Noites Sombrias: Volume II

Cap. 13: Terminar em Primeiro

O céu estava completamente coberto por nuvens densas, criando um cenário cinzento e melancólico sobre Del Castilho. O ar carregava um leve frescor úmido, o que indicava que a chuva poderia cair a qualquer momento. Após a noite intensa que Johnny e Guaraná tinham compartilhado. Deitados sobre os lençóis bagunçados, ainda havia um resquício de eletricidade no ar, uma conexão íntima que parecia mais profunda do que qualquer palavra poderia expressar.

Guaraná foi a primeira a se mexer. Ela deslizou lentamente para fora da cama, sentindo o leve frio do chão sob seus pés enquanto se espreguiçava. Os curtos cabelos pretos caíam soltos, ainda desalinhados pela noite anterior. Ela olhou para Johnny, que dormia profundamente, o peito subindo e descendo com a respiração suave e regular. Ele parecia tranquilo, uma expressão rara em meio à vida caótica que ambos levavam.

Com um pequeno sorriso nos lábios, Guaraná começou a se arrumar. Vestiu o mesmo vestido verde sem alça que usara no dia em que conheceu Johnny - parecia quase um ritual para ela. As luvas vermelhas, sem dedos, já estavam em suas mãos, e a gargantilha, que nunca tirava do pescoço, era um lembrete silencioso de sua longa jornada, da vida imortal que levava e de todas as batalhas que enfrentara ao longo dos séculos.

Guaraná escreveu um bilhete e deixou em cima da mesinha da cabeceira. Ela olhou-se no espelho rapidamente, ajeitou os cabelos curtos e abriu a porta do quarto silenciosamente, sem acordar Johnny. Precisava comprar alguma coisa para eles comerem. A noite havia sido intensa, e eles precisavam de um tempo para se reabastecer - física e mentalmente.

Johnny, ainda adormecido, não ouviu quando ela saiu silenciosamente do quarto. Guaraná desceu pela escada, evitando o elevador para não fazer barulho. O céu lá fora continuava escuro, e as ruas estavam molhadas pela fina garoa que caía. O ambiente parecia estranho e pesado, como se a cidade estivesse esperando por algo ruim.

Ela entrou no carro vermelho, ajeitando-se no banco e ligando o motor. O ronco baixo do carro era um som familiar e reconfortante, algo que a fazia se sentir em controle. Ela decidiu dirigir em direção ao Méier, onde havia um mercadinho que conhecia e que costumava ser discreto.

Mas, enquanto caminhava em direção ao mercado, algo a fez parar. O som de uma televisão ligada num dos estabelecimentos ao lado chamou sua atenção. Ela olhou rapidamente para a tela, e seu coração pulou uma batida. Seu rosto estava estampado na tela, com o título "PROCURADA" em letras garrafais logo abaixo.

Os noticiários falavam da investigação em torno de Guaraná. Ela era procurada por seu envolvimento nas mortes dos sequestradores e bandidos que torturaram Johnny. Além disso, mencionavam um possível relacionamento com "Púrpura", sugerindo que ela havia estado envolvida com Kimberly e Johnny desde o início do massacre escolar e das mortes subsequentes na cabana da Tijuca. Uma filmagem mostrava Guaraná visitando a casa de Púrpura antes de tudo explodir na mídia.

Guaraná sentiu o estômago apertar. Ela sempre soube que seria apenas uma questão de tempo até que fosse reconhecida, mas não esperava que as coisas tivessem chegado tão longe tão rápido. Sua mente acelerava, avaliando as opções, mas tudo foi interrompido quando percebeu as pessoas à sua volta começando a olhar para ela.

Uma mulher que passava com sacolas de compras olhou duas vezes para Guaraná e, em seguida, cochichou algo ao marido. Outros transeuntes também começaram a encará-la, seus sussurros aumentando conforme reconheciam a mulher que estava estampada nas telas.

- É ela... a da televisão - alguém sussurrou.

Guaraná continuou andando, tentando agir normalmente, mas sabia que os olhares estavam ficando cada vez mais intensos. Seu corpo ficou tenso, e seus instintos lhe diziam para voltar ao carro e sair dali o mais rápido possível.