Havia algo emocionante em caminhar em ruas desconhecidas, não havia nada muito familiar nas fachadas latinas, nos letreiros em espanhol, nos coloridos das ruas, mas havia familiaridade na vizinhança barulhenta, na vida rotineira que cada pessoa estava vivenciando, tão ocupados e concentrados que não notavam o astro do rock por suas ruas. Ali estava uma simples família, o pai, com seu filho, e o filho com a esposa e a filha, andando por ali, tentando encontrar caminho... para algum lugar que ainda não tinham encontrado.
-Onde mesmo estamos indo? Você não disse nada sobre onde planejava ir - Priscilla precisou esclarecer o motivo da caminhada, começando a se sentir perdida, mas percebendo que havia um pouco de diversão naquilo, e era justamente por isso que Elvis estava andando aparentemente a esmo.
-Eu não faço ideia de onde estamos indo - ele riu, respondendo o questionamento da esposa - mas vamos vendo onde vai dar.
-Você se lembra de alguma coisa dessa rua ou dos arredores quando veio pra cá pela primeira vez? - Vernon quis saber, vendo se aquilo ajudaria a família a se localizar.
-Eu confesso que não prestei muita atenção nisso, papai, eu estava bem nervoso e apreensivo, só pensei em chegar no hotel - Elvis contou, se lembrando da ocasião - mas acho que tem uma coisa por aqui que pode nos ajudar a achar um destino, enquanto eu assistia TV uma vez, senti um cheiro de algum tipo de comida, era bem diferente, mas com certeza deve ser muito bom, só por causa do cheiro.
-Vai nos guiar por Buenos Aires pelo cheiro de comida? Parece no mínimo inventivo e no máximo inusitado - Priscilla cruzou os braços, mal acreditando no que estava ouvindo.
-Vamos lá, vai ser divertido, não vai, Lisa? - Elvis procurou apoio na filha para sua ideia inusitada - procurar por comida só pelo olfato, é como uma brincadeira, ou um desafio.
-Nos tornamos o verdadeiro Hound Dog, não é? - Priscilla teve que comentar, sendo a primeira coisa que se passou pela sua cabeça.
-Não tinha pensado que ia lembrar disso, foi a coisa mais ridícula que já fiz - ele contou, fazendo questão de comentar seu velho show na TV.
-Sério? Não acredito, olha só pros seus macacões extravagantes - ela rebateu de volta, o cutucando um pouco, mas secretamente achando que ele era um dos poucos homens no mundo que podia vestir um macacão tão bem.
-Em minha defesa, eu não os uso mais - ele rebateu, deixando sua posição clara sobre o assunto, ainda com um toque de humor.
Ela teve que rir de novo, estavam em incógnito e mesmo assim era impossível deixar pra lá símbolos da sua carreira, eram grandes marcos, mas que agora eram boas lembranças. Eventualmente eles foram absorvendo as características do lugar à sua volta, observando casas, pessoas, algumas lojas de móveis, que ofereciam algum tipo de conserto e então finalmente, o fatídico restaurante. Elvis sabia que estavam no lugar certo pelo cheiro.
Era um lugarzinho pequeno, com as mesas meio amontoadas entre si, porém muito acolhedor.
-Onde vamos sentar? - Lisa perguntou, sentindo as pernas cansadas depois de toda aquela aventura de caminhada.
-Por ali acho que está bom, o que acham? - seu avô sugeriu e toda família acatou a decisão, assentindo e se dirigindo para lá.
-Ok, deixa que eu falo sempre que for necessário - Priscilla alertou o marido, conhecendo sua natureza ávida e impetuosa - não queremos chamar atenção.
-Tudo bem, eu entendo o que quer dizer e eu posso ficar quieto - ele garantiu - só prometa pra mim que vai encontrar aquela comida deliciosa.
-É pra isso que estamos aqui, afinal, não é? - ela deu de ombros, se lembrando do que os tinha motivado a encontrar aquele lugar.
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Uma armadilha de memórias
Fiksi PenggemarUm descanso merecido, uma reconciliação e uma ideia maluca. Tão maluca que funcionou durante muito tempo, até não funcionar mais. O prisioneiro das memórias vai ganhar uma liberdade não sonhada e terá que lidar com as consequências de seus atos.