Capítulo 7

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A manhã começou com a lareira aquecida como nunca depois que Harry lançou dentro dela um berrador recém-aberto da Sr.Wesley. "Me enviar um berrador! O nervo dela..." indignou-se, antes de bebericar um pouco do suco de abóboras que Dobby preparara para aquela manhã. Logo juntaram-se a ela as cartas de Hermione e Ronald, com pouco mais que um revirar de olhos de sua parte. Ela havia, mais por curiosidade que interesse, aberto ambas as cartas. Foi um tempo inútil, concluiu quando chegara na metade de uma antes de pular para a outra que ela não lera, apenas passara um olho escanceando o conteúdo. Nenhuma surpresa a atingiu ao constatar que o conteúdo eram variações de ordens e balbuciações sobre "Dumbledore disse que..." e "você deveria se envergonhar de não nos dizer..." ou, a que quase a fez rolar de rir ao ver na carta de Hermione: "Somos seus amigos, você tem que nos dizer isso! Você tem que fazer aquilo!"

-Que piada. - bufou, antes de se servir de mais um pedaço de bolo de vulcão. - Agora eu sou sua amiga, ãhn.... Agora eu tenho que falar meus segredos, sim?! Piada! É isso que tudo isso é! Não levaria o meio dia para o diretor vir aqui e me arrastar pra qualquer inferno de lugar que ele quisesse, me desse sermões cheios de meias verdades e um quinto de palavras meio sinceras, fosse embora com suas vestes brilhantes ofensivas e me deixasse no escuro "para o bem maior!" de novo! - desdenhou, sacudindo a faca de manteiga em indignação, murmurando para o retrato de uma avó claramente insatisfeita com a falta de decoro a mesa. -Que se lasquem. Amigos...! humft! Tá mais para aprendizes de espiões do velho...

Harry largou o pote de bolo pela metade na mesa. De repente, não sentia mais fome. A ousadia dos Wesley realmente lhe embrulhara o estômago. A percepção da completa perda de seus únicos amigos próximos revirara seus entranhas. E pela primeira vez, ela achou que podia odiar Dumbledore.  

Ela já se indignou com suas ações, é verdade, já se irritou profundamente com ele, já ficou enervada com decisões que ele tomava para si como se dele fosse o direito quando era da vida dela que eles estavam falando. E desde que ele a ignorou ao ponto de que ela decidiu que não queria nada próximo a ele e tomou as rédeas da situação, conforme aprendia de verdade o mundo que adentrara, ela desejava cada vez mais e mais distância entre os dois. Mas dessa vez, ao contemplar a perda dos únicos amigos que ela tivera em toda a sua vida, se é que em algum momento foram amigos e verdade, ao pensar na possibilidade de perder ainda mais do que já lhe fora negado, ela achou pela primeira vez que de fato poderia odiá-lo.

"Mas talvez..." ela congelou, em meio a sua tarefa de se livrar dos farelos no seu colo. "Talvez as cartas tenham servido para algo." constatou, lembrando-se que havia algo a ser feito. Algo que ela adiara a alguns dias desde que começara a compreender pela primeira vez as leis mágicas nas aulas com sua avó. Mas a coragem de ter de encarar uma traição tão profunda como aquela sempre a fez jogar a ideia pro fundo de sua mente. E talvez fosse isso que a impedia de odiar ativamente Alvo, não é? A possibilidade de ainda ter algo que em sua vida que ele não tocara. Ainda.

-É hora de decidir, não é? - sussurrou para si mesma antes de assentir com a cabeça, reunindo coragem. Ela escreveria uma carta, e pediria para Dobby entregá-la na recém descoberta sede de reuniões de Dumbledore onde todos se escondiam, sim. Mas não aos Wesley. Para Sírios. "Estava na hora de chamar o Tribunal de Sangue dos Black" pensou, olhando seu anel de Lady Interina. Ela devia ser a herdeira, mas com o Lorde de direito se recusando a assumir seu local de direito... Bom, ela não reclamaria. O Tribunal só havia sido requerido três vezes na história da família segundo Dorea. Ela não recorreria a isso em uma situação comum, mas ela precisa ter certeza. Não havia margem de erro aberta sobre a possibilidade da lealdade de qualquer um que se aproximasse dela. Não mais. Não depois de ser traída pelos mais íntimos. 

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O Tribunal exigia muitas condições e não era tomado de ânimo leve pelos Black. Toujours pur era seu lema, afinal. E não era apenas sobre pureza de sangue quanto a presença dos trouxas na linhagem. Era pureza total. A pureza verdadeira em magia, segundo Dorea. O que eles mais prezavam era o sangue mágico advindo de Lady Magic. E portanto, era encima do sangue mágico que o tribunal era concedido. 

Assinado, Lorde Slytherin - Harry Potter/Tom RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora