Cidade dos Anjos - Parte I

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Estranho.

Se existe uma palavra para descrever o clima em que eu e Daemon estamos no momento é estranho. 

Quando eu cheguei aqui o clima já estava meio esquisito, então parecemos resolver nossas pendências naquele jantar, as coisas poderiam voltar ao normal.

Mas aquele abraço pareceu ter deixado tudo estranho novamente. 

Quando nos separamos ele nem mesmo conseguia me olhar nos olhos, apenas me deu um boa noite a saiu rapidamente para seu quarto. 

Desde então, vi Daemon muito esporadicamente pelo apartamento.

Quando acordava de manhã, ele já havia saído para o trabalho. 

Quando ele voltava, já tarde da noite, trocavamos poucas palavras.

Como foi seu dia?"

Normal. Como foi no seu no trabalho?"

“Normal."

Chegava a ser constrangedor a forma como estávamos convivendo.

E tudo por um simples abraço...

Na manhã seguinte aquela noite eu havia me culpado por tornar o clima pesado novamente.

Eu fiquei tão animada ao receber a chave do apartamento que nem mesmo pensei antes de pular no pescoço dele. 

No primeiro momento isso não parecia ser um problema, afinal, foram incontáveis as vezes em que recebi Daemon com o mesmo gesto ao vê-lo chegar com brinquedos ou jóias para me presentear quando era mais nova.

Ele nunca havia demonstrado aversão a esse tipo de afeto. 

Mas aparentemente as coisas mudaram agora.

Eu teria passado a semana inteira me martirizando e enchendo a barriga de sorvete, mas graças aos deuses eu consegui três pessoas para conversar e espairecer a cabeça.

Aceitei o convite de Laena para fazer umas comprinhas e renovar meu guarda-roupa. Laenor também nos acompanhou durante todo o passeio. 

Os dois me arrastavam de loja em loja, Dior, Prada, Versace...

Meus braços ficaram doloridos de tantas sacolas que carregava, e a cada vez que passava o cartão de crédito, imaginava a cara do meu pai sendo inundado de notificações de compras no seu smartphone.

Espero que ter ameaçado me tirar da herança e me mandado para outro país tenha sido um castigo suficiente. Se ele também resolver cortar meu cartão, eu estarei arruinada.

Depois de ter passado aquela terça praticamente toda batendo perna, ainda recebi a visita dos meus primos novamente na quinta. 

"Claro! Nem precisava perguntar. Essa é sua casa agora, sinta-se a vontade para trazer quem quiser", Daemon havia me dado a permissão na noite anterior. 

Ainda tenho vontade de me estapear quando lembro de como parecia uma criançinha nervosa pedindo permissão para os pais para poder trazer os amigos em casa.

Ficamos a tarde inteira enfurnados no meu quarto jogando conversa fora. 

Durante horas eu servia como ouvinte das fofocas que meus primos me atualizavam. 

Laena me contava mais sobre como funcionava a faculdade, as festas e boates que bombavam por aqui e também os gatinhos que poderiam ser encontrados aos montes por lá.

“Não são nenhum Harry Styles da vida mas acho que vão fazer o seu tipo”, ela zombou, referenciando uma das últimas fofocas que havia sido exposta sobre minha vida pessoal. 

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