A MÃE DE TODOS

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Há muito custo, Anastácia conseguiu se acalmar e raciocinar sobre essa situação atípica. Com certeza havia uma ligação entre os últimos acontecimentos, pois desde que chegara ao planeta que sentiu a conexão com o lugar, e isso não era só com os dois machos que se apresentaram diante de si, era algo em maior escala. E definitivamente era algo que precisava esclarecer o mais rápido possível ou ficaria maluca.

Resolveu forçar-se para fora da cama, mesmo sob protesto de seus pés machucados. Andou um pouco pelo quarto, testando sua própria resistência e não sofreu muito desconforto, devido aos carpetes super fofinhos. Foi até a janela mais próxima e deparou-se com uma construção totalmente diferente das que vira no local onde estivera antes. Aqui eles estavam totalmente integrados à natureza, tanto que havia uma grande árvore no meio do imenso pátio central que avistava dali. A pedra que erguia o local parecia mais rústica, embora tivesse seu charme.
Direcionou-se à próxima janela, e foi aí que se deu conta de que se encontrava na torre mais alta de um castelo, logo abaixo era só um penhasco. Isso com certeza dificultava uma possível fuga.

Maldição!

Exasperou-se por estar novamente trancafiada. Esse povo parecia civilizado, porém agiam como "homens das cavernas", o que a irritava sobremaneira.
Não tinha dúvidas de que precisava sair dali o quanto antes, ou se sentiria tentada a permanecer para sempre, porque tinha aquela voz irritante dentro de si, gritando que ali era seu lugar. Se não estivesse sozinha, juraria que tinha alguém sussurrando em seus ouvidos.

Ficou ali por alguns minutos, apreciando o vento em seu rosto, enquanto traçava em sua mente uma nova rota de fuga.
Até então, agira com estupidez.
De que adiantou fugir de sua primeira masmorra se não conseguiria sair do planeta?!
Tinha que ser mais paciente dessa vez.
Osahar deixara claro que dispunham de tecnologia e era disso que precisava para efetuar uma fuga definitiva. Porém, não podia demorar ou nunca mais encontraria a estação.

Retornou ao quarto em busca de um banheiro. Por sorte, aqui não era tão diferente do que tinha na nave, havia o necessário para suas necessidades e higienização.
Lavou o rosto e observou sua imagem em frente ao espelho.

Isso é uma roupa decente?! — se perguntou dando uma voltinha na frente do espelho.

Nesse momento quase gritou de susto com o que viu. Baixou o vestido até a cintura só para ter certeza de que não enxergara errado, e a coisa estava lá, nítida como tinta no papel.
Um bestial, ela tinha uma imensa tatuagem de bestial em suas costas. As linhas eram delicadas, num tom azul, quase cintilante. Com certeza, lindo de se ver, mas algo que não fora pedido ou permitido para estar ali.

Que merda fizeram com ela enquanto estivera dormindo?!

— OSAHAR! — gritou sabendo que não precisava fazer mais que isso para alguém aparecer em sua porta, pois de algum modo sabia que a vigiavam.

Como previra, meio minuto depois o alien irrompia no banheiro.

— Como você explica isso?! — ela aponta as próprias costas sem se incomodar com a nudez exposta, afinal ele já devia ter visto bem mais ao mudar suas vestes antes.

— Um bestial?! Desde quando tem um bestial com você?!

A cara de surpresa que ele fez a deixou desconcertada.

— Não pense em me enganar, você fez isso! — o acusou.

— Ninguém aqui pode fazer isso, senão o próprio bestial que a escolheu. — ele fala muito sério — Você veio do clã divino?! Essa é a única explicação…

— Do que está falando?! — ela o interrompe, sabendo que a coisa não é tão simples assim.

— Bestiais são sagrados e preferem as terras divinas para viver, a energia daquele lugar é mais forte para alimentá-los.

O modo como ele fala dessa energia a deixa de orelha em pé e não pôde se negar ao seu sexto sentido.

— Que energia?! O que tem lá que não tem aqui?! Por que não encontrei com nenhum pelo meu caminho por aqui…? — perguntou encarando-o, ela tinha que saber mais.

— Fêmeas! Eles precisam da energia espiritual das fêmeas.

Novamente as palavras dele a deixaram com certo desconforto.

— Trate de explicar isso direito! Agora tem essa coisa nas minhas costas e você disse que não é o responsável, então me conte tudo que sabe. — exigiu.

Osahar não se negou a dizer o que ela queria saber, o que a deixou boquiaberta. Agora muita coisa tornou-se clara em sua mente.
Os Bestiais se alimentavam da energia liberada pelas fêmeas durante o acasalamento, isso os mantinham vivos; a alimentação para além disso era só um complemento. Então fazia sentido que preferissem viver onde tinha um maior grupo de fêmeas. Por consequência, a presença deles as induzia a querer estar sempre acasalando, daí a necessidade de terem vários parceiros.
Foi um choque para ela descobrir que elas podiam nomear quantos parceiros desejassem.

E por fim, eis a explicação para seu comportamento sexual atual. Ela era mulher e mesmo não sendo natural desse lugar, também sofria influência dos animais sagrados.

— Ana?! — ele a chama de volta a razão quando sua mente começa a divagar — Tem mais…

— Ainda pode piorar?! — pergunta sarcástica.

— Ter um bestial em sua pele significa que você foi escolhida como a nova "mãe de todos"!

E mais essa agora?!
Anastácia franziu o cenho, tentando assimilar o significado dessas palavras. Isso não parecia nada bom.
" Mãe de todos"? Essa frase tinha o peso de um fardo muito difícil de se carregar.
Sua vontade era perguntar do que diabos ele estava falando, que tipo de enrosco ela havia se metido, mas então uma necessidade urgente rugiu dentro de si.

Diferente da outra vez, foi uma necessidade que tinha vida e causava muito desconforto.
A onda que a atingiu a fez se agarrar na pedra da banheira à sua frente. A coisa toda pareceu andar pelo seu corpo como uma erva daninha, fazendo a sensação de dor se instalar no meio de suas pernas.

— Osahar, o que está acontecendo comigo?! — gaguejou tentando puxar uma respiração adequada para os seus pulmões.

— Sua necessidade está mais forte! Em breve não poderá resistir, terá que acasalar… — ele viu a negação em seu olhar quando ela se afastou — ou isso ou vai entrar em sofrimento, você não tem escolha… a necessidade da "mãe de todos" não pode ser ignorada, você não tem forças para resistir ao seu chamado primitivo.

— Ah, foda-se…

Ela resmunga e cambaleia para o quarto, para a cama, mal sustentando o próprio peso. Não permitiu que ele a ajudasse.

Que inferno!

Quase gritou quando foi atingida por uma nova onda de calor, como se as labaredas de uma supernova a estivesse consumindo de dentro para fora.





Comandante Anastácia: contos Alienígenas Onde histórias criam vida. Descubra agora