Capítulo 16

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A luz é veloz, sabemos disso. O som também. Mas o pensamento, esse é surpreendente demais. Em menos tempo que um piscar de olhos, milhares de coisas passaram pela cabeça de Rick.

Ele poderia ter dado meia volta, poderia ter falado algo desagradável já que daria para ser ouvido, poderia ter ficado bravo, mas entre todos os pensamentos conflitantes, o que ficou foi o riso do Paco quando ofereceu ajuda. Era óbvio que o Paco estava aprontando alguma.

Com um gosto ruim na boca e o coração abalado, Rick apenas esperou. Ele viu quando Ériton empurrou o amigo e cuspiu no chão.

— Seu maluco!

Paco estava rindo muito. Ele se virou para o Rick limpando a boca.

— Você vai ficar aí?

Ériton avançou em direção ao Rick, parando a uns dois passos de distância. A respiração dele estava irregular e ele parecia nervoso. Tinha acabado de ver o Rick.

— Rick! Eu... tô surpreso.

Rick estendeu a mão.

— Vim te ver no seu trabalho.

Ériton pegou a mão dele. Se aproximou ainda mais e segurou seu rosto. O olhar dele ainda era de quem não estava acreditando.

— Como você conseguiu entrar aqui?

— Foi simples. Pedi ajuda à única pessoa possível.

— Quanto eu custei? Uma cerveja?

— Comprei da mais barata, ainda.

Ériton riu alto.

— A gente tem essa brincadeira idiota. Um dia eu vendi ele por um hamburguer. Ele não esqueceu.

— Percebi. Achei engraçado.

— Ele me agarrou de mentira, tá? A gente não se beija.

— Eu sei. Eu tinha certeza de que ele estava aprontando alguma.

Paco balançou a cabeça em negativa.

— Que lerdeza! Pouquíssimo tempo e eles ficam batendo papo. Oi, quanto tempo! Que surpresa você por aqui! Tudo bem, e você? Será que vai chover hoje? — Ele falou com voz aguda. Abraçou os dois, mais ao Ériton que ao Rick, e beijou a têmpora do amigo.

— Cai fora, Paco. — Ériton falou olhando para o Rick. Ele sorria; o atrevimento de Paco não o incomodava.

Paco beijou o rosto dele demoradamente, segurando-o. E então, num movimento rápido, ele beijou a boca de Rick. Rick se assustou, pois não esperava por aquilo. Levou a mão aos lábios para limpar.

— Vou ficar olhando. — Paco se afastou alguns centímetros.

— Ah, não vai não! — Ériton o pegou pelo ombro e o fez sair do cubículo. — Fica olhando se não vem alguém.

— Dez minutos, viu? — Como por mágica, Paco ficou sério. Passou pela cortina e sumiu.

— E então...? — Ériton olhou para o Rick. Eles ouviam vozes por detrás das cortinas, além dos sons do show que seguia.

— Eu vim te ver. — Rick repetiu. — Eu estava com saudades, e você sempre ocupado...

— Sério?

— Muito.

Ériton já sentia as mãos de Rick em sua cintura. Ele já estava em seus braços. O tempo corria, o som incomodava e não dava pra ficar conversando. Eles se beijaram com urgência. De tão ansiosos, quase bateram os dentes.

Como nasce um coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora