Ao retornar da casa de repouso, Priscilla já estava mais acostumada com a ideia absurda que Elvis tinha inventado, a questão agora era torná-la tão crível de maneira que ninguém desconfiasse da verdade. Principalmente gente como quem a aguardava no hall do seu prédio.
-Sra. Presley, não esqueci da resposta que me deve - Tom Parker a abordou de repente, a fazendo se sobressaltar, mas ela se recompôs rapidamente, sabendo da importância de manter uma postura firme à frente dele.
-Boa tarde pro senhor, Coronel - ela rebateu sem cortesia nenhuma - eu não devo nada ao senhor, ficou claro em nossa última reunião que você não pode e não vai falar com Elvis até que ele decida fazer isso.
-Como ele vai fazer isso se nem ao menos posso conversar com ele? Vocês continuam se recusando a me dizer onde ele está, usam leis inventadas pra me impedir, mas eu também tenho os meus meios - ele acabou ameaçando.
-Não vai conseguir nada comigo, eu já te disse, e pretendo continuar assim - Priscilla disse com raiva - se me dá licença eu tenho mais o que fazer, então tenha um bom dia.
Ela deu as costas para ele, sem querer se desgastar mais em nenhuma discussão. Mas o que o Coronel disse causou um efeito de medo nela. Tinha que ser mais esperta e agir logo. Por precaução, Priscilla observou até o momento em que ele tinha deixado o prédio. Mais que depressa, pegou o carro e deu algumas voltas, encontrando um orelhão aleatório.
-Alô, sou eu, eu preciso que me encontre lá onde sabe, é urgente, no horário de sempre - foi a mensagem que passou enquanto ligava para Jerry e Billy.
Os dois já estavam acostumados àquela linguagem de código desde que levaram Elvis para a reabilitação, então logo entenderam do que se tratava. No dia seguinte, estavam os dois reunidos na casa de repouso com ele e Priscilla, esperando saber sobre o que se tratava tudo aquilo.
-Muito bem, rapazes, eu chamei vocês aqui porque eu e a Priscilla tomamos uma decisão importante - ele começou o assunto, de forma muito séria.
-Certo, vocês parecem ter voltado, o que é ótimo, mas eu não vejo como isso seria motivo o suficiente pra nos trazer aqui debaixo de tanto segredo - o primo de Elvis levantou a questão.
-É algo muito mais sério, não é? - Jerry já compreendeu de uma maneira melhor - só conta o que querem fazer.
-Na verdade, Elvis teve a ideia e eu... não sei se acho uma ideia boa, mas acabei concordo e vamos colocá-la em prática - Priscilla esclareceu.
-O que seria então? - Schilling perguntou outra vez.
-Vamos fingir minha morte - Elvis declarou sem muitos mais floreios - eu me tornei um tipo de pessoa que só deixariam em paz se estivesse morto, então, é isso que vamos fazer.
-Espera aí, E. P., isso é um absurdo, como é que a gente ia fazer isso? E fazer isso de um jeito convincente pra ter certeza que vai dar certo como você quer - Billy levantou os paradigmas do plano - além de ser claramente um crime, a gente não pode ir preso!
-Foi pra isso que chamei vocês aqui, pra pensarmos nisso juntos, e vocês me ajudarem com os detalhes, pra que tudo seja tão bem feito que ninguém nunca nos pegue, como a peça do século - Presley elaborou mais um pouco - eu estou escondido aqui, com sucesso, vamos repetir a dose mais uma vez, com um plano mais forte.
-Tá, mas isso é completamente diferente do que te levar pra casa de repouso - Jerry pôs os fatos à mostra, de forma prática - quanto tempo pretende fazer isso?
-Tempo o suficiente pra que esqueçam de mim, talvez eu nem apareça mais na mídia, e isso vai ser bom - Elvis insistiu em seus motivos - tudo que eu quero agora é uma vida calma e comum, preciso que me ajudem nisso, por favor.
-Tudo bem, tudo bem, tudo bem - Jerry respirou fundo, passando a mão pelo rosto - vamos pôr isso num papel, pra ficar mais claro.
O próprio Elvis providenciou o que ele precisava e assim, seu velho amigo começou a esboçar alguma coisa. A iniciativa "Burrows" começava a dar seus primeiros sinais de vida.
-Tudo bem, pra começar teríamos que pensar numa forma convincente de como você morreria - Billy palpitou, com os braços cruzados.
-Não sei, eu posso... ter um ataque do coração, ou overdose por causa dos remédios... - Elvis citou, pensando no que seria plausível.
-Em que lugar você morreria? Não pode ser no meio da rua, teríamos que montar uma verdadeira produção de Hollywood pra convencer as pessoas disso - Jerry perguntou e opinou.
-Encontrado em casa, enquanto estivesse se preparando pro próximo show - Priscilla sugeriu quietamente - eu pensei que isso aconteceria de verdade algumas vezes...
-Sinto muito por isso, Cilla... - seu ex marido fez questão de dizer, ela esboçou um pequeno sorriso em resposta.
-Certo, então seria convincente - Jerry concordou - quanto ao funeral? As pessoas vão querer ver seu rosto e acreditar que é você ali.
-Podemos usar um boneco por uma hora e depois fechar o caixão - Elvis trouxe a solução outra vez.
-E o corpo em si? Vamos ter que arrumar um corpo real - Priscilla levantou a questão.
-Bem, eu posso encontrar alguém com o amigo de um amigo que trabalha no necrotério - Billy deu de ombros - enterramos uma pessoa não identificada e é isso.
-Tá, essa é a farsa, mas e depois? Pra onde você vai, Elvis? Te conhecem no mundo todo! - Jerry apontou o problema daquilo claramente.
-Mas eu nunca pisei em outro lugar a não ser aqui e na Alemanha - ele deu de ombros - eu saio do país, com um disfarce, claro, e posso morar na América do Sul por um tempo, me parece remoto o suficiente.
-Precisa ser mais específico - ela pediu.
-Eu não sei, Argentina, talvez - ele sugeriu, meio incerto.
-Argentina, então - Jerry concordou - você parte no dia do anúncio da morte, sem deixar nenhum vestígio pra trás.
-Me parece um belo de um plano! - Elvis acabou rindo, na euforia de sentir a realidade de colocar seu plano em prática, como tudo aquilo estava ficando cada vez mais sério agora.
-Fechamos nisso, então? - Jerry questionou todos ali, rezando para que eles tivessem certeza do que estavam fazendo.
-Tenho, é isso que eu quero - seu amigo declarou com convicção, olhando para Priscilla em busca de apoio.
-Vamos nessa - ela acabou concordando, também esperando que toda aquela loucura desse certo e que no fim das contas, fosse para o bem de Elvis.
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Uma armadilha de memórias
Fiksi PenggemarUm descanso merecido, uma reconciliação e uma ideia maluca. Tão maluca que funcionou durante muito tempo, até não funcionar mais. O prisioneiro das memórias vai ganhar uma liberdade não sonhada e terá que lidar com as consequências de seus atos.