Meu melhor amigo me odeia porque sou complicado

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no crepuscular da noite
percebo minha infinita solidão
em cada detalhe e desastre pessoal
que me dou na prece de uma liberdade que não é minha
cuspo nas vocações mecanizadas dos seres

o escuro é oxigênio pulsante na retina
é boêmio é convite que aceito e apareço
sou estranho quando amanhece
porquê o dia faz doer meus olhos

o café aflora minha ansiedade
e os comprimidos desceram com doses de barcardi na última noite
encho o corpo até a borda
é quente fumaça transborda
suja o azulejo desbotado do piso do quarto

passo o pé numa falha e preguiçosa tentativa de limpá-lo

depois do café da ansiedade antropofágica do pão nosso de cada agonia da playlist de Mac Miller
finalizo minha manhã

meu melhor amigo me odeia e me acha tóxico
diz que sou um cara complicado um caso perdido
ele não me entende mas se esforça para entender
será que ele sabe que me mantém vivo?

olho meu celular: zero mensagem
penso "morrerei sem um bom dia"
no suspiro de uma lesma

minutos viram horas
quinze e quarenta e sete:
não almocei
sou negligente com minha saúde

vou para a cama
me deito numa tentativa de dormir e encurtar o dia
falho

dia sem maconha é horrível

olho às horas novamente: dezoito e vinte e seis
o sol foi embora mais uma vez
o escuro volta a ser convite
que aceito o repetitivo erro
de matar a solidão: viver

tem dias que é melhor nem nascer.

[escrito na inquietação das horas que antecedem a noite e as escolhas erradas que faço a mim mesmo]

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⏰ Última atualização: Sep 11, 2022 ⏰

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