Stede sabia que sua volta ao Revenge não seria tão simples, muito menos calma. Mas nunca pode imaginar que seria recebido da maneira que foi, que ouviria as notícias que ouviu, que viria o que viu. Eram coisas demais para sua mente processar, sua cabeça pesava e doía. Precisava de um minuto de silêncio, um minuto para entender todas as informações que lhe bombardeavam. Nunca sentiu dor parecida com a que estava sentindo no momento. Era sufocante, esmagava todos os pedaços de si e faziam com que ele se sentisse pequeno e frágil.
No começo, admitiu que pensou que, talvez, algum problema houvesse acontecido e Edward não havia conseguido chegar na ilha que a tripulação estava. Mas naquele momento, encarando os olhos que um dia foram calorosos e confortáveis, sabia exatamente qual era o problema. Ou melhor, quem era o problema. Edward não era mais o homem encantador, extravagante e sensível que Stede havia conhecido e se apaixonado, aquele não era o Edward que fazia com que o mundo parecesse melhor de se viver. Não era mais o Edward que o fez querer voltar para o mar, muito menos aquele que havia contado para Mary quando havia dito que encontrou o amor.
Os olhos de Edward perderam todo o conforto que um dia Stede sentiu quando quis chorar, não tinham mais o encanto que o fazia ter uma imensa vontade de sorrir e não tinha mais o calor e brilho que poderia facilmente encantar qualquer um que os visse da maneira correta. Agora, eram apenas olhos. Olhos vazios, frios e escuros.
Os olhos de Stede, que haviam felicidade, apesar de toda a ansiedade há momentos atrás, estavam tristes, marejados e, talvez um pouco, apavorados. Não era fácil processar aquilo que via, o choro era como uma tempestade silenciosa. As pessoas que olhavam de fora não sabiam dizer ao certo o que havia naqueles olhos. Se assemelhava à dor de perceber que, talvez, o amor que sentiu fosse uma farsa, ao desespero de, mais uma vez, não se sentir encaixado, ao medo de ter que retomar ao início de tudo.
Estavam ali, parados e se encarando. Segundos viravam horas. Stede se aproximou pondo as mãos no rosto de Edward, tendo a certeza de sua mão se sujaria com a maldita tinta preta, o encarava os olhos do pirata à procura de resquícios do homem que amou. Ele tinha que estar ali, em algum lugar. Sua mente estava nublada, seu corpo estava pesado e nada mais parecia real, queria que acordasse do sonho, queria que aquilo não fosse real, implorou silenciosamente para que aquilo fosse um tipo de piada. Nenhuma risada apareceu.
Seu pulso foi agarrado pelo homem à sua frente com tanta força que sentiu que poderia ser quebrado ali mesmo. E foi arremessado para trás, tropeçou entre as madeiras do barco e caiu de uma vez só.
— Edward? Ed? Você ainda está aí? O meu Ed, ainda está aí? — a voz de Stede saiu quase em um sussurro, estava reunindo todas as forças que tinha para falar sem se permitir chorar mais do que já estava — Eu sei que você está aí. Eu também sei que eu estou errado.
— Você sabe? Você tem certeza que sabe? Esse estupido, que você diz ter sido seu, nunca existiu, Stede Idiota Bonnet. E não se atreva a me chamar por "Ed" novamente, para você é Capitão Blackbeard. Você nunca vai cansar de ser feito de palhaço por todo mundo? De ser um motivo de piada?
Stede sabia mais do que ninguém como palavras podiam cortar e machucar, cresceu sendo machucado por elas. Mesmo que tentasse se blindar e ignorar, sempre doíam, sempre causavam algum estrago. Nunca imaginou que em algum dia de sua vida, teria que se blindar para as palavras de Edward. Nunca imaginou que aquele homem poderia ser capaz de machuca-ló como foi machucado antes.
— Ed, por favor. Me escuta, eu prometo que tudo que eu fiz foi pensando no nosso melhor.
— No nosso melhor? — a voz do homem estava ficando cada vez mais alterada e agressiva, ninguém da tripulação se atrevia a dar um pio, até mesmo as respirações pareciam ser silenciosas — Desde quando abandonar alguém é pensar no melhor delas? Desde quando ferir elas é pensar no melhor deles? E desde quando você pensa no melhor de alguém? Vamos ser honestos, Stede. Você não se importa com ninguém que não seja você mesmo.
Se pudesse escolher um momento para dizer aonde tudo começou a perder o sentindo, diria que foi nesse momento. Não conseguia mais associar o falso e o real. As palavras tendem a doer mais do qualquer outra coisa. Se sentia como uma criança novamente, todos os seus pesadelos estavam vindo à tona. Nenhuma situação que já viveu pareceu tão ruim quanto essa. Ter o sangue de dois homens em "suas" mãos não lhe pareciam mais dolorosos. Havia aprendido da pior maneira sobre como o amor pode curar, salvar e trazer conforto, mas também poderia trazer dor, insegurança e medo. Não havia menos de uma semana que havia beijado Ed em frente a praia após ouvir a declaração mais linda do mundo e agora estava caído no chão o olhando esperando tudo menos um ato de piedade ou carinho.
— Você não é o Edward que me fez sentir amor. Eu sei que você não é. Não foi por você que eu me apaixonei. Você mudou, mas eu não te culpo. Eu errei com você.
— Stede, eu cansei de esperar para ser amado. Eu não preciso do seu amor, ou seja lá o que você quer. Eu tenho tudo e todos a meu favor quando e como eu quiser. Eu tenho poder. E você não.
Antes mesmo de poder falar, sentiu algo pontiagudo e gelado em seu peito. Sentiu seu corpo congelar por inteiro, não conseguia acreditar, não fazia sentido. Edward não teria coragem de matá-lo. Ou teria?
— Por consideração, ao que... tivemos juntos — o tom da voz se misturava com remorso e nojo, ele nunca havia sido tão frio com o loiro, nem ao menos quando se conheceram ou quando planejava o matar — Suma e nunca mais apareça na minha frente ou morra aqui, como estupido que você é.
Stede se levantou, lentamente sendo acompanho pela espada que lhe espetava um pouco. Encarou os olhos de Edward mais uma vez, com resquícios de esperança de poder entender a piada sem graça alguma. Mas aquilo não era uma piada, não era uma brincadeira de boas-vindas.
— Eu vou, Edward. Mas tenha certeza. De que, ninguém aqui sente qualquer coisa por você que não seja alimentada por medo. Com exceção do Izzy, ele adora te ver no fundo do poço. — o ego dele havia crescido por alguns instantes e não se permitiu pensar antes de falar — Você pode pensar ser você quem manda no Izzy como uma cadelinha, mas é ele quem manda em você e te faz de marionete, Capitão Blackbeard. — Aquela foi a vez de Stede de ser frio, mesmo que não quisesse. Se permitiu ser corajoso ao menos uma vez.
E ele saiu. Saiu de cabeça erguida, não queria demonstrar fraqueza no último momento. Não podia se deixar enfraquecer, não se permitiu nem ao menos derramar mais uma única lagrima enquanto saia do barco junto ao que sobrou da tripulação que estava náufraga e Jim, que se recusou a continuar seguindo ordens de Edward.
No pequeno barco que Stede havia pego para voltar, a tripulação ficou. E foi ali que ele desabou, como nunca havia desabado antes. Stede havia perdido alguém que amava mais uma vez. Por sua culpa, por se sabotar sempre que estava feliz. Poderia ter uma segunda chance com Edward no futuro, mas aquilo era improvável. Se algum dia, os sete mares desejasse, eles se encontrariam mais uma vez e, talvez, pudessem ser felizes juntos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
who are you?
Hayran KurguApós voltar para o Revenge, Stede não conseguia mais reconhecer Edward. Aquele não era o homem que se apaixonou um dia, era impossível reconhecer Edward. Aquele definitivamente não era o homem que havia lhe encantado e feito com que ele abandonasse...