Colocando em Pratos Limpos

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Garfo bate na porcelana.

Daemon lentamente mastiga um pedaço de pizza. 

Garfo bate na porcelana. 

Ele pega sua taça de vinho, levando-a em direção a boca. 

O silêncio é tamanho que sou capaz de ouvir o líquido entrando por seus lábios e empurrando o alimento por sua garganta. 

Garfo arranha a porcelana. 

Sinto seu olhar pesando sobre mim, suspiro pesadamente enquanto mexo no resto da massa de pizza do meu prato. 

- Não quer comer mais? - Ele questiona, voltando a depositar a taça sobre a mesa. 

- Já estou satisfeita - entediada, descanso o talher ao lado do prato. 

Todo o jantar ocorria em um silêncio excruciante.

Muito diferente das minhas lembranças de quando Daemon ia jantar com meus pais em casa.

Passei a maioria do tempo com a cabeça abaixada, focando minha visão exclusivamente no pedaço de pizza que comia. 

Alternava meus olhos para Daemon quando o sentia me observando, apenas para vê-lo desviar o olhar para algum outro ponto qualquer do ambiente.

Éramos completos estranhos agora, e esse clima pesado começará a transformar meu apetite em náusea.

Por diversas vezes eu abria os lábios, me preparando para tentar puxar assunto. Mas as palavras insistiam em ficar presas em minha garganta. 

O que teríamos para conversar, afinal?

Daemon parecia estar no mesmo impasse, batucando os dedos impacientemente sobre o mármore. 

- UCLA - ele pigarreou para suavizar sua voz rouca - É uma excelente Universidade. Já tem em mente o que vai fazer? 

- Arquitetura ou moda me parecem interessantes... - respondi pensativa.

- Moda é mesmo a sua cara - um leve sorriso zombeteiro surgiu em sua face - Mas nunca iria imaginar que você se se interessava por arquitetura. 

- Você saberia se não tivesse ignorado minha existência por cinco anos - respondi de forma ríspida, me arrependendo no segundo seguinte e abaixando o olhar para minhas mãos que repousavam em cima do colo.

Droga!

Eu sempre fui uma pessoa emocional e impulsiva, então era extremamente difícil pra mim esconder meus sentimentos.

Daemon ainda era uma cicatriz aberta em meu interior, por mais que não quisesse admitir. 

- Rhaenyra... - ele abaixou o tom, o nervosismo evidente em sua voz - As coisas não eram tão simples. 

Já que vamos ter que morar juntos daqui pra frente, é melhor deixar tudo em pratos limpos.

- Eu entendo! - ergui o rosto em sua direção novamente, colocando meu melhor semblante de indiferença - Entendo o quanto é cansativo ter que se privar de tantas coisas para poder agradar meu pai, para manter os "valores morais" do herdeiro da Casa Targaryen. Eu entendo porque você resolveu largar tudo pra trás e fugir pra cá, esquecer aquela vida de antes... Talvez eu até te inveje por isso. Gostaria de ter a coragem pra fazer a mesma coisa - meu olhar alternava entre o seus olhos analíticos e uma leve rachadura sobre a mesa que começava a entreter a ponta de meus dedos nervosos - Só tem uma coisa que nunca entrou na minha cabeça...

Senti um bolo se formando na minha garganta e meus olhos começarem a marejar, reuni todas as forças para não vacilar em sua frente. 

- Porquê você nunca mais deu notícias? Nem mesmo um telefonema ou uma simples mensagem... - não seja idiota, não deixe que ele saiba o quanto fez falta -  Nós éramos sua família. Eu era sua família.

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