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No sábado, eu e meu pai acordamos cedo para levar o meu carro à Oficina Mecânica dos Irmãos Sledd. Eles me prometem que o para-choques é de fácil conserto, mas com o tanto de coisa que têm recebido ultimamente, eles vão precisar de um bom prazo para devolverem meu carro. Meus pais vão ter que me deixar na escola até lá. Quando o mecânico nos informa o orçamento estimado, me sinto estranha sabendo que é o seguro de Jennie que vai pagar por isso.

O resto do dia é dedicado a me arrumar para o baile de volta às aulas. Minha mãe e Minnie ficam piando em cima de mim durante a tarde toda, me bombardeando com ideias sobre como arrumar meu cabelo como se eu fizesse alguma ideia do que elas estão falando. Finalmente, Seulgi fica com pena de mim e arruma um espaço para maquiagem e penteado no porão. Ela pendura o meu terno na porta para “inspiração”, coloca música na caixinha de som e passa um café novo para manter a gente no clima. Minnie se senta ao lado dela, oferecendo opiniões, e eu fico imóvel e em silêncio, deixando minhas irmãs tomarem as rédeas.

Seulgi e Minnie se movimentam sem esforço pelo Mundo das Garotas. Elas falam uma língua própria que nunca entendi, com palavras brilhantes como contorno e bandeau e bralette. É um direito de nascença delas, essa habilidade de ser como qualquer outra garota. Eu nunca tive esse mesmo direito, e entendi isso muito antes de ouvir a palavra gay pela primeira vez.

Talvez esse fosse um dos motivos para eu gostar de Tally: ela não tinha nenhuma reserva em atravessar esses dois mundos. Agora eu precisava encarar ambos sem ela.

Respiro mais facilmente quando Seulgi e Minnie concordam no estilo do meu cabelo e me reasseguram de quão bonita eu vou estar. Minnie me entrega um café e me oferece um sorriso entusiasmado. Seu próprio copo parece grande demais em suas mãozinhas, mas ela toma um gole ensaiado e estala os lábios do mesmo jeito que Seulgi faz.

***

No instante que entro na festa, meu coração dói. Tudo que eu consigo pensar é na Tally e em como essa deveria ter sido nossa festa de volta às aulas perfeita. Fico tão perdida em pensamentos que não presto atenção em metade das coisas que Rosé e Gunther estão falando. Poderia ter um touro selvagem à solta me perseguindo e eu nem notaria.

Falando nisso, lá está Jennie.

Ela dança com um grupo de amigas, e parece genuinamente feliz, mas não me importo. Rosé, enquanto isso, está tentando fingir que não está olhando para o palco a cada segundo. Jisoo está lá em cima, tocando a sua guitarra vermelha, o cabelo trançado resplandecendo com a luz acima dela. Ela está com um vestido, mas ainda usando o moletom de zíper de sempre por cima.

Ao lado da tigela de ponche, Charlotte Pascal está fazendo um espetáculo em servir pequenos copos para os amigos dela. Quando um deles se vira para o lado, vejo um frasco prateado na mão de Charlotte.

Lanço um olhar para Gunther, e aceno com a cabeça para a mesa de bebidas. Ele me observa por um segundo, então ergue a sobrancelha e pergunta:

— Está com sede?

Nós vamos na direção de Charlotte. Antes de conseguirmos falar qualquer coisa, ela diz com o canto da boca:

— É só para as pessoas que votaram em mim.

Gunther me lança um olhar de soslaio.

— Nós dois votamos — mente ele.

— Todo mundo fala isso, e ainda assim aquela vadia está usando a minha coroa. — Ela lança um olhar cheio de opinião para o meu terno. Sinto meu rosto corar. — Faz uma transferência pra minha conta — diz finalmente. — É só colocar como descrição “arrecadação de fundos dos veteranos”. Deem uma volta na mesa e voltem quando essa música acabar.

A Jogada do Amor (Jenlisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora