Capítulo IV

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Vallerye

Hoje decidi ver o nascer do sol através da janela.

Já fiz isso várias outras vezes antes e sempre fico fascinada com o resplendor do sol ao surgir através do horizonte, em como ele consegue exercer seu trabalho com grande maestria.

Vale a pena acordar mais cedo e perder algumas horas de sono se for para ver essa imagem incrível.
Estou com um vestido de cetim rosa que vai até o joelho. É uma das minhas roupas de dormir.

Visto um roupão por cima do mesmo tecido e o amarro pelo corpo.

Minha próxima consulta é só daqui há alguns dias, o que quer dizer que acordei bem cedo. Então resolvo passar meu tempo até a hora dos treinos com a minha coisa favorita no mundo.

Música.

Poderia expor minha linda imagem de camisola e roupão para todos do palácio enquanto vou para a sala de música, mas não os agraciarei dessa vez.

Usarei o atalho que tem no meu quarto. Uma passagem simples, esquecida no fundo do meu closet. Poucas pessoas sabem sobre ela.

Quando eu tinha oito anos, em uma das muitas aventuras pelo espaço reduzido que chamo de mundo, entrei por ela e saí em outro cômodo do castelo. Estava escuro, as cortinas estavam rasgadas deixando feixes de luz entrar. O chão estava empoeirado. Qualquer pessoa que entrasse ali, passaria novamente pela porta, trancaria, e esqueceria que aquele cômodo existe. Eu, por outro lado, tenho o dom de ver muito em algo que não é nada, e no mesmo instante eu decidi que ali seria meu segundo lugar favorito, e pedi para a sala de música ser transferida para lá.

Ao ser questionada pelo meu pai sobre o motivo de querer a sala de música ali, sendo que já havia uma muito mais bonita, eu apenas disse que via potencial naquele lugar.

Sem insistir mais, ele ordenou que fosse feita a sala de música conforme os meus gostos. Obviamente, para agradar a garota de oito anos que não podia sair daquele castelo por ordens dele, e que não parava de questiona-lo sobre o motivo disto.

Hoje em dia, eu simplesmente aceitei. É triste, mas eu tentei por anos saber o real motivo de eu não poder sair, e sempre recebia respostas incompletas ou desculpinhas baratas. Gosto de pensar que minha segurança é importante para ele, isso faz eu me sentir amada, mesmo nunca tendo escutado ele falar as três palavras para mim.

Você só entende a importância de um Eu te amo quando não o recebe das pessoas que você ama. É como uma lacuna, que nunca mais poderá ser preenchida. Um vazio enraizado no seu coração, que aperta e comprime ele até que tudo desmorone. Até que nada mais faz sentido. Nada mais importa, nem mesmo o porquê de não poder sair.

Então você apenas aceita.

Vou em direção ao meu closet. É quase do tamanho do meu quarto, mas ao invés de haver uma cama, penteadeira e tudo mais, há uma grande quantidade de manequins com vestidos. Prateleiras repletas de tiaras e sapatos. Botas de cano alto e baixo. Uma infinidade de colares, anéis, brincos e pulseiras.
Porém, a única coisa que me importa agora fica bem atrás de uma tiara de rubis em uma prateleira à esquerda.

É uma outra tiara.
Claramente falsa, mas não o bastante para outros além de mim saberem. Puxo-a para cima e a parede gira abrindo uma passagem. É quase mágico, eu diria.

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