Após conversarem um pouco mais sobre como seriam as coisas a partir de agora, com Priscilla prometendo que suas visitas seriam constantes, ela deixou o ex marido com seus próprios pensamentos. Por conseguir a afeição dela novamente e ter a certeza de que ela ainda se importava, Elvis pensou que era recompensa o suficiente. Então, foi com alegria e empolgação que se preparou para a próxima visita dela.
Dessa vez, Priscilla parecia melhor, como se descansasse de forma mais efetiva e estivesse genuinamente feliz de estar ali.
-Oi - ela disse de forma mais empolgada na chegada, o abraçando primeiro dessa vez.
-Oi - ele respondeu, sorrindo para ela de uma forma radiante.
Priscilla não pôde deixar de notar que era um tipo de sorriso diferente, não tinha o charme dos palcos, ou o flerte da juventude, mas uma alegria genuína, uma expressão do que estava sentindo. Ela tinha medo do que aquilo podia significar, do que poderia mudar dentro dela em relação a ele. Ainda havia uma parte dela que se importava com ele, que queria o seu bem, mas ela também tinha medo de ceder ao amor. Tinha medo do que poderia significar no futuro, por hora, queria se concentrar em ajudar na recuperação dele. Era o que importava no momento.
-Seja bem vinda - ele decidiu desfazer o pequeno silêncio que se formou.
-Ah obrigada - ela se sentou no lugar que tinha se acostumado a sentar, na cadeira à direita da mesinha de centro, Elvis fez o mesmo na frente dela - então, tem alguma novidade? Como foi essa semana?
-Bom, nada muito diferente, eu andei pensando em começar a ler alguma coisa, talvez pegue um livro emprestado de alguém - ele deu de ombros.
-Ler é sempre bom, se quiser, eu posso trazer os seus preferidos - ela ofereceu.
-Claro, seria ótimo, obrigado por isso, mas e você? O que anda fazendo? - Elvis quis saber - aposto que tem mais novidades do que eu, lá fora o mundo ainda gira.
-É, tem razão, mas eu não quero te preocupar com nada, aliás, está sentindo falta da agitação de lá de fora? Tipo, do público e tudo mais? - Priscilla devolveu a pergunta, certamente intrigada e curiosa.
-Tá aí algo interessante que eu andei pensando mesmo - ele alisou o queixo, um gesto típico pensativo - é como se eu ficasse ansioso esperando por isso, mas nunca chegasse, e realmente nunca chega, e ainda assim eu sinto alívio por não ter que fazer nenhum show, não ter que passar por esse nervosismo de novo é uma sensação boa.
-Fico feliz de ouvir isso, esse é um lado seu que poucas pessoas conhecem, seu nervosismo antes de entrar no palco, sabe, assim que você põe os pés ali toda a sua confiança vem de uma vez e você faz o que faz, tão bom nisso... - ela disse de um jeito meio encantado, como se refletisse em cada vez que presenciou isso.
-Acha mesmo? - ele achou intrigante, não se lembravam de conversar muito sobre isso, sobre esse detalhe específico.
-Eu sei disso, vi de perto o suficiente - ela deu de ombros.
-Eu nem sempre fui assim - ele desviou o olhar e depois fixou os olhos nela, parecendo nostálgico, como se tivesse uma história pronta para contar em mente.
-Ah sim, o rapaz que me convidou para uma conversa na Alemanha, ele era nervoso, tímido, reservado, mas não menos charmoso - ela contou suas próprias lembranças - essa é uma ocasião que eu me lembro de você hesitante.
-Você estava mais animada que eu, se me permite dizer - ele declarou suas próprias recordações.
-Animada, uso curioso de palavras... quer dizer que não estava empolgado em conversar comigo? - ela decidiu enquadrá-lo, unindo as mãos sob os joelhos.
-É claro que eu estava, só não conseguia demonstrar por causa da minha hesitação, como você mesma colocou, Cilla - ele jogou a questão de volta para ela, mas estava sendo verdadeiro.
-Tudo bem, acho que é justo - ela acabou rindo.
-Mas eu tenho que admitir que... te ouvir falar sobre a sua vida e o que você gostava me fez ver quem você era de verdade - "e foi por essa jovem que eu me apaixonei" - ele quis acrescentar, mas achou melhor se conter.
-Eu vi o seu eu real também - ela acabou concordando - mas eu tenho a impressão que você queria me contar outra coisa sobre ficar nervoso com o palco, consegue se lembrar da primeira vez que sentiu isso?
-Eu? Ah, claro... - ele disse em tom de brincadeira, mas se concentrando nas lembranças - eu era tão novo... bem, lembro do Scotty e do Billy comigo, mamãe, papai, Dixie...
-Quem era a Dixie? - Priscilla levantou a pergunta por pura curiosidade.
-Ah podemos deixar pra outra história e outra conversa - ele despistou a questão, um resquício de vergonha que um marido sentiria ao contar sobre uma ex-namorada para a esposa, exceto que Priscilla realmente não era mais sua esposa, o pensamento repentino o deixou triste, mas ele decidiu prosseguir.
-Hum, está bem, só me conta a história - ela cruzou os braços, fazendo uma nota mental para cobrá-lo mais tarde.
-Enfim, nós íamos entrar e eu estava muito nervoso e aí comecei a cantarolar pra me aquecer e fiquei tão apreensivo que não conseguia ficar parado, cheio de tremeliques. Subi no palco e mal conseguia olhar pra plateia, quer dizer, eu olhei, parecia que tinha um sapo na minha garganta e eu falei com a plateia tentando parecer coerente, sem conseguir parar de me mexer, não queria que ninguém me visse tremendo. Então comecei a cantar e depois disso foi pura energia, sentindo a música por todo o meu corpo e me mexendo em consequência, e aí eu...
Elvis se interrompeu rindo, deixando Priscilla mais intrigada.
-Que foi? - ela ficou sem entender nada, esperando.
-Bem, as garotas começaram a gritar e eu não fazia ideia do porquê - ele explicou, rindo mais um pouco logo em seguida.
-Quer dizer que existiu uma época da sua vida que você não fazia ideia do efeito que causava? Que inocente... - ela fez um beicinho, também brincando.
-Sério, naquela época não tinha - ele se recompôs - e eu perguntei pros rapazes porque elas estavam daquele jeito e me falaram que era por causa do rebolado, acabei entrando na onda e chamei uma baita de atenção.
-Ah... - foi o comentário quieto de Priscilla depois da história - tá querendo me dizer que... uma das suas marcas registradas, o seu jeito de dançar veio do seu nervosismo?
-É, isso e claro, como as pessoas dançavam no bairro onde eu morava, era fascinante observar tudo aquilo quando eu era criança - ele acrescentou.
-Uma mistura incrível - ela concordou, refletindo sobre sua conclusão - coisas improváveis juntas formaram um espetáculo.
-Obrigado - ele disse quietamente, sentindo a emoção de compartilhar aquelas memórias.
-Nunca me contou isso - Priscilla se deu conta.
-Acho que nunca tive tempo pra pensar nisso - ele se justificou - só agora...
-Porque finalmente você teve tempo pra descansar - ela concluiu - foi muito bom ouvir sua história.
-E foi bom contar - ele concordou, refletindo que, reviver boas memórias de sua carreira também eram uma fonte de alívio.
A/N: Não consegui postar ontem porque estava viajando, mas aqui está o novo capítulo. Contem com updates todos os sábados, prometo ser pontual quanto a isso. Obrigada por lerem!
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Uma armadilha de memórias
Fiksi PenggemarUm descanso merecido, uma reconciliação e uma ideia maluca. Tão maluca que funcionou durante muito tempo, até não funcionar mais. O prisioneiro das memórias vai ganhar uma liberdade não sonhada e terá que lidar com as consequências de seus atos.