Capítulo 20

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O domingo amanheceu chuvoso, o que poderia chatear quem estivesse a fim de aproveitar a praia. Mas Rick dormia profundamente aproveitando o delicioso clima, e quando acordou, não se incomodou nem um pouco. Todo o seu desejo por água salgada tinha sido saciado no dia anterior, e também à noite, quando os dois desceram para a praia.

Ériton tinha pedido batata frita com frango para viagem e levado para a praia. Eles não eram o único casal lá; aquele era um programa comum para namorados que não queriam ou não podiam gastar dinheiro. Tinha lua, no começo. As nuvens a cobriram em pouco tempo, mas a noite continuou linda. Eles se sentaram na areia e dividiram a comida e o refrigerante. Depois caminharam lado a lado no escuro e se beijaram ao som do mar e do vento.

— Viu como pobre também se diverte? — Ériton tinha dito entre risos. Eles estavam sentados, apoiados nas costas um do outro.

— Na verdade, nós somos muito sortudos por ter o mar tão perto. Mas eu estava pensando em outra coisa.

— No que?

— Que isso aqui tá muito romântico.

— Pior que é. Romântico demais. E aí? Vai dizer agora que tá indo rápido demais e não era o que você queria?

— Não. Era o que eu queria sim. — Ele tocou a mão delicadamente sobre a mão de Ériton depois de esperar e não ouvir nenhuma resposta. — E você? Queria? Antes de eu te convidar, antes de eu ir atrás de você no Inferninho, você queria?

Ériton pensou antes de responder. Inclinou um pouco mais a cabeça de forma que seu rosto tocou no rosto de Rick.

— Eu tô curtindo. Tô curtindo você, o momento, tudo. Acho que eu queria sim, mas eu meio que já tinha desistido da gente ficar assim. Eu já tava botando a bola pra jogo de novo.

— Eu sei. Já tinha alguém?

— Não. Quer dizer, se procurar bem, sempre tem, mas não era por isso. Eu achava que nossos momentos legais já tinha acabado e a gente ia ficar naquela enrolação, igual outro dia. Fala a verdade: você não achou isso?

— Talvez. Mas achei que valia a pena tentar de novo, primeiro porque eu não gosto de perder, e segundo porque... aqueles nossos beijos...

— É... sempre foi bom. E a gente ficou de novo e foi bom também. Até melhor.

— E ainda temos o resto da noite.

— É... — O som do riso de Ériton deixava claro no que ele estava pensando. — O resto da noite. Só quero ver se você vai aguentar.

— É impressão minha ou você está me desafiando?

— Eu tô. Vamos ver quem pede água primeiro, queridinho!

..

Rick espreguiçou-se. Seu corpo estava relaxado, mas ele sentia os pequenos incômodos do tal desafio. Ele se lembrava do quanto Ériton o tinha "castigado" por provocá-lo, e do quanto ele tinha gostado disso. E agora ele estava dolorido e sozinho na cama. Não tinha visto nem ouvido Ériton se levantar.

Ele se vestiu, abriu a porta e acessou a sacada. Sorriu ao ver tudo deserto, cinzento e molhado lá fora. Era uma ótima manhã para continuar na cama. Ele tinha assuntos a resolver mais tarde, mas tinha se programado para ficar livre até depois do almoço. Ériton devia estar no banheiro, ou talvez tivesse saído um pouco. A bolsa dele e o moletom continuavam ali.

Rick fez alguns exercícios para relaxar e passar o tempo. Resistiu bravamente à tentação de ligar o celular. Se o ligasse, teria que falar com alguém, e dependendo do assunto, teria que voltar para a civilização.

Como nasce um coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora