O Jogo do Corvo

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Texto de Wilka

Selecionado no Concurso 'Suspense 18 - Aconteceu no Carnaval'.

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Sinopse: O som do vaso a espatifar-se no chão soou mais alto que a animação carnavalesca do lado de fora, obrigando um velho senhor bem perto da aposentadoria a buscar saber o que era. Infelizmente, ao invés de achar crianças travessas a jogar bolas feitas de meia como era costume, presenciou um personagem mascarado da cultura da sua aldeia matar uma mulher.

Na manhã seguinte, um telefonema leva Elisa até a cena do crime, onde jaziam um broche de corvo, palha pelo chão e um tecido com uma marca, além de rastros vermelhos, exepto o corpo.
Aliado às testemunhas, o que sobrava para Elisa, era solucionar o problema que lhe indica o caminho por si só.

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1| Os olhos do lobo e espantalho de Erinadus

A LUZ do poste parecia uma pessoa medrosa diante de um filme de terror que, nalgum momento de coragem, abria os olhos para assistir e os fechava rapidamente quando a ameaça de uma cena aterrorizante esvaziava a sua coragem.

A luz piscava repetidas vezes, não era o melhor aliado do vento impetuoso que, como se fosse uma mãozinha fantasma, já tinha feito o trabalho de afastar as cortinas da casa dos Lobo, derrubando um vaso e obrigando o patriarca a correr para ver o que acontecera.

O luar também não parecia muito animado em presenciar aquela cena medonha que acontecia naquela rua escura, longe da multidão e bem a frente daquela casa em que um homem de lanterna se movia para perto da sua janela.

O grito da mulher que antes corria ficou perdido entre o som da música alta que embriagava os foliões durante a festividade mais esperada em Eridanus, afinal era onde a cultura renascia depois de quase um ano adormecida.

Igualmente o rastejo, como tentativa de se afastar daquela figura alta que lhe perseguia, foi interrompido quando delicadamente um novo peso ficou por cima das suas costas. Remexer o corpo não foi o suficiente quando, abruptamente, a mão do ser foi erguida e...

No interior da casa, o interruptor foi ligado sem muito ânimo pelo senhor que procurava a sua lanterna.

O senhor Lobo já estava de mau-humor porque a música alta que se espalhava na aldeia não era tão cativante quanto o silêncio que desejava para dormir naquela noite, tal quanto nas outras enquanto o carnaval decorria e tinha algum tempinho longe dos seus alunos cada vez mais demoníacos.

Não lembrava de ter deixado a janela aberta, mas sabia que era meio-caricata e poderia ser facilmente vandalizada por algum espertinho do lado de fora como já o tinham feito nos anos passados. Na sua maioria eram crianças fantasiadas que passavam pela ruela para jogar algumas bolas de água pela janela, talvez projécteis em forma de bolas feitas de meias cheias de areia.

Enquanto se enchia de palavras insultuosas para bombardear contra quem ele supunha que teria deitado abaixo o seu precioso vaso, ficou petrificado naquele mesmo lugar ao testemunhar uma cena que só tinha visto naquelas séries esquisitas que a sua neta assistia.

A lanterna rolou pelo chão, com a mesma facilidade que o broche preto com manchas de sangue no desenho de corvo rolava pelo chão em que algumas palhas adornavam-na, tentando sem êxito cobrir os rastros de sangue que os olhos de Lobo não conseguiam ainda notar.

ANTOLOGIA ELEMENTAR DETETIVE - As Melhores HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora