O Pecado da Cidade de Soturno

39 2 0
                                    

Texto de chadaescrita 

Menção Honrosa no "Concurso 16, Cidade Macabra".

Sinopse: O detetive Thales recebe uma carta anônima com um pedido inesperado. O seu retorno à cidade de Soturno era aguardado, porque lá havia a pista que ele precisava para desvendar o mistério que assolou a cidade vinte anos atrás e o fez ser expulso como único suspeito.

Agora, ele está de volta à Soturno, a cidade fantasma que guardava seus sorrisos e também o seu pecado.

*

"Você pode fugir quantas vezes quiser, mas o seu passado vai voltar para te assombrar, Thales. Cedo ou tarde, ele vai voltar."

Thales sabia que era verdade. Naquela noite, ele perdeu o homem que era seu namorado e melhor amigo por um erro que cometeu. Seu passado retornou da pior maneira para assombrá-lo e lembrá-lo que uma vida mundana estava longe de seu alcance. A felicidade não era um privilégio concedido em sua vida.

Agora Thales estava diante da cidade abandonada de Soturno, o lugar que guarda seus maiores sorrisos e também a sua ruína.

Todas as noites ele ouvia o eco da voz de seu pai repetindo aquela frase dentro de sua mente. O som ficou mais alto quando parou diante dos portões enferrujados da entrada de Soturno. Thales jurou nunca mais colocar os pés no lugar que o expulsou e o acusou de crimes que não cometeu, mas ainda assim aqui estava ele, disposto a provar sua inocência vinte anos depois, por meio de uma carta anônima de alguém que dizia saber a verdade.

Era um tiro no escuro, mas a carta dizia que ele deveria seguir uma pista básica deixada em seu quarto queimado na mansão. Naquele quarto, Thales encontraria as respostas necessárias.

A decisão de se tornar um detetive veio das acusações infundadas da polícia e das lágrimas que derramou todas as noites. Era incapaz de dizer a verdade. Não podia revelar onde estava ou o que fazia, não depois do erro que cometeu. Todo mundo descobriria seu pecado.

Com os desaparecimentos, apontar os dedos para o filho do fundador da cidade tornou-se oportuno. O garoto magro demais, pálido demais, de cabelos escuros e olhos heterocromáticos, um castanho e o outro lilás, totalmente diferente de seus pais e que tinha interesse no filho do diretor do colégio. Era como se ele fosse o estranho da família, em todos os sentidos aos olhos dos demais, embora houvesse uma explicação para isso. Ele não era da família.

Thales apareceu na porta da família Bloom e foi acolhido por Eva, sua mãe adotiva, que tomou para si um carinho que Thales nunca imaginou receber um dia. Quando ela faleceu, Thales percebeu que não era bem vindo naquela casa. Ouvia o irmão mais velho dizendo que ele era estranho e que fugia todas as noites. Ouvia o pai dando ordens para o segurança da família impedir que Thales saísse sozinho, como se ele fosse um prisioneiro.

Nada disso funcionava. Thales era esperto demais e isso os assustava.

Ele inspirou o ar seco da cidade e se assustou com o silêncio. Soturno era sempre tão alegre e agora parecia morta. A grama estava comprida e as flores despedaçadas, bem diferente de como ele se lembrava, mas ainda era estranhamente familiar.

Thales dedilhou o portão, ouvindo o barulho do metal ressoar contra sua pele no instante em que o sino da porta da antiga padaria tocou. Seus olhos seguiram a direção do som a tempo de ver alguém entrando no lugar.

Por que tinha alguém ali?

Ele rodeou a entrada procurando a passagem secreta que usava para fugir de seu pai na juventude. Ela ainda estava ali. Esgueirou-se por entre os arames farpados e soltou um chiado quando um dos arames pontiagudos rasgou seu terno cinza.

ANTOLOGIA ELEMENTAR DETETIVE - As Melhores HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora