— Beba. — disse Delaney me entregando o copo com o líquido de cor laranja. — Tudo.
— Eu sei. — relutei em colocar o copo na boca. — Faço isso há quase dezoito anos.
Bebo todo o líquido de dentro do copo de uma vez. O gosto amargo invade minha boca, e o líquido desce pela minha garganta como facas afiadas.
O gosto é tão ruim quanto a aparência, mas são sacrifícios que estou disposta a passar para agradar meu pai.
Devolvo o copo para Delaney. Ela coloca de volta na sua mesa de trabalho e se aproxima de mim.— Como está se sentindo hoje? — Ela pergunta.
— Melhor do que ontem. — Adoro brincar com as palavras dessa forma.
— Isso é reconfortante. — Delaney fala esboçando um sorriso. Não consigo decifrar se é de felicidade ou escárnio.
Delaney é um grande poço de incertezas e dúvidas. Conheço ela há dezessete anos e não sei nada sobre sua vida. Nada além de que sua cor favorita é roxa e que ela é praticante do que chamamos de "Magia das Trevas"
— Pode ficar parada enquanto a examino? — Ela pergunta, impaciente.
Fico como estátua sentada na cadeira. Delaney fecha seus olhos e passa suas mãos bem a frente do meu corpo. Sombras surgindo em seus pulsos.
É tão encantador visto de perto. É como se fosse uma onda que sai da pele dela.
Meu corpo todo sente a força e tenciona sobre a magia que me invade sem pedir permissão. Procura por qualquer errinho que seja, para ser consertado.— Está feito — Delaney anuncia. — Nos vemos daqui há duas semanas, ok?
— Eu sei. Não precisa me lembrar toda vida.
— E ainda assim você se atrasa? — ela debocha. — Responsabilidade, minha querida.
Responsabilidade.— Não é hora para sermões. Eu tenho que ir. — Digo. — Até mais.
Delaney não responde.
Eu saio rapidamente do cômodo e a porta se fecha atrás de mim.
Está na hora de encarar a descida.✥
Já estou voltando para meu quarto. Deveria ter ido treinar, mas a consulta demorou mais que o normal, e os criados já mandaram avisar que o jantar será servido em breve. Não posso comer com roupa de luta.
Entro no quarto, e encontro Hayatin me esperando.— Princesa. — Ela diz, fazendo uma reverência.
— Bom dia, Hayatin. — Sorrio, e ela devolve o gesto. — O que tem para mim hoje?
— Primeiro, a senhora poderia tomar um banho. Deve estar cansada.
— Você tem razão. — digo sorrindo para Hayatin, que devolve o sorriso. — Estou mesmo precisando de um banho.
Faço isso. Saio depois de um longo tempo.
Poderia ficar horas dentro de uma banheira cheia de água.
É algo tão libertador.
Nunca aprendi a nadar. Não lembro nem se um dia vi água além daquela que uso para tomar banho, ou das fontes espalhadas no terreno do castelo.
A tarde está linda, o sol brilha no céu com uma vontade enriquecedora. Fico um tempo parada em frente à janela, recebo toda a luz. Considero algo purificador.Vou em direção a Hayatin. Ela está segurando o vestido que usarei para comer hoje. Normalmente não visto algo tão formal, mas já que temos convidados...
O vestido é vermelho, a cor que contrasta muito bem com meus olhos âmbar.
Vai até o chão, e tem uma cauda. Há um grande decote nas costas, e possui alguns cristais que dão um efeito maravilhoso na luz.
Visto-o com ajuda de Hayatin.
A seda descendo e se ajustando perfeitamente ao meu corpo. É tão lindo que seria capaz de usá-lo para sempre.
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A Princesa Perdida
ФэнтезиVallerye Exmoor nunca se preocupou com o fato de viver sempre dentro dos limites do castelo. Sua vida inteira fora rodeada por coisas que desejava, para assim compensar os anos presa entre aquelas paredes de concreto. Tudo muda quando um acidente e...