Era madrugada e Rick estava tendo um sonho bizarro. Nele, ele estava em uma reunião com vários conhecidos e o Ériton estava lá, completamente nu. Ériton ria e cantava na mesa, e falava bobagens, mas não queria de jeito nenhum vestir a roupa. Não importava os esforços de Rick, ele só queria ficar nu. Quando começou a tomar o controle do sonho, Rick passou a ensiná-lo a se comportar, a estudar, a se vestir melhor. Ainda sonhando, lhe deu lições sobre o amor e sobre a vida.
Ao acordar, ele se sentou na cama. Respirou fundo e passou a mão pelo rosto. Tinha dormido menos de três horas e ainda estava cansado. Contrariando seu próprio planejamento, ele e Ériton tinham se encontrado em plena terça-feira, e mais uma vez tinham ido parar na sua cama. O cheiro dele ainda estava ali, e o apego dele estava cada vez mais evidente.
O coração de Rick disparou ao lembrar dos momentos bons. Ériton olhando em seus olhos e dizendo que ele podia fazer o que quisesse, ele de bruços beijando sua boca, ele dizendo que tinha sido bom. Ele dizendo que estava com saudades quando entrou em seu carro, e demonstrando de todas as formas que era verdade.
Eles mantinham contato contínuo havia várias semanas, e se encontravam regularmente havia mais de um mês. O envolvimento já era tão sólido que estava difícil dissociar Ériton de sua vida. No entanto, não era essa sua intenção ao conhecê-lo. Ao conhecê-lo depois da tirada das máscaras.
Rick era da opinião que as pessoas precisam se conhecer bem e ter muito em comum antes de assumirem relacionamentos sérios. Gostar de estar junto não é tudo. Suas experiências ruins o alertavam de que as pessoas mascaram seus defeitos nos primeiros tempos. Por exemplo, ele via o esforço de Ériton para ser pontual como lisonjeio, mas também como preocupante. Um dia ele não faria mais esses esforços, porque tinha sua própria natureza. Era despreocupado e desleixado. E como ele, Rick, ficaria?
Não, o melhor seria frear aquela loucura enquanto podia, colocar um limite nos encontros, mesmo que eles fossem muito gostosos. Se não freassem, em breve eles estariam tão envolvidos que teriam que dar satisfação um ao outro de suas vidas, e quem não fizesse isso deixaria o outro magoado.
Ele não queria magoar o Ériton; era um menino fofo que o fazia se sentir bem. Mas não era assumido, não tinha controle da própria vida, não tinha independência financeira nem perspectiva de melhora. Não tinha estudos! Como se relacionar seriamente com alguém que não pode viajar, não pode receber em casa, não pode bancar um programa mais interessante, e pior, que não pode mudar isso num futuro razoável? Impossível! É lindo no começo, mas frustrante. E quanto mais rápido enxergassem a realidade, melhor.
Porém, Rick não queria simplesmente dispensá-lo. Gostava dele. No momento, era seguro dizer que estava louco por ele. Queria encontrar uma forma de não magoar nenhum dos dois, de alimentar os desejos sem criar laços, sem configurar um relacionamento. Ele não queria perder o Ériton, mas também não queria perder a si mesmo no processo de encaixá-lo em sua vida.
Antes de amanhecer, Rick fez seus planos mais difíceis: o que dizer ao Ériton quando ele o chamasse, o que fazer quando sentisse falta dele. A conversa mais séria que teriam que ter se ele cobrasse algo. O primeiro passo seria desfazer a ideia de que eles tinham um compromisso todo fim de semana. De onde tinha saído isso? O segundo passo seria lembrar, tanto a ele quanto ao Ériton, que eles não eram exclusivos um do outro. Era chato, mas necessário. Outro passo seria controlar a si mesmo, seus desejos e ansiedades. Não podia sair correndo para encontrá-lo toda vez que a carência batesse.
"Quando a gente vai se ver?" Ériton permanecia firme em seu propósito de "quanto mais, melhor". A grande preocupação da vida dele era quando e onde. E por quanto tempo.
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Como nasce um coração
Любовные романыDevido a um acidente, Ériton trocou toda a farra de Carnaval por uma tranquila festa à fantasia.