12. JACINTOS

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Jacintos simbolizam tristeza profunda.

Já era o quarto dia de treinamento e eu ainda não dominava direito todos os feitiços que vovó tentou me ensinar.

A água é considerada o segundo elemento mais difícil de ser controlado, em primeiro lugar está o fogo. Vovó a essa altura já havia me ensinado 19 maneiras de controlar a raiva e não inundar tudo, mas nenhuma deu certo.

Eu não via futuro.

— Se concentre, você está quase lá!

Mas meus pensamentos me levavam a um destino em que eu perdia. Perdia absolutamente tudo, ela, Jimin, minha magia, só sobrava a mim, que sem tudo isso seria apenas uma carcaça sem alma vagando no mundo.

Deixei inundar mais uma vez.

— Não adianta, isso não vai chegar a lugar nenhum. —  Esbravejei.

— Ora, se acalme, filho. Tudo tem seu tempo. — Vovó tentou me acalentar.

— Mas eu não tenho tempo, vó. Se os guardas do Rei chegarem, não vou conseguir proteger ninguém que eu amo. — Disse cheio de raiva. — Eles podem aparecer a qualquer momento. E o que eu tenho certeza, é que não viram diretamente atrás de mim, vão atrás de Jimin primeiro, para tentar me persuadir.

— Jungkook, você precisa se concentrar aqui, ou vai ficar cada vez mais difícil.

Ainda que não estivesse tão fácil controlar a preocupação insuportável, eu queria mais que tudo, proteger as pessoas que eu amo de qualquer tipo de perigo que surgisse. Era o momento de abandonar os pensamentos que me contaminavam e me concentrar no treinamento.

— Jungkook, vem, vamos tentar outra vez! — Vovó me chamou e eu fiquei de pé. — Fortaleça sua mente e pense em momentos bons.

A bacia de água à minha frente chacoalhou por alguns segundos, dando a impressão de que novamente o porão ficaria inundado. Porém dessa vez não.

— É isso! Você está conseguindo! — Vovó exclamou enquanto meu coração palpitava em uma mistura de nervosismo e felicidade. — Aguente firme, mais um pouco.

Mantive meus pensamentos em todos os momentos bons, mas quem predominava em minha mente era Jimin. Como era possível em pouco tempo alguém ser assim tão importante? Talvez meus sentimentos pelo Príncipe teriam sido a base, mas depois que conheci Jimin, o meu Jimin, vi que era por ele que eu realmente tinha me apaixonado desde o começo.

Esses sentimentos eram tão bons que me fizeram criar uma bolha de água maior que o que eu já tinha criado a minha vida toda.

— Eu consegui! — Bradei.

— Conseguiu. Estou orgulhosa! — Vovó disse e se virou para pegar algo em uma cesta. — Mastigue isso, vai ajudar a relaxar.

Ela me ofereceu um pedaço de raiz seca.

Quando estava prestes a sair da casa dela, uma voz inconfundível atingiu meus ouvidos.

— Há quanto tempo. — Era Namjoon. Suspirei ainda de costas, sem coragem para virar. — Olhe pra mim, filho.

Depois de alguns segundos encarando meus pés, me virei e vi o rosto do Mestre que agora exalava decepção. Ele aparentava estar sozinho, não havia portal aberto, nem resquício de companhia.

— Porque fez isso, Jungkook? — Ele perguntou. Eu não consegui responder. — Porque ficou aqui por todo esse tempo? No que achou que isso ia ajudar? Você não tem noção do tanto que eu me esforcei para te manter seguro. Te dei abrigo, amor e carinho quando você estava sozinho, então porque agora sou obrigado a fazer isso?

Minhas mãos já respondiam a todos os estalos de raiva que meu corpo dava, meus olhos já lacrimejavam.

— Isso? O que o senhor quer dizer? — Indaguei.

— Você tem que voltar comigo agora. — Ele ordenou.

— E porque eu faria isso? — Rebati.

— Porque você não é feliz aqui. Eu sei o que é melhor pra você, Jungkook. Vamos pra casa. — Namjoon respondeu.

— Não. — Eu disse, com as mãos cerradas e os dentes forçados. — Você não sabe de nada. O senhor me trata como um filho, mas eu não sou seu filho. Eu não sou feliz em um mundo em que eu não tenho família, não tenho ninguém que me ame, não tenho amigos e vivo trancafiado em um quarto o tempo todo. — Meus pulmões inflavam com rapidez. — O senhor nunca perguntou o que eu queria ou como eu me sentia. Você nunca se importou. Então, não, eu não vou voltar com você.

Finalizei em lágrimas, as quais eu não era o único a derramar.

— Ótimo. — Ele engoliu o choro. — Então não me resta outra escolha. Vou te dar 5 minutos para chegar até ele, se puder, impeça.

Namjoon estalou os dedos e ficou invisível. Com o pensamento ainda embaralhado, me esforcei para ligar os pontos e em um reflexo corri até a casa de Jimin, na esperança de ainda poder impedir qualquer ataque.

Eu corria o mais rápido que podia, diferente de Namjoon eu não podia me teletransportar, então o que me restava era correr.

Respirando com dificuldade, consegui chegar a casa dele.

Não esperei nem um segundo a mais para com um só feitiço estourar a maçaneta da porta. Havia tanta raiva em mim que nem eu podia controlar.

— Não! — Gritei ao ver dois guardas segurarem Jimin. — Soltem ele.

Dessa vez quem estava com os guardas não era Namjoon, mas o Príncipe.

— Você chegou, Plebeu. Sabe, nunca achei que seria trocado por mim mesmo. — Debochou.

— Você não foi trocado, Alteza. Foi substituído! — Expliquei, enquanto Jimin se debatia entre os guardas, tentando se soltar. — É ele quem eu amo e é com ele que eu quero ficar.

O Príncipe arfou um riso.

— E é exatamente por isso que eu vou ficar com ele. Sinta-se à vontade para tentar salvá-lo quando quiser, o palácio não estará de portas abertas. Eu te declaro, a partir de agora, um desertor de Arcker e traidor da coroa. Boa sorte.

Meu coração se quebrou em mil pedaços quando vi os três saírem com Jimin, eu estava de mãos atadas no momento. O que me restou foi chorar, chorei como uma criança enquanto via o portal se fechar.

Sobre meus joelhos eu gritava em uma angústia pela qual eu não lembro ter passado nunca. Eu fiz tanto e mesmo assim não foi o suficiente, mas eu não vou desistir agora, afinal, estamos falando do amor e é por ele que eu vou lutar, mesmo que me custe a vida.

Infusão PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora