Capitulo 2

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   A maquiagem borrada de Madame Irvine a tornou parecida com um bizarro palhaço que acabara de sair da piscina. A fome tomava conta dos prisioneiros.

— Você sabe se eles servem café da manhã pra gente? — Pergunta Abigail, que passou a madrugada inteira sem dormir, por causa do choro incessante de Irvine.

— MADAME IRVINE, meu nome é esse, eu não dei liberdade a você... Terrenos, sempre mal educados! Para a senhora não sei se vão dar, mas claro que para mim deve ser um banquete preparado, o Rei gosta muito de mim sabe?

— Gosta tanto que mandou você para cá, certo?

— O Rei irá se arrepende, espere e verá!

Um ruído como de um carro enferrujado faz todos os presos correrem até a grade da sala. Uma mulher baixinha e muito corpulenta, vestida com uma Dolmã Azul e um turbante gigante que cobre até suas grandes orelhas com Berries grudados.

— Chegou o rango galera! — Grita a mulher enquanto bate com uma colher de pau em uma frigideira. — Vamos lá! Sem demora!

— Ai que humilhação! Ei, Zena, cadê minha comida? — Grita um prisioneiro.

— Aqui a sua comida! — Então Zena, pega uma vasilha feita com casca de alguma fruta desconhecida e coloca cinco grandes colheres de uma espécie de sopa azul. Caminha mais um pouco e alcança a cela de Madame e Abigail. — Olha quem está por aqui... A Dona frufru... E quem é a sua companheira de crime?

— Meu nome é Abigail....

— E o meu é Zenaide, mas pode me chamar de Zena mesmo... Vão querer o prato do dia?

— Ora essa... Prato do dia, já faz séculos que servem essa coisa para os prisioneiros, eu quero comida de verdade! — Interrompe Madame Irvine.

— Olha aqui sua criminosa, não vem querer exigir muito... — Repreende Zenaide enquanto bate com uma faca com dentes todos tortos na grade de madeira.

— Eu vou querer Zena... — Abigail gira e se aproxima da grade. Pega a pequena vasilha com o liquido estranho, sente o cheiro e resmunga... — Por acaso vocês bateram um extraterreste no liquidificador? — Mas Abigail come mesmo assim, afinal não há mais opções.

***

— E como está a construção da nossa forca? — Pergunta Rei Nicolau a um de seus súditos. O pequeno homem responde que está tudo nos conformes. — Que ótimo! Ouviu isso Elisa?

— Ouvi sim, vocês estão de parabéns! Meu Rei, agora haverá a sua reunião com todos os filósofos de nossa Cidade, eles estão no salão principal esperando você. — Rainha Elisa informa enquanto come uma ave assada inteira. Ela segura a ave com a mão. Seus dedos estão melados e seu vestido sujo de óleo. Seus cabelos azuis e brancos formam um estranho penteado. Ela está vestida com um apertadíssimo vestido azul cheio de pedras, com uma cauda exageradamente grande. Em baixo de seus pés uma luxuosa perna de pau de dois metros e meio. — Por favor, pequenino peça para Zenaide trazer mais uns cinco desses para mim, estou com muita fome.

Nicolau desce com dificuldade de seu trono por causa de suas pernas de pau. Caminhando em direção do salão principal, vai quebrando ainda mais o velho chão. Os Luntres, seguranças das Cidades Suspensas abrem a grande porta de madeira.

— Oh! Meu querido Rei! — Diz o primeiro Filosofo, assim como todos os outros, ele está vestido com um estranho terno azulado. Possui um bigode grosso e usa óculos arredondados. Em sua cabeça um comprido chapéu. — Viemos dar as boas novas de nossos alunos a você.

— Boas novas do Colégio de Ensino Superior Arnold? O que poderia vir bom de lá? — Interroga o Rei.

— Os rebeldes cessaram, oh grandiosos Rei. — Exclama um dos filósofos. — Nossas técnicas de ensino estão fazendo resultado!

— Sim, isto é verdade, oh amado Rei. Nossos alunos estão disciplinados e aprendendo de forma excelente a sua profissão para servirem as nossas Cidades Suspensas.

— A ótima noticia é que todos os alunos já compreendem que tu és o melhor Rei para as nossas Terras, e que nenhum outro se compara a Ti.

— Obrigado pela informação. Agora já podem ir, está no horário do almoço e minha rainha me espera.

— Peço permissão em nome de todos os filósofos para nos retirarmos de sua presença. — Os pequenos seres caminham saindo do castelo. Ao atravessarem as portas os cochichos e cutucões começam entre os velhos sábios.

— Você acha que fomos convincentes?

— Eu odeio a mentira, mas para poupar meu pescoço, nada custa.

— Vocês acham que ele acreditou?

— Oh, lá vamos nós voltar para aquele buraco de rebeldes indisciplinados!

E tristes voltam os pequenos filósofos mentirosos para Colégio de Ensino Superior Arnold.

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