Capítulo 5

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Eram dezesseis horas de domingo e a tarde estava linda: um céu límpido com pequenas nuvens e um sol ameno se preparando para descer no horizonte. Um pequeno grupo ocupou uma mesa de um quiosque; poucos minutos depois, um homem solitário ocupou outra. As pessoas do grupo riam e falavam alto enquanto o homem tomava água de coco e às vezes usava o celular.

Ériton usava óculos escuros emprestados pelo amigo, a camiseta amarelo forte e a mesma bermuda clara que usara na semana anterior. Seus cabelos louros balançavam ao vento, pois ele tinha dispensado o boné. Ao lado, seu amigo Paco conduzia o assunto com duas mulheres, uma jovem desatenta, mas simpática, e uma mulher mais velha, vestida de forma sensual.

Quando a mulher mais falante se levantou e a outra ficou entretida no celular, Paco deu uma cotovelada na costela de Ériton e apontou com o polegar:

— Homem negro, uns oitenta quilos muito bem distribuídos, as mangas da camisa dobradas pra dar aquele efeito nos bíceps... você conhece?

Ériton se fez de desentendido, com o canudo na boca.

— Vi uma vez, no shopping.

— E o que ele tava fazendo lá?

— Estava parado na minha frente olhando pra minha cara como se eu fosse um fantasma.

— Hmmm... por que você acha que ele tá aqui agora?

— Sei lá! Eu que não vou perguntar.

— Ele tá olhando pra você desde que sentou ali. Te olhando e te secando.

— Disfarça, caralho! Ele vai saber que estamos falando dele se você ficar olhando.

— Quem? — A amiga distraída levantou a cabeça e olhou em volta.

— Nada não — Ériton desconversou.

— Uma pessoa que deixou o Erinho chateado e tá aqui agora.

— Nada não! — ele reforçou. — Conversa do Paco. Né ninguém não.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos. A mulher que tinha saído voltou, mas ficou de pé esperando pelo Paco.

— Que que eu faço? — Paco encarou o amigo, agora sério. Os dois estavam sozinhos na mesa, pois a outra mulher também se levantou. — Queria dar um rolê, mas sem te deixar pra trás e sem te atrapalhar os esquemas. Me diz o que você pretende pro resto da tarde.

Ériton ia responder, mas ponderou. Sorriu para o amigo.

— Eu tô com zero esquemas, mas eu já saquei qual é o seu rolê. Vai atrás da coroa que eu me viro pra ir embora. Não quero ficar de vela pra vocês.

— Que vela? Não tenho nada com a Fran, ela só gosta de mim como companhia. Ia dar nada se você fosse com a gente. Ia ser até divertido. — Paco piscou, se fazendo entender. — A gente já fez isso antes.

— Nem vem! Pode ir que eu fico de boas aqui.

— Eu não vou te deixar para trás se você não tá a fim de papo com aquele ali. Que ele tá só esperando meu voo pra vir pousar aqui, viu?

— Se for isso, eu vou ficar e ouvir o que ele tá querendo falar. Deve ser nada demais.

— Ok. Tô indo ali pagar a conta.

Não deu outra. Mal Ériton ficou sozinho, o homem da mesa ao lado se levantou. Se aproximou com cautela.

Rick não estava preocupado em disfarçar sua presença. Ele queria mesmo que Ériton o visse e soubesse por que razão ele os tinha seguido.

Como nasce um coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora