Uma armadilha de memórias

Exposição

Um tumulto como nunca antes visto se formou aos portões de Graceland, uma agitação que só poderia ser comparada ao próprio funeral de Elvis, mas o motivo que trazia toda aquela gente ali era justamente o oposto disso. Tudo tinha começado com as redes sociais mais joviais, TikTok e Twitter. Comentavam sobre a revelação de Roland Mitchell no Youtube, num vídeo intrincado sobre suas pesquisas dos últimos anos e como através de uma fonte segura, tinha conseguido a prova definitiva de que Elvis Presley estava realmente vivo. Isso foi a âncora que arrastou as multidões de curiosos, até mesmo não fãs, apenas para ver se era verdade.

Claro que, quando se tratava de internet, algumas coisas tinham que ser vistas com certo olhar cético, mas o que tinha convencido o público disso, era canais na TV mostrando em seus noticiários o vídeo, questionando se aquilo realmente era genuíno, convincente ou não.

Quem ainda não tinha entendido o motivo para ter tantas pessoas assim no seu portão era Priscilla, que havia acordado percebendo a multidão, tendo um comportamento muito diferente do que se encontrava nos visitantes do museu.

Assustada, ela se levantou e se aprontou rapidamente, no intuito de ver o que era aquilo tudo. Tinha que ter um motivo plausível para tamanha comoção, pensou ela, mas não fazia ideia do que poderia ser.

Indo até o corredor principal, encontrou Elvis com a mesma incógnita pairando sobre ele.

-Do que se trata tudo isso? - ele perguntou em primeiro lugar - eu ia até o estábulo essa manhã, mas achei melhor não ir.

-Você viu o tamanho da movimentação? - Priscilla questionou também, procurando por respostas - estão querendo entrar?

- Não exatamente, é como se esperassem por algo - ele percebeu ao menos algo pequeno dentro disso tudo.

Antes que pudessem tomar qualquer atitude a mais, Lisa ligou para a mãe, tentando alertá-los do que estava por vir.

-Mãe, sou eu! - disse a voz dela com urgência - me diz que o papai está aí com você!

-Lisa, se acalma, estamos aqui, diga o que houve - a mãe dela pediu, tentando fazer o mesmo.

-Não saiam daí por nada, eu estou a caminho, conto o que aconteceu assim que eu chegar aí - ela avisou e acabou desligando o telefone, com pressa, o que deixou seus pais ainda mais assustados.

Não dava para compreender no meio de tanto mistério o que afinal estava acontecendo, a cada minuto que se passava tudo ficava mais confuso e a resposta cada vez mais parecia inalcançável.

Lisa ficou ainda mais alarmada com a quantidade de pessoas que viu na frente de sua antiga casa, sabia que contornar tudo aquilo seria bem difícil. Apesar do nervosismo e apreensão, conseguiu raciocinar a boa ideia de dar a volta pelos fundos, contornando os caminhos da propriedade, até que finalmente conseguisse chegar onde queria.

Batendo a porta levemente, Priscilla compreendeu que se tratava da filha e logo abriu, observando Lisa entrar com pressa.

-O que foi? O que é que está acontecendo afinal? Você sabe? - Elvis foi o primeiro a questioná-la.

-Eu preciso que vocês se sentem primeiro - ela pediu com pesar e urgência na voz, os pais fizeram conforme pedido e então ela deu um longo suspiro antes de prosseguir - descobriram que você está vivo, pai, e a mídia não fala de outra coisa pelas últimas horas, é por isso que tem tanta gente lá fora.

-O que? Como assim? - ele entrou em desespero e choque - em quase 45 anos nunca ninguém afirmou isso, e agora de repente, tudo cai por água abaixo? Não, isso não pode ser verdade!

-Eu sinto muito, papai, mas basta ligar a TV, infelizmente, encontraram uma prova convincente o suficiente pra isso - Lisa lamentou.

Querendo ver com seus próprios olhos o motivo de toda aquela comoção, Elvis ligou a TV mais próxima bruscamente, procurando o canal de notícias. Ali falavam o nome dele o tempo todo, seguido de estar vivo e escondido em Graceland, mantendo uma relação afetuosa com a ex esposa, que também tinha sido exposta no vídeo revelador.

Priscilla estava ao lado dele e acompanhou a exibição do vídeo que estava expondo os dois, uma conversa extrovertida, um momento certamente íntimo, para que todo mundo visse. Os joelhos dela se sentiram fracos e vacilantes enquanto os punhos dele se enchiam de fúria. Ter a mídia falando sobre sua vida outra vez, de forma pejorativa, deixou Priscilla completamente aflita, não querendo reviver momentos perturbadores que até então tinham ficado no passado. Já Elvis, queria encontrar quem tinha feito aquilo e se vingar de forma muito efetiva.

Continuando a assistir, encontraram o autor da façanha, o jornalista Roland Mitchell, sendo atrelado ao nome deles e à alcunha cada vez mais vigente de "o homem que provou que Elvis estava realmente vivo".

Era um sujeitinho prepotente, com certeza orgulhoso do que tinha feito, admitindo que esse tinha sido o trabalho pelo qual sua carreira existia e respirava e agora, com a ajuda de uma fonte anônima e segura, tinha exposto um mentiroso ao mundo, um artista falido viciado pelo estrelato que enganou a todos.

-Esse homem nem me conhece, se tivesse estudado mesmo sobre mim, saberia que não foi nada disso! - a voz zangada de Elvis foi se aumentando gradativamente conforme ele escutava o que o jornalista alegava.

-O que nós vamos fazer? Eu... temia que esse dia ia chegar, mas por um momento de fraqueza achei que estávamos finalmente salvos, estava errada esse tempo todo... - Priscilla se permitiu desabar e chorar, temendo pelo que poderia acontecer agora.

Ver a mulher que amava naquele estado desesperado só deixou Elvis ainda mais furioso. Priscilla tinha sido sua rocha e âncora nos últimos anos. É claro que a ideia de se esconder tinha vindo dele e talvez ele fosse o responsável direto pelo que estava acontecendo agora, porém mesmo com as dúvidas dela, Priscilla o apoiou e o ajudou, sendo sua consciência e o guia de seu coração, sempre muito ponderada e sábia. Agora ela tinha perdido as estruturas e ele percebeu que era sua vez de ser forte e manter a família unida.

-Não se preocupe - ele se aproximou dela e lhe ofereceu um abraço - eu vou dar um jeito nisso, nós vamos sair dessa, tenho certeza.

Foi a vez de Lisa compartilhar dos sentimentos do pai, eles sempre estiveram presentes por ela, era o momento dela tomar as rédeas da situação e ser sua defensora.

-Vamos pensar em algo, só mantenham a calma - ela olhou firmemente para eles, se comprometendo a pensar em um bom plano.