COR DA DOR

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Texto de okeNoctis

Conto Vencedor do "Concurso 17: Multiverso"

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SINOPSE: Uma distopia que encarna tentações; a visão do Mal idealizando democídio, maquinando a Morte e propagando Trevas.

Do âmago surge o desejo mais puro de tudo o que se regozija com a Vida.

7 Vidas.

7 Pecados.

Carmesim dispersado,

Carmelo florido,

Carpe equivocado.

O começo do fim assombra Cain.

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Capítulo I – Adonis

Dou um passo, depois mais outro, e outro. O espaço em minha volta se distorcia exponencialmente para dar lugar à uma planície de mato enferrujado, algumas árvores nuas enegrecidas, e ao fundo uma construção trivial e deteriorada. Ainda mais ao fundo, tão desfocada pela distância, havia uma torre.

«Bem-vindo, espero que aproveites nossas regalias.», uma voz infantil destimbrada ressoava em minha mente; ao procurar em volta vejo uma espuma amarelada pousada num galho alto. Tinha uma forma humana abstrata e deformada que partiu numa velocidade tal que gerou uma ventania instantânea antes que eu pudesse replicar. Neste momento, a torre distante badalou, marcando a primeira hora, uma nota nefasta.

Limitado como estava, sem nada além das roupas e um telemóvel morto, tomei a decisão que me parecia mais sensata e caminhei em direção à construção. Não percebi a passagem do tempo; o que me pareceu alguns segundos foram na verdade sessenta minutos, e a torre marcou a segunda hora. Outra figura surgia, de cor violeta e uma suave voz feminina «Estás perto...satisfatoriamente perto. Irás amar o que te espera lá dentro.», e fugiu com a mesma velocidade.

Partindo da construção, surgiu uma cerca branca não muito alta que formou um círculo com aproximadamente um quilômetro de raio em minha volta, e a torre anunciou a terceira hora. Depois destas, mais duas figuras apareceram, uma vermelha e outra verde, sempre fazendo comentários ininteligíveis; e a torre permanecia badalando a mesma nota a cada hora. Continuei a caminhar, e como estava já bem perto, me escorei em uma das árvores para descansar, observei a quinta figura, acastanhada desta vez, passar lentamente diante de mim enquanto me encarava com olhos inexistentes. Fiquei ali até a próxima hora, e agora de cor púrpura, passou outra também lentamente, entretanto não parecia me notar.

Dei mais um passo, depois mais outro, e outro, e alcancei a porta de madeira corroída da construção, a torre badalou, se passaram seis horas. Adentrei e encontrei nada, escuridão e silêncio consumiam o lugar, o ar gélido fétido me provocou calafrios; na parede oposta, um par de olhos com um brilho alaranjado me fitava. Supus ser uma criatura enorme dada a altura em que estavam os olhos, fazendo meus sentidos se aguçarem. Chutei a porta a fim de parti-la e consegui um pedaço pontudo de madeira que me serviria como arma, caminhava meticulosamente até a criatura, e à medida que me aproximava, esta começava a se afigurar, mas antes que pudesse ser completamente perceptível sou interrompido por um baque que veio por trás. Me viro bruscamente e sou confrontado com outro nada...apenas...ondulados...carmesim.

ANTOLOGIA ELEMENTAR DETETIVE - As Melhores HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora