Cap. 6: O Bom e o Mal

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O sol começava a se erguer no horizonte, espalhando uma luz suave e dourada pela cozinha onde Guaraná estava concentrada em preparar o café da manhã. O aroma das especiarias e o tilintar de panelas criavam uma atmosfera aconchegante, mas algo dentro dela ainda fervilhava com a conversa da noite anterior. Enquanto cortava cenouras, sua mente vagava entre os pensamentos sobre Kimberly e os segredos que guardava.

Com um movimento rápido, a faca escorregou e a lâmina cortou sua pele. A dor a pegou de surpresa.

— Ai!

Ela gritou, a expressão de choque se instalando em seu rosto ao olhar para o corte. Mas, antes que pudesse se preocupar, notou que a ferida começou a fechar diante de seus olhos, como se uma energia mágica percorresse seu corpo.

— De novo não... — murmurou para si mesma, sem conseguir processar o que acabara de acontecer.

Johnny, que estava na sala, ouviu seu grito e imediatamente se levantou, preocupado.

— Guaraná, você está bem?

— Sim, estou sim — respondeu ela, a voz um pouco trêmula. — Achei que tivesse cortado.

Ela tentou esconder a verdade por trás de um sorriso forçado, mas seu olhar traía sua inquietação. Johnny a observou por um instante, notando a forma como ela desviava o olhar.

— Você não parece bem.

Incapaz de lidar com a situação e a confusão que se formava dentro dela, Guaraná decidiu mudar de assunto.

— Hoje é meu dia de folga dos dois empregos que trabalho. Preciso sair. Estou atrasada para a casa da minha amiga.

— Amiga? — Johnny levantou uma sobrancelha, a curiosidade se misturando à preocupação. — Quem é?

— Maria Roberta.

O nome soou como um eco do passado, e Guaraná percebeu a mudança na expressão de Johnny. Ele conhecia muito bem esse nome. Maria Roberta era a garota que Johnny havia conhecido em circunstâncias dramáticas, quando invadiu a festa de aniversário dela para salvar sua vida, matando criminosos que a ameaçavam naquela noite fatídica.

— Não gosto desse nome.

— Por quê? — Ela questionou, surpresa.

— Porque Maria... — Ele hesitou, lembranças dolorosas voltando à tona. — Havia uma garota chamada Maria que eu gostava na escola. Ela me humilhou.

— Johnny, não é a mesma Maria — Guaraná tentou acalmá-lo, mas a hesitação ainda pairava no ar. — Você sabe disso.

— Eu sei. — Ele respirou fundo, tentando afastar as memórias. — Vai para a casa da sua amiga, então. Mas tome cuidado.

Ela assentiu, um misto de gratidão e apreensão na expressão. Enquanto se preparava para sair, a sensação de algo oculto ainda pairava entre eles, como um mistério não resolvido, uma sombra que ambos sentiam, mas que ainda não podiam enfrentar.

Enquanto isso, na cantina da escola, o som dos talheres se misturava ao burburinho de conversas animadas. Kimberly estava sentada à mesa, imersa em seus próprios pensamentos enquanto comia, tentando ignorar as risadas e os olhares que circulavam ao seu redor. O almoço deveria ser um momento de paz, mas, como sempre, havia quem quisesse perturbar sua tranquilidade.

De repente, uma garota se aproximou, sorrindo de maneira provocativa. Era Carla, namorada de Cláudio, o garoto que costumava implicar com Kimberly. Sem pensar duas vezes, Carla interrompeu seu momento de paz, fazendo um comentário maldoso.

— Olha só, a estranha está sozinha de novo. Quase dá pena.

A raiva subiu pela garganta de Kimberly como um fogo incontrolável. Em um impulso, ela agarrou o garfo que estava na sua mão e, com um movimento rápido e descontrolado, cravou-o na mão de Carla.

Noites Sombrias: Volume IIOnde histórias criam vida. Descubra agora