Capítulo 2

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Rick examinou as imagens que tinha recolhido das redes sociais dos conhecidos. A sereia aparecia discretamente em algumas fotos, mas nunca era marcada. Ele não era amigo próximo dos seus amigos.

Se ao menos tivesse tido a ideia de fotografar... Rick se perdoava pelo deslize por não saber o que ia rolar no final. Nunca se sabe, aliás. No improviso, não tinha como pensar em tudo. Pedir número? Impossível! Mal tiveram tempo de se olhar. Era beijo e mãos por todos os lados, e não havia tempo a perder.

Foi o melhor beijo da sua vida. Tudo o que ele queria era saber de onde tinha vindo.

Depois de garimpar fotos, Rick começou o trabalho de verdade: reunir informações sobre as pessoas que pôde identificar de imediato e dar uma busca pelos amigos virtuais e os seguidores deles. Separar as pessoas que se encaixavam no perfil, com uma margem de erro bem ampla, afinal, à noite todos os gatos são pardos. Os gatinhos gostosos podem ter muitas pelagens.

Em cerca de meia hora, separou alguns possíveis nomes: Marcos Júnior, Erickson, Dj Danone, Patrick... as opções eram muitas. Seria decepcionante se fosse certas pessoas. Por outro lado, ele ficaria feliz se fosse esse Marcos ou o Erickson...

Mas Rick não saiu animado da pesquisa. Nenhum candidato tinha aquela boca, aqueles lábios, aqueles olhos negros. Aquele pescoço fino, macio... Como materializar a imagem de alguém que se conhece apenas pelo cheiro, o gosto e o calor?

Rick se viu obrigado a descartar os nomes que tinha selecionado, pois nenhum lhe despertava lembranças. Foi triste se "despedir" do Erickson. Parecia uma boa pedida.

A busca não dava resultados, então ele decidiu tomar coragem e pedir ajuda a alguém do seu meio. Eles tinham estado numa festa particular com um número limitado de pessoas, e, a não ser que houvesse alguma mágica que transformasse os convidados em abóbora no fim do evento, encontrar aquela sereia era apenas uma questão de procurar direito.

Ele escolheu uma foto onde a sereia aparecia mais claramente para enviar a uma colega de trabalho. Ellen era uma advogada muito viva e simpática, e bastante ativa nas redes sociais. Totalmente ao contrário dele, mas eram as diferenças que os fazia tão bons. Era a primeira vez que ele pedia ajuda para algo tão pessoal e isso era constrangedor.

Ellen respondeu a mensagem poucos minutos depois, com a alegria e ironia costumeiras.

"Rick! Que milagre o senhor por aqui! Não gostaria de entrar e tomar uma xícara de café?"

"Só quero tomar um minuto do seu tempo".

"Tenho até dois".

"É sobre a festa da semana passada, a das máscaras. Estou precisando encontrar uma pessoa ou, pelo menos, alguma informação sobre ela." Sua seriedade e a palavra "precisando" desencorajaram qualquer tentativa de gracejo, afinal, Rick estava sempre trabalhando. Os amigos nem perdiam tempo lhe apresentando pretendentes. "Será que existe algum tipo de registro das pessoas que entraram lá naquela noite?"

"Duvido que tenha. Mas eu conheço gente da organização. Com um pouco de paciência, você vai encontrar o que está procurando."

"Veja essa foto." Rick a anexou na conversa. "Você reconhece alguém aqui?"

"Bela foto! A Carmem Miranda é a Patrícia, minha best. Só sei que é ela porque nós compramos as fantasias juntas." Pausa. "Deixa eu ampliar aqui. Cadê meus óculos... encontrei. Vamos lá! Esse de melancia é o Paco Fernandes. Sabe, o bonitinho dos ingressos? Ele postou fotos da fantasia dele, com e sem o peitoral de fora. Mas os outros... hmmm... é difícil saber. Eles exageraram nas fantasias esse ano."

Como nasce um coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora