Capítulo 10

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Paco jogou uma coberta para Ériton no colchão no chão. Jogou seu próprio travesseiro lá e se jogou também.

Ériton bocejou. No final do bocejo, ele riu. Ele estava deitado de costas olhando para cima, e se cobriu do peito para baixo.

— Que noite engraçada! Tão boa e tão estranha ao mesmo tempo!

— Pois é. — Paco o olhou. — O que você achou estranho?

— Sei lá. A coincidência da gente estar no mesmo lugar que a festinha do Rick, você ter pedido a "Delícia de Chocolate" sem me falar, e aquele amiguinho dele lá cochichando no pé do ouvido, e ele ter mentido pra mim sobre não querer comemorar...

— Eu admito que a "Delícia de Chocolate" não foi aleatório. Imaginei que eles iam comer bolo e pedi pra nós também. Era covardia.

— Eu amei a surpresa. O pessoalzinho lá não entendeu nada.

— Você tá triste?

— Não sei, acho que não. Podia ser pior. Mas, sei lá, acho que quando eu falar com ele, se ele ainda quiser falar comigo, eu vou ficar triste sim. Mas talvez seja só um mal-entendido. Pode ser um mal-entendido, não pode?

— Há uma chance... — Paco completou entredentes — ...em alguns milhões.

— Eu sei.

— Então vamos dormir. Feche os olhos e não pense em nada. A noite foi legal, se a gente esquecer daquele lá.

Paco estendeu o braço para a cama e puxou outro travesseiro. O colocou sobre o que usava e se deitou sobre os dois. Ériton ainda esperava que ele se levantasse para dormir na própria cama, e quando o viu se cobrindo e se ajeitando para dormir, estranhou.

— Você vai ficar aqui comigo?

— Por que não? É um colchão grande. Às vezes eu durmo nele.

— Tá bom. — Ériton deu de ombros. Se virou para o outro lado, na sua posição favorita. Pouco depois, ele levantou a cabeça. — Você viu meu celular? Eu tinha jogado ele por aqui.

— Não vi. Mas você não vai mexer com celular agora, né? — Paco censurou. — É madrugada já. Só vai te fazer perder o sono.

— É mesmo. Bem... boa noite.

Ele tentou limpar a cabeça de todos os pensamentos, mas não conseguiu dormir logo. Sua respiração estava pesada como se algo a prendesse no peito. Sua cabeça estava confusa como se tivesse ingerido grande quantidade de álcool, e tinha muito tempo que ele não fazia isso.

Quando Ériton acordou, o quarto continuava escuro e calmo. O ventilador fazia um barulho confortável que camuflava os sons que vinham de fora. Paco dormia exatamente como ele se lembrava: enrolado na coberta que tinha roubado. Delicadamente, ele conseguiu puxar uma parte e se cobrir. Se virou para o lado para continuar a dormir. Ele queria muito se levantar e procurar pelo celular, mas o amigo estava em outra dimensão. Ressonava pesadamente.

Paco acordou mais tarde. Com cuidado, se levantou para ir ao banheiro. Sabendo que tinha o triste costume de roubar todas as cobertas, ele cobriu o Ériton. O ventilador trabalhava firme e fazia o quarto ficar friozinho. Depois ele se deitou e voltou a dormir. Os dois só acordaram por volta das onze horas porque tinha barulho lá fora. E porque estavam com fome.

Enquanto se vestia, Ériton procurou pelo celular. O encontrou entre o colchão e a cama, frio por causa do piso. Tinha muitas notificações, mas as primeiras que ele viu foram as de Rick. Algumas ligações perdidas e várias mensagens que ele mandou e apagou. Quatro vezes "mensagem apagada". Ériton ficou ainda mais ansioso.

Como nasce um coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora