Capítulo 13: Lembranças maldosas

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Estranhamente Mariana não ligou e nem agradeceu Ana naquele dia. E no dia seguinte, esteve mais estranha ainda. Distante, muito distante.

Mas, pessoas têm dias ruins, né? Servín pensou isso, e tentou manter a normalidade, mesmo Mariana afastando-se.

Já em casa, Mariana conversava com a mãe e a avó enquanto faziam o jantar.

— Esta tristeza toda é só porque vamos nos mudar? Você gostava tanto de morar comigo em Tepoztlán… — disse Lúcia.

— É que agora é diferente. Não sou mais uma criança, vó.

— Acho que a diferença é que antes você não conhecia a tal Ana Servín, e agora conhece. Certo? —  perguntou com um sorriso intrigante.

— Mamãe, não alimenta essas ideias doidas da Mariana, por favor! — repreendeu Teresa.

— Filha, está mais que claro que a Mariana está muito apegada a essa mulher. Vi as roupinhas que comprou. Duas peças iguais, uma para recém nascido, e outra do tamanho da Regina. Entendi tudo. — reforçou Lúcia. 

— Não quero que fiquem discutindo a minha vida. Até porque não tenho outra opção a não ser ir. E sim, deixar a Ana está me deixando muito triste, não sei quem vai apoiá-la e muito menos cuidar dela. Isso me preocupa!

— E essa mulher não tem família? — perguntou Teresa, em tom de ironia. — Sério, filha. Precisa saber o que está acontecendo, eu sinceramente estou confusa!

— Está acontecendo exatamente o que não pode acontecer… —  Mariana comentou de cabeça baixa e em tom de voz manso.

— Você se apaixonar pela mulher mais comentada do país. — continuou Lúcia, que foi certeira na ferida. 

— Perdi a fome, podem comer.

Mariana se levantou da mesa com os olhos marejados, por alguns instantes ela precisava estar só, embora fosse impossível, Regina e ela compartilhavam o mesmo quarto.

Enquanto a bebê dormia no berço, Mariana se pôs a refletir e conversar sozinha.

— Regis, eu sei que também sente falta dela. Quem não sente? Mas nós vamos embora… não podemos ficar. E eu nem sei como vou fazer para contar a ela que vamos embora. Vai doer, e muito. Em mim e nela. Me desculpa por estar te afastando da Ana, filha. — Mariana desceu a mão pelo corpinho de Regina, que dormia tranquila. – Sei que você ama estar no colo dela, sentindo aquele perfume caro de madame que ela usa. — riu fraco. — Eu também amo. Amo tudo que tem a ver com ela, e isso me assusta. 

Na mansão Servín…

— Dona Ana, me desculpa a intromissão, mas aconteceu algo entre a senhora e a senhorita Mariana? Sinto que esta casa está menos alegre sem ela e a bebê. — disse Alta, que chegou ao quarto da loira para deixar uma jarra de água para caso ela sinta sede pela noite.

— Não sei, Alta. A verdade é que não sei. Por algum motivo ela se afastou de mim e isso me fez pensar muito, até no que não queria lembrar.

— Como assim?

— Alta, senta. Me desculpa, mas preciso desabafar e vou te alugar!

— Está tudo bem, Dona Ana. Pode confiar totalmente em mim.

— Sabe, depois daquele domingo em que o Russo quase…. quase… quase abusou de mim… — as palavras saíram arranhando a garganta e a alma — A Mariana fez de tudo para que eu ficasse bem, tranquila e amparada. Funcionou tão bem que apaguei aquela memória da minha cabeça por um tempo. A lembrança do que aconteceu foi apagada da minha memória. Mas desde um certo dia… depois de um acontecimento específico, desde que eu e ela nos beijamos…

Me Salvaste - MaryanaOnde histórias criam vida. Descubra agora