Capítulo II

52 8 93
                                    

— Beba. — disse Delaney me entregando o copo com o líquido de cor laranja. — Tudo.

— Eu sei. — relutei em colocar o copo na boca. — Faço isso há quase dezoito anos.

Bebo todo o líquido de dentro do copo de uma vez. O gosto amargo invade minha boca, e o líquido desce pela minha garganta como facas afiadas.
O gosto é tão ruim quanto a aparência, mas são sacrifícios que estou disposta a passar para agradar meu pai.
Devolvo o copo para Delaney. Ela coloca de volta na sua mesa de trabalho e se aproxima de mim.

— Como está se sentindo hoje? — Ela pergunta.

— Melhor do que ontem. — Adoro brincar com as palavras dessa forma.

— Isso é reconfortante. — Delaney fala esboçando um sorriso. Não consigo decifrar se é de felicidade ou escárnio.

Delaney é um grande poço de incertezas e dúvidas. Conheço ela há dezessete anos e não sei nada sobre sua vida. Nada além de que sua cor favorita é roxa e que ela é praticante do que chamamos de "Magia das Trevas"

— Pode ficar parada enquanto a examino? — Ela pergunta, impaciente.

Fico como estátua sentada na cadeira. Delaney fecha seus olhos e passa suas mãos bem a frente do meu corpo. Sombras surgindo em seus pulsos.
É tão encantador visto de perto. É como se fosse uma onda que sai da pele dela.
Meu corpo todo sente a força e tenciona sobre a magia que me invade sem pedir permissão. Procura por qualquer errinho que seja, para ser consertado.

— Está feito — Delaney anuncia. — Nos vemos daqui há duas semanas, ok?

— Eu sei. Não precisa me lembrar toda vida.

— E ainda assim você se atrasa? — ela debocha. — Responsabilidade, minha querida.
Responsabilidade.

— Não é hora para sermões. Eu tenho que ir. — Digo. — Até mais.

Delaney não responde.
Eu saio rapidamente do cômodo e a porta se fecha atrás de mim.
Está na hora de encarar a descida.

Já estou voltando para meu quarto. Deveria ter ido treinar, mas a consulta demorou mais que o normal, e os criados já mandaram avisar que o jantar será servido em breve. Não posso comer com roupa de luta.
Entro no quarto, e encontro Hayatin me esperando.

— Princesa. — Ela diz, fazendo uma reverência.

— Bom dia, Hayatin. — Sorrio, e ela devolve o gesto. — O que tem para mim hoje?

— Primeiro, a senhora poderia tomar um banho. Deve estar cansada.

— Você tem razão. — digo sorrindo para Hayatin, que devolve o sorriso. — Estou mesmo precisando de um banho.

Faço isso. Saio depois de um longo tempo.
Poderia ficar horas dentro de uma banheira cheia de água.
É algo tão libertador.
Nunca aprendi a nadar. Não lembro nem se um dia vi água além daquela que uso para tomar banho, ou das fontes espalhadas no terreno do castelo.
A tarde está linda, o sol brilha no céu com uma vontade enriquecedora. Fico um tempo parada em frente à janela, recebo toda a luz. Considero algo purificador.

Vou em direção a Hayatin. Ela está segurando o vestido que usarei para comer hoje. Normalmente não visto algo tão formal, mas já que temos convidados...
O vestido é vermelho, a cor que contrasta muito bem com meus olhos âmbar.
Vai até o chão, e tem uma cauda. Há um grande decote nas costas, e possui alguns cristais que dão um efeito maravilhoso na luz.
Visto-o com ajuda de Hayatin.
A seda descendo e se ajustando perfeitamente ao meu corpo. É tão lindo que seria capaz de usá-lo para sempre.

A Princesa Perdida Onde histórias criam vida. Descubra agora