UMA FAMÍLIA

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Merit tivera que lidar com muitos problemas nas últimas horas e o mais recente, se tratava de um exilado, que sequer deveria pôr os pés ali, mas não só estava fazendo isso, como alegava ter direito de fazê-lo, algo que não foi difícil de constatar assim que ele expôs sua marca de macho reivindicado, com toda a satisfação, obviamente queria esfregar isso na cara dela.

— Espero que isso encerre qualquer assunto entre nós! — expôs a  mordida em seu ombro e o irmão fez o mesmo. — Não estou aberto a qualquer tipo de diálogo! — fez questão de esclarecer.

Osahar não estava com um pingo de paciência para ter lidar com a "mãe de todos", ainda mais que houvera sido ela a sentenciá-lo à exclusão de sua família, relegando-o à própria sorte. O macho não contestava o fato da fêmea vir em primeiro lugar, mas já suas leis arcaicas não via com a mesma condescendência. Ele acreditava que todos eram falhos e que machos jovens e inexperientes deveriam receber uma segunda chance, desde que a fêmea sobre sua proteção não sofresse dano permanente, o que foi o seu caso.

Agora, ali parado diante da anciã, tudo que podia fazer era esperar até que Anastácia recobrasse sua razão, o que poderia demorar, caso ela não se desse por satisfeita com a quantidade de machos que reivindicara até ali. Olhou em volta da sala, do lugar, que antes fora seu lar, nada aqui o fazia sentir saudades e querer retornar. O local que antes fora seu ninho de proteção, posteriormente foi sua decadência. Estava sendo muito difícil ter que lidar com isso, se não fosse por sua fêmea, não teria voltado a pôr seus pés aqui.

Ele, Hélion e Eros estavam ali diante de Merit e seus companheiros aguardando Anastácia concluir o acasalamento e, quem sabe, encerrar sua busca; quando isso acontecesse, todos deveriam estar juntos para que o vínculo final fosse estabelecido. Uma fêmea podia enlouquecer se essa última parte não fosse sacramentada. Não por acaso, a anciã aceitou que o exilado e seu irmão estivesse presente. Ele sabia desses pormenores, por isso arrastou o mais novo até aqui, arrancando-o do seu sono antes do tempo devido de descanso.
Porém, o silêncio de morte era a certeza de que nada estava bem, e talvez nunca ficaria.

— Acabou! — ouviu um guarda anunciar aparecendo na soleira da porta e levantou-se abruptamente.

Ainda olhou de relance para a anciã, que se mantinha com uma expressão imparcial e fria. Típico de sua conduta.

— Vão em frente! — ela disse em tom de ordem.

Osahar não conseguiu conter a expressão de desgosto. Ela dava a ordem, como se ainda o tivesse sob seu poder e como se precisasse dela para seguir adiante.
Maldita fosse por tratá-lo com aquele ar de superioridade.
Preferiu ignorar sua própria fúria emanando por seu corpo e seguiu pelo lugar que conhecia bem.
Seguiu com o irmão pelo corredor, logo atrás de Eros.
Em relação ao macho, não demostrava qualquer tipo de hostilidade, até porque eles precisariam viver em harmonia, para o bem da fêmea que os escolheu e marcou.

Ao adentrarem na cela, onde o príncipe estivera preso, viram Anastácia inconsciente ao lado de Solon.
A sensação de plenitude os preencheu, o que significava que a fêmea estava satisfeita com os quatro que reivindicara.
Eles se encararam e pareceram concordar em um ponto; era hora de cuidar de sua companheira.

Mesmo em esgotamento físico, a força do vínculo trouxe Sólon de volta à realidade, embora num estado entorpecido.
Os quatro ergueram a fêmea cuidadosamente e a levaram para o banho. O procedimento era simples, mas cheio de significado para todos eles.
O banho juntos era a última cerimônia do acasalamento e era nesse momento que a fêmea confirmava sua escolha.

Anastácia grunhiu assim que foi colocada na água da banheira.
Como tudo ali, mesmo a unidade de limpeza da prisão não deixava nada a desejar.
Os cinco couberam confortáveis naquele espaço.
Ela suspirou em alívio quando seu corpo começou a ser massageado pela esponja e tantos pares de mãos a cuidavam com esmero.
Subitamente, seus olhos se abriram, mostrando pupilas iguais a de um bestial. Ela os encarou um a um e então puxou Osahar para si.
Primeiro um beijo sobre a marca que deixara nele e depois uma segunda mordida no mesmo local.

A fêmea, instintivamente, o confirmava como líder da sua unidade familiar, logo abaixo dela. Os demais machos deveriam obedecê-lo, essa seria a hierarquia; ela no topo e Osahar logo depois.
Os outros machos também foram reconhecidos como seus companheiros na mesma ordem que o fora antes.
Porque sim, ainda que os tenha marcado a princípio, ela poderia desistir de algum deles, um abandono que os marcaria para sempre, caso ocorresse.

Depois que terminaram, ela tinha voltado a dormir um sono tranquilo e revigorante.
Eros liderou todo o caminho até um novo quarto fora da prisão, depois que a vestiram e ficaram aptos a andar pelos corredores.
Até que a situação fosse resolvida de uma forma definitiva, as coisas teriam que ser assim.
Eles teriam que ficar ali, todos juntos.

Os três machos que haviam sido reivindicados recentemente ainda estavam exaustos e necessitados de descanso, por isso, Eros ficaria à porta, à espera de sua companheira despertar, enquanto os outros também descansavam em dormitórios que lhes foram destinados.
Esse afastamento era necessário para dar espaço à fêmea, principalmente ela que não era de sua espécie e que provavelmente não conhecia seus costumes. Tudo que ela fizera até ali fora por causa do seu instinto primitivo despertado pelo bestial e quando acordasse, talvez tivesse dificuldade em entender suas próprias atitudes.

Eros passou algumas horas de vigília. A satisfação brilhava em seus olhos, graças ao retorno daquela que a partir de agora seria sua nova família. Antes vivera para o clã, agora seria para ela. Um macho reivindicado, era um macho com identidade reconhecida perante sua sociedade.
Saiu abruptamente de seus devaneios ao ouvir um sonoro grito.

— Aaaarg…

Apressadamente adentrou o recinto de sua companheira, para encontrá-la de pé, em posição defensiva, enquanto um bestial adulto estava deitado ao pé da cama, como se nada estivesse acontecendo.















Comandante Anastácia: contos Alienígenas Onde histórias criam vida. Descubra agora