Capítulo 10 - Baku (Azerbaijão)

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Charles

Desde o GP de Mônaco que eu não consigo tirar aqueles três palavras ditas por Emi.

"Eu te amo"

Já dissemos muito isso um para o outro, mas dessa vez foi diferente, não sei explicar o porquê, mas fico repetindo aquele momento em minha mente mais vezes do que eu gostaria.

Daniel havia chamado eu e Emi para irmos ao quarto, parecia que ele tinha alguma coisa para nos contar.

- Desembucha. - foi a primeira coisa que Emi falou antes de se sentar na minha frente.

- Eu e Heidi estamos juntos. - em pura sincronia, eu e Emi gritamos e pulamos para abraçar Daniel.

- Desde quando? - foi a primeira coisa que perguntei ao meu amigo.

- Desde Mônaco.

- Ganhei. - Emi gritou no meu ouvido, fazendo uma dança ridícula em comemoração.

- Ganhou? - o rosto de Daniel era pura confusão - Ganhou o que?

- Não fica bravo, mas apostamos sobre sua vida amorosa. - falei em tom baixo, ao mesmo tempo que ofereci um pedaço de chocolate.

- E eu ganhei, porque disse que até Mônaco vocês irão desenrolar e Charles falou que seria depois. - Emi estava tão feliz que parecia uma criança que havia acabado de ganhar um doce.

- Vocês são ótimos amigos, viu? - Daniel parecia calmo, ele sabia que íamos fazer algo do tipo - Então foi por isso que insistiu para que eu a chamasse para sair? - nossa amiga apenas concordou com a cabeça - George sabia disso?

- Jamais. - foi uma resposta simples, simples até demais para Emi.

- E vocês, ainda juntos? - não consegui segurar a língua, ela foi mais rápido que meus pensamentos.

- Na verdade, acabei de vir do quarto dele. Acabamos com o que quer que tínhamos. - a fala de Emi pegou tanto eu, quanto Daniel, de surpresa - Não me olhem assim, vocês nem gostavam de nós juntos.

Por motivos de paz, decidimos encerrar o assunto e ir para o paddock, pois em breve iriam começar os treinos livres para nós.

Eu estava decolando na pista, totalmente conectado ao carro, quando vejo uma bola de fogo surgir pertos dos boxes e, imediatamente, meu engenheiro informa pelo rádio que houve uma explosão.

- Qual equipe foi? - a primeira coisa que se passou na minha cabeça foi se Emi estava bem.

- Mercedes. - meu engenheiro informou de prontidão - Ainda não temos notícias concretas.

- Me fala que ela não está lá dentro, por favor. - minha voz saiu dura, pareciam facas rasgando minha garganta.

- Charles. - meu engenheiro parecia estar se segurando - Parece que ela não conseguiu sair a tempo.

Nesse momento, desconectei meu rádio e acelerei o carro como nunca tinha feito antes. Cheguei na área de pit stop e pulei do carro, logo avistando Toto Wolff e indo em sua direção.

- Cadê ela? - minha voz saiu trêmula e eu fazia um esforço imenso para não cair em lágrimas.

- Lá dentro. - Toto estava com os olhos marejados, falou que tentou tirar o máximo de pessoas e Emi fazia o mesmo, mas não havia voltado.

Sem nem pensar nas consequências, entrei no box da Mercedes e comecei a gritar seu nome, pouco me importava o que eu poderia enfrentar naquele lugar, eu só precisava encontrar Emi.

Fui adentrando cada vez mais o ambiente e comecei a gritar o nome dela, na esperança de que me ouvisse e respondesse.

- Emilly. - gritei o mais alto que pude e em troca escutei meu nome logo a minha frente.

Caminhei mais rápido e me deparei com um corpo encolhido, vestindo um macacão de piloto com as mãos tampando o rosto, chamei seu nome mais uma vez e aqueles olhos grudaram em mim. Era ela.

Sem pensar nem um segundo, cheguei perto dela e a olhei, tentando dar uma geral para ver se estava tudo certo, se não havia sangue, queimaduras ou qualquer coisa do tipo.

- Consegue subir nas minhas costas? - ela concordou com a cabeça e logo a coloquei na minhas costas - Passe seu braços por cima do ombro e cruze eles, deixa que com o resto eu me preocupo. - a sentir se agarrar em mim e sai o mais rápido possível do ambiente em chamas.

Ao chegar do lado de fora, Toto veio em minha direção, pegando Emi em seu colo e foi o tempo suficiente para ela desmaiar. O vi correndo em direção à ambulância, mas eu estava em choque demais para ir atrás. Senti uma mão no ombro, me fazendo ter um sobressalto.

- Vem, eu te levo para o hospital. - George parecia calmo demais para toda aquela situação, mas o segui.

Entrei no seu carro, no banco do passageiro, houvi o motor ligar e me concentrei na paisagem embaçada que passava pela janela. Nesse momento, me permiti sentir tudo, toda a angústia, tristeza, desespero e medo, medo de perder Emilly, e foi nesse momento que não consegui conter as malditas lágrimas. Cai em um choro silencioso, mas longo, longo demais.

- Você ama ela, né cara? - a voz de George era passiva, tranquila e sincera.

- Devo me sentir um idiota por perceber isso só agora? - minha voz saiu melancólica e embargada por causa do choro.

- Não, jamais. - ele me olhou rapidamente e voltou sua atenção à estrada - Emi ainda não assumiu nem para ela mesma que ama você.

- Ela me ama? - eu estava surpreso, era a primeira vez que eu ouvia isso - Mas e vocês?

- Tenho certeza que ela comentou que o que tínhamos era apenas uma diversão. - George deu um pequeno sorriso - Só dois idiotas, iguais a vocês, que não percebem o quão apaixonados estão - o vi fazer uma pausa - Daríamos dado certo se não tivéssemos apaixonados por outras pessoas. Fica tranquilo. - rimos da sua frase, pois, por mais que lutasse contra, os dois realmente teriam dado certo.

As palavras de George entraram em minha mente e as peças começaram a se juntar. Sim, eu amo Emilly Wolff. A amo desde sempre, desde a nossa primeira troca de olhares, desde que fiquei com medo dela ir embora e agora quando achei que a havia perdido.

Chegamos no hospital e logo nos indicaram o quarto em que ela estava. Toto nos informou que ela estava bem, apenas tinha inalado um pouco de fumaça, mas não havia se ferido gravemente, tendo apenas um braço quebrado.

Assegurei o pai de Emi que ficaria do lado dela para que ele pudesse tomar um banho, descansar e ligar para a família. Haviam nos informado que a corrida foi cancelada, por questões óbvias, então eu poderia ficar com ela o tempo que fosse preciso.

Me posicionei ao lado da cama de Emi, fazendo com que nossas mãos ficassem entrelaçadas o tempo inteiro. Ela estava dormindo há algumas horas e eu queria estar lá quando ela acordasse.

Era quase noite quando sentir meus dedos serem pressionados e logo me virei para o rosto de Emi, que lutava para abrir os olhos. Deixei que ela levasse o tempo que fosse para acostumar com a luz.

- Quem é você? - foi a primeira coisa que ela falou assim que estava com os olhos totalmente abertos e com uma carranca confusa em seu rosto.

Aquelas palavras acertaram a boca do meu estômago, o quarto girava ao meu redor e minha visão estava turva, mas tudo passou quando a vi rir da minha cara.

- Isso não é coisa que se faça, idiota. - nós dois caímos na gargalhada juntos.

- Mas foi inexplicável ver sua cara de idiota. - sua voz saiu firme e risonha - Eu nunca te esqueceria, tonto.

- Como você está? - perguntei ainda com nossas mãos entrelaçadas e com a outra acariciando seu rosto.

- Cansada, assustada, perdida. - seus olhos corriam pelo quarto, mas pousaram em meu rostos antes dela completar - Mas bem e feliz por ter você aqui.

- Eu sempre vou estar aqui, belle. - disse chegando mais perto e depositando um beijo em sua testa.

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