Cap. 7: Última Sanidade

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Após alguns dias intensos, Kimberly sentia como se estivesse vivendo um pesadelo interminável. Cada ida à delegacia era marcada por interrogatórios desgastantes. Ela se mantinha firme, negando qualquer ligação com Johnny, negando até conhecê-lo. A polícia, no entanto, não parecia convencida, e cada depoimento que colhia apenas aumentava a pressão. O caso dos canibais no restaurante havia ganhado destaque nacional. Os relatos chocantes das vítimas, incluindo o perturbado Claudio, que, entre lágrimas e horror, confessou ter comido os próprios pais sem saber, estavam por toda a mídia. A situação era sufocante.

Kimberly tentava manter-se fria e calculada durante os depoimentos, mas a sombra de Johnny pairava sobre cada palavra que saía de sua boca. Os detalhes sórdidos do esquema de assassinato e canibalismo no restaurante eram macabros demais para digerir. Os donos do estabelecimento, agora presos, davam testemunhos igualmente aterrorizantes, confessando os crimes e revelando a verdadeira natureza do lugar onde tantas vidas haviam sido ceifadas.

No meio de todo o caos, Guaraná Chan, sempre calma e enigmática, foi até a delegacia para buscar Kimberly. A frente do local estava cercada de repórteres ávidos por qualquer declaração, câmeras piscando em sua direção enquanto elas caminhavam até o carro. Kimberly, exausta e sufocada pela atenção indesejada, manteve-se em silêncio, desviando o olhar das câmeras, evitando qualquer exposição que pudesse complicar ainda mais a situação.

Dentro do carro, Kimberly não conseguiu segurar por muito tempo seu suspiro profundo, como se o ar pesado da delegacia ainda estivesse em seus pulmões. Ela olhou para o painel do carro, mas sua mente estava distante, perdida no labirinto das últimas semanas. Quando finalmente entraram no carro e deixaram os repórteres para trás, Kimberly soltou um longo suspiro de alívio.

— Eles... eles não acreditam em mim. Pensam que eu sei onde ele está, mas... eu nem sei o que fazer, Guaraná Chan.

— Eu conversei com a sua mãe, Kimberly. Ela pediu para te levar de volta para casa hoje. Eu expliquei a ela que sou sua amiga e que vou garantir que você esteja bem.

Kimberly balançou a cabeça levemente, sabendo que a presença de Guaraná Chan sempre a fazia sentir-se um pouco mais segura, mesmo quando tudo parecia desmoronar ao seu redor. Ela apreciava o cuidado de Guaraná, mas algo ainda lhe pesava no peito. Entre a tensão e o silêncio, uma preocupação começou a borbulhar.

— E... o Johnny? Ele não quer que ninguém vá à cabana nessas semanas, certo?

Guaraná Chan assentiu, mantendo os olhos na estrada.

— Sim. Ele deixou bem claro. Ninguém pode ir lá por enquanto. Ele está preocupado e acha que é perigoso qualquer visita nesse momento.

Kimberly olhou pela janela, sentindo um misto de alívio e angústia. Era complicado lidar com a sombra de Johnny, especialmente quando a polícia a cercava de perguntas. Mas saber que ele estava seguro, longe do alcance de qualquer um, era um alívio temporário em meio ao caos.

Dentro do carro, enquanto Guaraná Chan dirigia silenciosamente pelas ruas, Kimberly olhava distraída pela janela, seus pensamentos ainda pesados com tudo que estava acontecendo. Do lado de fora, os flashes dos repórteres ficaram para trás, mas as perguntas incômodas ainda pairavam em sua mente. Guaraná, sempre atenta, quebrou o silêncio com uma pergunta que Kimberly não esperava.

– Kimberly, quem é esse tal de Luis que estão mencionando nas notícias? Ele tem algo a ver com o Johnny?

Kimberly desviou o olhar da janela e olhou para Guaraná Chan com uma expressão cansada, mas ela sabia que não poderia evitar essa conversa. Soltou um suspiro e respondeu com uma voz carregada de resignação.

Noites Sombrias: Volume IIOnde histórias criam vida. Descubra agora