Cap. 5: Vergonha de Ser Fraco

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Johnny acordou lentamente, sentindo o calor suave do sol da manhã entrando pelas frestas da janela da cabana. Sua cabeça repousava em algo macio e confortável, o que, por um breve momento, o fez pensar que ainda estava sonhando. Ao abrir os olhos, percebeu que sua cabeça estava deitada no colo de Guaraná, que o observava com um olhar sereno e acolhedor. Ele estava deitado no sofá, e era claro que ela o havia colocado ali enquanto ele dormia, talvez para que se sentisse mais confortável.

A surpresa o fez erguer-se abruptamente, seus olhos se arregalando de vergonha. Os dedos dela acariciavam distraidamente seus cabelos, e ela olhava para frente, tranquila.

Ele se levantou, sem jeito, passando a mão pelo rosto enquanto murmurava:

— Me desculpa... Eu não sei o que aconteceu. Eu... eu não devia ter dormido assim.

Guaraná o observou com um sorriso leve, sem tirar a calma da voz:

— Não tem problema, Johnny. Eu te coloquei no sofá pra você se sentir mais confortável. Você estava exausto, precisava descansar.

Johnny abaixou a cabeça, sentindo um peso no peito, como se estivesse falhando em manter sua postura firme.

— Eu... nunca deixo ninguém me ver assim... fraco.

Ela balançou a cabeça suavemente, ainda com aquele tom calmo e compreensivo:

— Todo mundo precisa de descanso às vezes. Isso não te torna fraco. Eu fiquei aqui pra garantir que você ficasse bem.

Ele piscou, tentando afastar a confusão que sentia. Não estava acostumado a essa ideia de alguém cuidando dele.

— Você... não dormiu?

Guaraná deu de ombros, como se não fosse grande coisa:

— Não. Mas eu tô bem. Agora eu vou trabalhar, volto mais tarde. Você se cuida até eu voltar, tá?

Johnny a observou pegar suas coisas, ainda tentando processar o fato de que ela ficou a noite toda acordada por ele.

— Desculpa... Eu te fiz perder a noite toda.

Ela sorriu, gentil como sempre, enquanto parava à porta:

— Não foi perda de tempo, Johnny. Você precisava descansar. E, às vezes, ser forte é também saber quando parar. Mais tarde a gente conversa mais, e quem sabe você me conta o que tá te incomodando de verdade.

Johnny acenou com a cabeça, sem saber exatamente o que dizer. Ele a observou se levantar e caminhar até a porta, seus passos calmos e seguros, como se soubesse exatamente o que fazer, enquanto ele ainda estava ali, preso em sua própria confusão. Ela deu uma última olhada carinhosa para ele antes de sair, deixando Johnny sozinho com seus pensamentos. Assim que a porta se fechou atrás dela, ele soltou um suspiro pesado, sentindo o peso da noite anterior ainda presente em seus ombros.

No meio da tarde, mais cedo do que o habitual, Johnny ouviu a porta da cabana ranger ao ser aberta. Guaraná entrou, equilibrando várias sacolas de compras em suas mãos. Seus cabelos brancos, sempre soltos e selvagens, estavam agora presos em um coque, revelando as orelhas decoradas com piercings e brincos que brilhavam à luz suave da cabana.

Ela soltou um suspiro, jogando as sacolas sobre o balcão improvisado da cozinha.

— Cheguei mais cedo hoje — disse ela, tirando o casaco com um movimento ágil. — Saí do trabalho e fui ao mercado. E hoje, Johnny, vou te ensinar a se cuidar sozinho, porque, sinceramente, você tá magrelo demais. — Ela olhou para ele, franzindo as sobrancelhas. — Tenho certeza que você não é tão magro assim. Acho que tá desnutrido.

Noites Sombrias: Volume IIOnde histórias criam vida. Descubra agora