance de fazer isso, mas por sua causa eu posso consertar as coisas, obrigado, minha filha.

-Não há de que - ela lhe ofereceu um abraço.

Tudo que ela queria depois de tantas emoções era só poder rever Elvis e passar o tempo com ele, finalmente viver a vida que ele tanto queria agora, ao lado dele.

Uma armadilha de memóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora