professora de filosofia parte 1

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- Você sabia todo esse tempo que ela era a pessoa que eu estava afim e não me falou nada?
- Você não me perguntou em momento nenhum se eu sabia quem era...
-ela falou rindo leve eu me virei para ela chateada. -Elisa!
- Ahh, qual é, Marília? Você vivia falando dela pra cima e para baixo agora você sabe quem ela é, cara, não queria tanto descobrir? Pronto!
- ela voltou a olhar para frente.
-Além do mais, tenho uma notícia bem trágica para você.
- me olhou outra vez.
- Ela é hetero! Ahh, não, não podia ser!
- Ahh, não! Você está falando sério? E por que fez isso comigo? Queria me torturar mesmo, é?
- Para minha defesa, eu não sabia, ok? Vi ela descendo do carro de um cara hoje, deu um beijo nele e tal, mas desde que a conheço nunca a vi com ninguém, estava sempre com as alunas que davam em cima dela, achei que era uma dessas que gosta de se divertir, por isso falei para você fazer a aula.
- Eu vou trocar essa matéria!
- falei levantando.
- Nem pensar! Eu me inscrevi também e preciso de companhia, já que ninguém quis encará-la! Suspirei a olhando e apenas balancei a cabeça saindo e a deixando falando sozinha, claro que ela tinha armado para mim e agora eu estava presa na disciplina da mulher que eu estava gostando e que não teria chance nenhuma, maravilha! Deitei e dormi, sem querer pensar nela ou no perfume que senti quando ela se levantou para falar comigo, naqueles olhos profundos, nos lábios que pareciam deliciosos e prontos para que eu beijasse até ficar sem ar. Quando o dia seguinte iniciou fiz as atividades que ela tinha passado e depois segui para o trabalho, assim que entrei vi que o movimento estava fraco, estranhei, mas fui me trocar.
Mateus era o menino que trabalhava junto comigo, ele ficava nos lanches, enquanto eu ficava no café.
- Parece que caiu da cama essa manhã, Marília!
- ele riu me olhando e eu apenas balancei a cabeça.
- Foi quase isso mesmo! Estou cansada e o semestre mal começou!
- falei e ele balançou a cabeça colocando o crachá e caminhando porta a fora. Eu sempre reclamava, ele já estava até acostumado com isso, nem fazia mais diferença para ele. Mateus estava cursando Matemática, mas enquanto não conseguia um estágio remunerado, estava aqui trabalhando no café, na verdade o dinheiro que ele conseguiu trabalhando aqui foi o que fez com que ele pudesse pagar a mensalidade com o pouco de desconto que recebia. Ele tinha 24 anos, terminaria em 2 anos mais o menos, contando que ele não era dos mais aplicados e isso tinha rendido para ele pelo menos duas dp's, mas é claro que o nosso horário apertado não nos permitia muita coisa também.

Maraisa não veio pegar sua bebida, mas um homem veio e pediu dois cappuccinos dizendo que um era para ela, ele deveria ser o cara que Elisa tinha falado para mim no dia anterior.
Analisei-o com atenção, era alto, cabelos bem curtos com alguns fios brancos, olhos escuros e a cara mais carrancuda que eu já tinha visto, deveria ser algum professor também, eu pensei e a minha intuição se confirmou alguns segundos depois quando Mateus falou assim que ele saiu.
- Esse é meu professor de Cálculo, ele é um horror! Coitada dessa Maraisa!
- a voz baixa e de costas para onde o homem tinha acabado de sair mostrava que ele não queria ser ouvido.
- A coitada da Maraisa é aquela!
- falei suspirando e voltando a limpar o balcão. Ajudei ele a colocar os croissant no forno e ele me olhou de olhos arregalados. - A que você vive fantasiando e desenhando na bebida?
- senti o riso preso e minha chateação ficou evidente.
- Sim, ela mesmo!
- Meu Deus, você realmente é muito azarada mesmo, não dá uma dentro! Ele estava certo e sabia disso muito bem, eu já tinha olhado várias outras e para todos os lugares em que eu apontava sempre dava errado, se tinha uma foto no dicionário para dedo podre, sem dúvida alguma era a minha foto que estava lá. Todas as meninas que eu tinha tentado algo ou estavam com alguém, eram héteros ou loucas demais, no final eu sempre ficava sozinha ou traumatizada. Se nessa idade já estava assim, imagina como seria quando eu fosse mais velha... Melhor nem imaginar! A semana correu normal, na mesma correria para as aulas, mas consegui chegar a tempo em todas, a aula de Maraisa seria a última da sexta.
Quando entrei na sala nem ela estava e suspirei aliviada, tinha chegado antes dela, isso era bom. Não a tinha visto durante a semana já que o Otávio tinha pego sua bebida todos os dias o que me chateava, mas não era da minha conta, então ficava quieta. Não demorou para que ela entrasse na sala, distraída conversando com o copo de bebida na mão, ela estava vestida em uma saia lápis preta e uma camisa de botão, longa, branca, a pasta preta ao lado do corpo junto ao par de saltos altos pretos, estava perfeita, o cabelo preso em um rabo de cavalo. Meus olhos foram para o homem ao seu lado, o idiota, revirei os olhos no mesmo momento em que ela me olhou e percebi que ela não gostou da saudação.
Ele falou algo que não entendi e se retirou e ela caminhou em minha direção depois de deixar a pasta e o copo sobre a mesa.
- Então, conseguiu chegar na hora hoje?
- ela deu um meio sorriso, mas eu não devolvi.
- Sim, senhora! E não irei mais me atrasar, não se preocupe!
- ela deu um passo para trás ficando séria também e depois de me olhar alguns segundos molhou os lábios se virando e falando.
- Ótimo, espero que seja assim, sempre!
- ouvi o suspirar dela que saiu e voltou para a sua mesa.
Durante toda a aula percebi que vez ou outra ela me olhava, sentia meu estomago apertar, mas apenas respirava forte e seguia prestando atenção e fingindo que nada estava acontecendo ali.
As três semanas que seguiram foram do mesmo modo, completamos um mês de aula, as vezes ela ia comprar a bebida ou mandava o namorado pegar, mas naquela sexta as coisas não pareciam ter saído como ela queria.
Eu estava sentada no fundo da sala, cansada, mas pronta para sair e beber depois da aula, levei apenas uma agenda para as anotações básicas que faria, estava com os cabelos finalizados, uma calça jeans preta bem justa e um corset preto tomara que caia, por cima um blazer preto que cobria a visão que eu estava guardando para a festa. Queria beber, beijar na boca e não lembrar de nada principalmente dos lábios de Maraisa .
Por falar nela entrou na sala batendo os saltos no chão parecendo estar bem irritada com alguma coisa. Estava vestida em uma calça vinho justa, um corset branco de cetim com duas fitas nos ombros, eu conhecia bem a peça, assim que ela entrou colocou um blazer capa branco longo que caia perfeitamente com a peça. Caroline estava sempre bem-vestida, naquele dia não seria diferente, os cabelos longos estavam enrolados, um batom vermelho que fazia com que eu tivesse que me controlar ainda mais. Estava ao telefone e eu só percebi quando ouvi a frase que era do meu agrado.
- Eu já falei, Danilo! Já falei muitas vezes, estou cansada! Vá procurar palco em outro lugar que eu cansei de você!
- ela desligou o telefone colocando sobre a mesa e quando me viu levou um susto.
- Ai, que susto!
- ela colocou a mão no peito respirando fundo e percebi que me analisava.
- Estou sempre aqui antes de você nas sextas, imaginei que já estivesse acostumada!
- falei tranquila e desliguei a tela do telefone que estava em minha mão colocando sobre a mesa enquanto a olhava com calma.
- Tinha me esquecido disso!
- ela falou suspirando e deu a volta sentando em sua mesa com calma.
-Bom, que bom que está conseguindo arrumar o seu horário...
- Sim!
- Você está com raiva de mim, Marília?
- Que?
- Tem me tratado de modo indiferente!
- ela falou me olhando nos olhos e eu a analisei, o que ela estava querendo afinal? - Estou te tratando de modo normal, Professora! Assim como a senhora me trata! Ela suspirou se levantando para me responder, mas no mesmo minuto um grupo de alunos entrou e ela apenas voltou a se sentar respirando fundo e contendo a vontade de falar.

Vi Elisa entrar também e sentou ao meu lado sorrindo e falando.
- Chamei uma galera para ir à festa também, eles vão nos dar carona.
- ela piscou rindo para mim.
- A ruiva da minha turma que você gosta também vai, quem sabe você não consegue dessa vez!
- ela riu para mim e me mostrou o celular com a foto.
- Olha como ela está gata hoje! Você vai beijar na boca hoje, Marília! Prepara! Elisa gargalhou pegando o celular de volta e eu senti que Maraisa parava ao meu lado, não sei se ela conseguiu ouvir o que Elisa me falou, mas imaginei que sim.
- Sem conversas paralelas, senhorita Elisa! Vamos começar a aula!
- ela falou caminhando em passos largos para o centro da sala outra vez e começou a aula.

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