Capítulo I

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Vallerye

A primavera não parece tão agradável dessa visão. Uma das únicas visões que tenho desde pequena.

As pessoas costumam dizer que essa estação é a mais linda. Os diversos livros pelo qual me aventuro nas horas vagas descrevem quando a grama brotam nos campos, tornando-os mais verdes; quando as flores desabrocham e exalam um cheiro incrível, que toma conta do ar; quando as águas dos rios e cascatas se tornam mais cristalinas; Quando os animais saem de seus esconderijos e tocas para aproveitarem a brisa das florestas, antes do próximo inverno.

No entanto, a única coisa que vejo enquanto estou sentada na janela do quarto, ainda com a roupa que acordei, e atrasada o suficiente para meus compromissos, são blocos de pedras formando a muralha do castelo. Os portões grandes e exuberantes feitos do metal mais forte que se pode encontrar no continente, sempre permanecem fechados. Pelo menos para mim.

Sou a princesa deste reino e nem ao menos posso conhecê-lo por completo. Tudo que sei, aprendi através dos livros.

Estou prestes a fazer 18 anos e ainda tenho que passar por consultas constantes, e tudo isso porque meu pai me acha frágil.
Não sou frágil. Sou forte o bastante para me cuidar. Estou pronta para poder conhecer o mundo, mas não falo para ele. Meu pai já perdeu minha mãe, me perder seria seu fim.

Só não sei se estou pronta o bastante para sacrificar minha felicidade pela dele. Não sei se estou pronta para enfrentá-lo sobre meu futuro. Ele pode ser rigoroso sobre eu não poder sair através dessa muralha, mas ainda é meu pai. Não quero aborrecê-lo.

passo tempo demais observando os soldados treinarem no pátio do castelo que esqueço o quão estou atrasada para a consulta de hoje, e mais atrasada ainda para meu treino.
Corro para o banheiro. Mergulho todo meu corpo dentro da banheira, a água está morna e aquece minha pele. Deixo meu corpo relaxar, deixo-o descansar dentro dessa água com aroma de lavanda.
Usaria um de meus muitos vestidos, mas como irei treinar após a consulta, então já resolvo vestir uma calça preta que vai até meu tornozelo, acompanhada de um espartilho de couro e um coldre marrom. Coloco uma bota de cano alto.

Meus cabelos estão soltos sob meus ombros e costas, não tenho tempo para uma trança bem elaborada, então o amarro em um rabo de cavalo desajustado. Alguns fios cor de cobre caem no rosto. Os coloco atrás da orelha.
Nunca me sinto pronta para encarar o dia, toda vez acho que mais um problema ocupará meu horário de lazer que uso para me trancar na sala de música. A música me acalma, e além dos livros, é a única coisa que faz eu não perder a sanidade em estar presa dentro das paredes desse castelo. Ao total, sei tocar 8 instrumentos.
Abro a porta devagar e deixo este cômodo bagunçado como está. Com sorte, quando eu voltar, ele já estará arrumado.

Está quase na hora da refeição da tarde. Pelos Deuses, estou muito atrasada.
Ainda preciso passar no salão para cumprimentar meu pai. Então corro por esses corredores extensos, desviando de alguns soldados e criados que me cumprimentam.

Este lugar é tão grande que mesmo depois de 18 anos eu ainda acho que posso me perder. Sigo direto até o fim de um corredor, passando por portas e mais portas que sinceramente nem sei a funcionalidade. Viro à direita, depois à esquerda, e mais uma vez à esquerda; e lá está ela, a grande porta que dá para o salão real. É grande o suficiente para encostar no teto. Possuí ornamentos de ouro e bronze, o símbolo do reino estampado bem ao centro.
Me aproximo e os soldados abrem-na com um pouco de dificuldade.
A vista interior é tão linda quanto a própria porta. Um piso de mármore creme preenche todo o salão. Grandes colunas se encontram dos dois lados, se elevam até o teto, com um lustre gigante preso ao seu centro. As grandes janelas estão abertas iluminando todo ambiente.

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