Capitulo 5

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Atordoado e suando frio. Bart usa uma estante como apoio para levantar-se. Olhando em sua volta... É, parece que tudo acabou... Mas o que aconteceu? – Assustado, averigua mais uma vez os corpos estirados no chão. Todavia seus olhos estão focados em outra coisa: As câmeras de segurança. Sem ao menos saber se a atitude que estava tomando era a correta, Bart caminha limpando as lágrimas e o suor em direção ao depósito. Pega seu notebook, liga-o. Ao acessar o aplicativo da câmera, exclui todo e qualquer vídeo que ela gravara.

            A mochila de Bart já está em suas costas enquanto ele percorre a pé o caminho que o levará até a casa de Nora, a sua namorada. Talvez lá ele encontre ajuda. A casa de Nora fica a uma distância considerável da loja de brinquedos. Com medo de ser visto por alguém zanzando por ai na madrugada, Bart cobre-se com o capuz de sua jaqueta e escolhe as ruas mais desertas possíveis e a todo o momento olhando para trás.                                    

Bart começa a sentir cada vez mais frio e seus óculos ficam embaçados por causa da umidade e o frio da noite. O que acabara de acontecer? O que foi que eu fiz? Eu não consigo acreditar... Por todo o caminho trilhado até a casa de Nora, sentimentos de arrependimento e medo tomaram Bart. Uma confusão também tomou conta de sua mente e flashes do caos de minutos antes.   Nora sempre morou afastada do centro comercial de Videiras, sua casa se localiza próximo à porta da cidade, em uma área periférica e rural, onde grande parte de produção de uvas da cidade se concentra. De longe Bart pode enxergar a casa de Nora. Uma casa feita de madeira, cheia de janelas e alta. A casa de nora é cercada por árvores formosas. Antigamente, aquela casa fora uma hospedaria muito bonita e popular, entretanto, conforme o turismo da cidade fora crescendo, os turistas começaram a ter preferências por hotéis no centro de Videiras.

Acostumado a ir até a casa de Nora de bicicleta diariamente, Bart já achava o caminho curto. Mas naquele estado físico e mental, parece que percorra uma distância incalculável. Um pequeno jardim com um portão enferrujado separava a casa de Nora da estrada esburacada.

Recuperando o fôlego perdido, Bart põem suas mãos na grade enferrujada e a atravessa com apenas um salto. Limpa suas mãos sujas de ferrugem em sua calça jeans e caminha para baixo da janela onde se localiza o quarto de Nora. Uma luz azulada atravessa o vidro deste quarto. Em meio ao gramado não cuidado do jardim, Bart apanha algumas pedras pequenas e começa atirar nos vidros do quarto de Nora.

A janela se abre e uma moça de cabelos curtos olha através do vidro. Nora. Bart faz sinal com as mãos, mas Nora franze as sobrancelhas e pensa "O que ele está fazendo aqui a essa hora?'' – Talvez Nora tenha pensado alto de mais, porque logo em seguida Bart responde.

— Eu posso entrar? Por favor, preciso de ajuda... — Nora some da janela e em alguns instantes aparece na grande porta principal.

— Que bom te ver! – Ela diz descendo as escadas de madeira em direção a Bart. Eles se abraçam e Nora percebe a tensão que acompanha Bart. — Está tudo bem? — Com seus dedos, ela começa a limpar as lágrimas que começam a cair de Bart após esta pergunta. — Vem comigo, está frio aqui fora. — Então Bart  segue Nora e caminham entrando em sua casa. Ele está cabisbaixo e suas olheiras estão incrivelmente em evidência. — Sente-se aqui. — Diz Nora apontando para o sofá da sala, em seguida colocando as mãos na cintura observando e tentando entender o que acontecera com seu namorado que não para de lamentar-se por um instante. Preocupada, Nora senta ao seu lado e coloca a cabeça de Bart em seu colo, fazendo carinhos, talvez ele se acalme.

Nora sempre fora mais forte que Bart. Emocionalmente, fisicamente, mentalmente e até espiritualmente – sempre dedicada a igreja local, Nora vende aos fins de semanas com seus amigos pulseiras, colares, artesanais na pequena praça no centro da cidade com o objetivo de arrecadar dinheiro e ajudar aos mais carentes. Talvez essa diferença de personalidade tenha feito com que os dois dessem tão certo. O casal de namorados se conheceu há aproximadamente cinco anos atrás, em um festival literário anual que ocorre em Videiras. Bart estava num stand vendendo livros infantis e Nora procurando livros infantis para sua irmã menor, Lúcia. A irmã menor de Nora e seus pais não estão em casa, á uma semana foram visitar a tia que está doente em outra cidade. Estariam de volta próximo ao natal.

            Nora possui cabelos curtos o suficiente para não baterem nos ombros, "Com esse cabelo curto eu não tenho trabalho para passar horas e horas arrumando-o em frente ao espelho..." Respondeu Nora a muito tempo para sua mãe quando questionada desse corte tão diferenciado. Nora é apenas alguns centímetros mais alta que Bart, e em seus ombros há uma tatuagem de um triângulo multicolorido. Usa óculos muito parecidos com o de Bart – Inclusive compraram no mesmo dia e na única ótica da cidade, saíra em promoção causando sorriso nos dois. A voz grave de Nora foi responsável por conseguir uma vaga na escola de música estadual de Videiras. Aluna exemplar e cheia de talentos, Nora desenvolvera dons para tocar outros instrumentos. Enquanto conforta Bart com sua mão esquerda, Nora retira se seu próprio braço uma de suas pulseiras artesanais de cor marrom. Enrola no pulso de Bart, e deita a:

— Fique calmo, isso aqui irá protegê-lo. — Sem entender, Bart ergue os olhos e fita Nora demonstrando confusão.

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