Estagiária

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— Não me atente!
— Você quer, não quer? Admita!
– Maraisa falava com a boca rente a minha, prendendo-me a minha mesa.
— Pare… O escritório está cheio.
– Levantei-me empurrando
—a delicadamente. 
— E daí? Desde quando você tem medo?
— Desde que eu sou sua chefe e você é menor aprendiz. 
— Jovem. Jovem aprendiz. Eu não sou menor há algum tempo. 
— Maraisa vai trabalhar, pelo amor da Deusa, vai!
— Vai me comer?  Um espasmo quase me causou uma certa vertigem.
Não podia negar o que a voz dela causava em mim, tampouco a presença dela. O perfume, o hálito, tudo…  Pus uma pasta cheia de contratos sobre a mesa, e apoiei neles meus cotovelos, levando as mãos à cabeça, agitando-a, tentando espantar meus pensamentos. Quando abro os olhos, Maraisa está parada próximo ao vidro do “aquário” onde eu estava, me encarando e rindo do meu desespero. 
“Filha da puta” Pensei.

Desde que ela chegou a empresa a minha vida tem sido uma tormenta. Passei para a gerência tem pouco tempo e precisava apresentar os melhores resultados. Sustentar uma mulher na direção de uma grande rede de arquitetura e engenharia não é definitivamente a tarefa mais fácil.
E decidiram me colocar uma secretária e olha que maravilha: Uma Jovem aprendiz para o serviço de deslocamento e afins.  Tudo seria ótimo se não fosse a Maraisa.
E eu simplesmente não conseguia tirar os olhos dela desde a primeira vez.    
Recebi uma ligação, e para meu azar, eu precisava apresentar um projeto grande numa quinta-feira à tarde, véspera de feriadão, que eu liberei a minha secretária, já que ela tinha direito a uma folga. 
Era terça ainda e eu não tinha ninguém de confiança que pudesse me auxiliar, visto que subi de cargo e muitas pessoas o almejavam.
Bufei jogando o corpo para trás na minha cadeira, e como sempre a Maraisa estava me olhando pelo vidro.
Logo entrou em segundos com minha caneca com café. 
— Por que minha caneca estava com você?  — Eu cuido da minha chefe…
– Ela sorriu e sentou-se numa das duas cadeiras que ficavam frente a minha mesa.  Olhei o projeto que precisaria apresentar na quinta, ainda faltavam alguns ajustes.  — Posso dar uma opinião?
– Maraisa falou ressabiada. 
Me recostei novamente na cadeira, olhando-a com uma sobrancelha erguida. Ela apontou para a planta e disse coisas realmente compatíveis com o que eu precisava e minha mente não conseguia pensar. 
— Como você sabe tudo isso?
  — Vendo você trabalhar… Ué… E eu levo os contratos e plantas, ouço o que as pessoas dizem sobre eles. Eu me inspiro em você.
Ela me surpreendeu com os comentários sobre o trabalho, e com ela sentada ali, fiz alguns ajustes. Conversamos um pouco sobre os estudos dela e o que ela queria seguir na faculdade, pela primeira vez Maraisa não me deixava tensa.
Ela me contou um pouco da família e da necessidade de trabalhar para ajudar nos gastos, lembrando bastante a minha história.  Olhei no relógio e já eram quase treze horas.
— Menina você não vai almoçar não? 
— Meu almoço está quase acabando. Vim buscar água, quando te vi nervosa e trouxe café. Já vou bater o ponto de volta.
— Você não comeu nada pra ficar aqui comigo?
– Ela fez um gesto com os ombros.
— Vai bater seu ponto, pega as suas coisas e me encontra na recepção. Você vai sair comigo. 
Maraisa não entendeu muito, mas fez o que eu pedi. Descemos o elevador em absoluto silêncio, e os dezenove andares nunca foram tão distante do chão. 
— Eu posso saber pelo menos onde nós vamos?
– Ela quebrou o silêncio dos meus pensamentos me fazendo rir. 
— Desculpa… eu penso muito e falo pouco. Você vai almoçar comigo e vamos comprar umas coisas. Na quinta eu tenho reunião e você vai comigo
.l— Eu? E a Naiara? 
— Ela estará de folga e preciso de alguém pra me acompanhar. 
— Dona Marília eu não sei se consigo. Tenho nem roupa pra isso.  .
— É a segunda vez que me chama de dona em quase seis meses comigo. 
— A senhora conta?
— Bom… senhora é a terceira vez. 
— Meu Deus… você conta. 
— Na nossa primeira entrevista após você ser contratada eu pedi que não me chamasse de dona, senhora ou afins.
  O elevador finalmente parou no térreo. O manobrista trouxe meu carro e ela ficou parada olhando.
Fiz um gesto com as mãos para que ela entrasse. Tímida, sentou-se segurando a bolsa no colo, pedi que colocasse o cinto de segurança. Dirigindo em seguida até o shopping mais próximo, que era um dos maiores e mais caros da cidade. 
— Eu nunca entrei aí.
– Maraisa disse quando passávamos pela cancela do estacionamento.
— Fica tranquila. É um lugar cheio de gente babaca.
– Estacionei, pedi que ela ficasse dentro do carro e fui na mala pegar uma bolsa.
— Sei como te deixar mais confortável. Tirei meu blazer e minha camiseta, ela abriu a boca espantada.
— Calma… Calma… “A vontade”, mas não como você está pensando.
– Eu ri, pegando uma camisa de malha na mochila, e vestindo em seguida. 
Tirei os saltos e calcei um tênis que usava para a academia, amarrei os cabelos num ‘rabo de cavalo’. Como eu estava com uma calça preta, não troquei.
  — Pronto. Agora estamos ok para entrar num lugar de gente escrota que acha que tem muita grana. E estou vestida como você.  Ela ficou parada me olhando fixamente, até eu corar de vergonha. 
— O que foi? 
— Nossa… Você está incrível.
– Falou molhando os lábios com a própria saliva. O que me fez tremer. 

Maraisa ficou olhando a minha boca por alguns segundos e eu insisti que descêssemos logo do carro.
Mais alguns minutos ali e eu iria sucumbir.  Paramos num restaurante, pedi almoço e ela estava preocupada com a hora do trabalho. 
— Você está com sua chefe. Esqueceu? Se tranquiliza. 
— Não posso perder esse trabalho. 
— Não vai… você está comigo. Após comermos, fui a uma loja que costumo ir sempre e as vendedoras já me conheciam. Quase que imediatamente, foram colocados no balcão algumas opções de roupas para mim.
— Eu vou experimentar, mas eu preciso de uma ajuda.
– Segurei madaiy pelos ombros, por trás dela.
— Preciso que cuidem dessa mocinha pra mim.
– A menina me olhava espantada.
— Qual a ocasião, Marília?
– A Vendedora que já me conhecia há algum tempo perguntou. 
— A reunião da minha vida e ela vai me auxiliar. Você sabe meus gostos, e quero que veja com ela o que ela gostaria. Vou experimentar os meus e quero ver ela pronta. 
— Vou cuidar bem dela.
– A atendente sorriu para mim, e Maraisa não conseguia dizer uma única palavra.
— Completo? 
— Dos pés à cabeça. 
Em poucos minutos escolhi as roupas que eu levaria para mim, tendo em vista que já era uma grife bastante comum nas minhas compras. Sentei—me numa nas poltronas da loja e fui servida com uma taça de champanhe, esperando a volta delas. 

Maraisa veio dos fundos com um terninho vinho, num tom bem escuro, que não soube definir. Sandália alta, camiseta de alças com uma borda de renda, e um cinto e colar.
— Uau!
– Era impossível esconder o quanto eu fiquei atônita com a cena.
— Gostou?
– A Vendedora questionava. 
— Meu Deus! Ângela, você se superou. Nossa.
– Fui até Maraisa, arrumando o cordão em seu pescoço, ela estava envergonhada.
— Você está linda.
– Disse baixinho perto do seu ouvido.
— E aí? Aprovado?
– Ângela queria saber.  Perguntei a Maria se ela gostou, e ela agitou a cabeça que sim. Ambas entraram e vieram com mais dois conjuntos, e todos ficaram perfeitos nela. Quando terminaram as provas, sentou-se do meu lado. 
— Você é louca?
— Você ficou extremamente mais bonita.
– Foi a minha vez de não conseguir tirar meus olhos de sua boca. 
— Eu imagino o preço disso. 
— Qual você gostou mais?
— O vermelho.
— O primeiro, né? Eu também.
– Fiz um sinal para Ângela que veio com uma bandeja com mais duas taças e dois copos de água, Maraisa ia pegando o não alcoólico
— Pode beber o champanhe se quiser. 
— Estou trabalhando.
— Você está comigo.
– Percebi os pelos do seu braço se arrepiarem.
— Ângela embrulha tudo.
— Marília, você está louca?  Ignorei o comentário de Maraisa, paguei as compras e uma das funcionárias da loja levou as sacolas até meu carro conosco.
No trajeto, a jovem estava meio envergonhada e emburrada, então em um dado momento, segurei na sua mão enquanto caminhávamos, senti tremer ao meu toque. 
Entramos no veículo, liguei o rádio e o ar condicionado, e colocava a minha carteira na bolsa, percebi Thais me olhando séria.  — O que foi?
— Tem noção do quanto você gastou? Minha mãe vai me matar.
— Se você quiser eu converso com ela. 
— Provavelmente ela vai querer te conhecer. E eu não tenho como agradecer.  — Sem problemas, eu falo com ela. E outra, precisava de você na reunião comigo, na verdade preciso e não é sua função, não acho justo você gastar para ir comigo.  Ia sair com o carro quando Maraisa puxou meu rosto em suas mãos, beijando-me. Um beijo que me fez pulsar, e meu corpo arrepiar, sobretudo quando ela deu um leve gemido em minha boca. 
— Menina… não… por favor…
– Segurei suas mãos. 
— Não sabe o quanto eu sonhei por esse momento, Marília.
– Tornou a me beijar e sua língua me invadiu com um desejo que um espasmo atingiu o meio das minhas pernas. Precisei me controlar e voltamos para a empresa. Ela sorria durante o caminho que percorremos, e eu a olhava de canto de olho.  Ela estava vitoriosa. Chegamos era quase final de expediente, e Maraisa estava preocupada com a chefia dela.
Pedi que se acalmasse, que eu assumiria um trabalho externo qualquer que pudéssemos ter feito.

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