ENCURRALADO

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Ethan estava uma pilha de nervos. Nunca imaginou estar naquela situação após tomar o controle da estação.  Havia se esforçado muito para dá um fim em sua comandante, o que resultou na equipe que descera a Nebula com ela ter ido para a prisão, acusados de motim.
Aqueles eram muito leais a ela e estavam lhe causando problemas e insuflando os outros, então optou por essa decisão mais drástica.
A retaliação surtiu efeito e pôs as coisas de volta ao eixo. Consequentemente, a viagem retornou seu percurso, enquanto a tripulação passou a aceitar que Anastácia havia morrido.

Já se passara muitos dias após esse ocorrido e de repente estavam sendo abordados por uma frota alienígena.
Ele não era tolo, sabia que havia algo extraordinário acontecendo.
Não teve como empreender fuga, sob a ameaça de ser abatido, caso tentasse qualquer coisa estúpida.
Pelas informações obtidas, a abordagem vinha de seres de Alzihah. A princípio, acreditou poder manter um diálogo amigável, porém viu a coisa toda desandar assim que se identificou. Não teve como não se acovardar diante do alien que se identificou como oficial Yalam; no seu semblante podia perceber  uma mistura de repulsa e desprezo. Parecia estar diante de um inseto que manchara sua roupa de gala. Aquele olhar, profundamente alaranjado, tinha um poder agudo contido, que juraria poder cortar seu corpo em pedaços a qualquer instante.
Ethan certamente era um homem grande para sua espécie, mas aquele ali o fazia se sentir diminuto e fracote.

Que inferno de espécie era aquela?! Até a forma de andar daqueles seres o fazia se sentir intimidado.
Observou que com sua tripulação não foi diferente. Havia contado meia dúzia deles à bordo da estação, mas a aura que exalavam foi o suficiente para conter soldados bem treinados. Viu diante de seus olhos quando as coordenadas foram alteradas, mudando-os de sua rota original.

— O que vocês querem conosco?! Somos apenas cientistas em busca de conhecimento nessa galáxia! — tentou argumentar.

— Tsc... — o som tão comum aos humanos foi algo que não imaginou ouvir de outra espécie, o que o deixou desconcertado.
Será que eles tinham contatos com humanos?!

Mas o olhar cruel que Yalam lhe lançou junto com esse som fez seu instinto de sobrevivência gritar e entender que deveria manter-se de bico fechado. Aquele brutamonte não estava para brincadeira e pior ainda, para conversa.
Contudo, não demoraria para que compreendesse que o alvo dessa caçada não era outro, senão ele.

Alguns dias depois...

Uma algema de pura energia foi colocada em volta do seu pescoço.

— Não se afaste de mim mais que dois metros ou sua cabeça explodirá! — o oficial falou em sua língua, apontando o bracelete com caracteres piscando e para ilustrar o que dizia, afastou-se alguns passos.

Ethan caiu de joelhos com as duas mãos na cabeça quando a dor aguda o paralisou; foi como uma poderosa descarga de energia de mil volts diretamente em seu cérebro.

— Aaaaaah... — o grito de dor e aflição ecoou de sua garganta por conta própria.

Que arma maligna era aquela?! Por que esse alien estava fazendo isso?! Foram dias de silêncio e o ignorando, agora esse comportamento?!

— Vejo que entendeu! — Yalam fala indo em sua direção — Vamos, não podemos deixar a rainha de Nebula esperando. Aquela fêmea tem um temperamento ruim e um humano medíocre como você ousou ofender alguém de seu clã... Garanto que teria sido melhor ter morrido agora... — completa com um sorriso maligno.

O homem ficou lívido ao ouvir essas palavras. Sequer saira da estação, então como ofendera alguém tão importante?! Por não estar na Terra, não conhecer as tradições desse povo, sentia-se como se estivesse caminhando para sua própria sepultura. Porém, ficou ligeiramente sem reação ao ser conduzido para uma "prisão", que de longe era melhor do que seu alojamento na estação.
Que merda estava acontecendo aqui?!
Sequer teve tempo de traçar um plano de fuga, pois fora obrigado a seguir atrás daquele brutamonte quase correndo e os dois outros que o seguiam de lado, foram categóricos ao instruí-lo a olhar sempre adiante.
O bom de ser jogado na "cela", foi ter se livrado daquela coleira em seu pescoço. Porque sim, a coisa o fazia lembrar de uma coleira de cachorro, só que mais tecnológica.

Esteve andando de um lado para o outro, observando se no cômodo teria algo que pudesse lhe servir como arma e frustrou-se por não conseguir nada.

— Maldição! — gritou enfurecido chutando a cama, para então retornar saltando de uma perna só, absorvendo em seu pé a dor do impacto, que sequer arranhou o móvel.

Para completar a cena bizarra, tomou um susto tão tremendo que por pouco não gritou. Realmente, estava se desconhecendo. Em poucos dias, se transformara de um homem para um frouxo.
Como diabos não ouvira quando aquela mulher entrou ali?!
O belo exemplar feminino, com suas roupas gregas, estava parada diante de si com uma bandeja nas mãos. Seu rosto era a perfeita imagem da imparcialidade. Não podia distinguir quaisquer emoções ali.
Mas regozijou-se em seu interior por esses aliens serem estúpidos o suficiente para mandarem uma mulher indefesa lhe servir.
Aproveitaria a oportunidade para fugir.

— Eis a sua refeição! — ela fala em sua língua pondo a bandeja sobre uma mesa — Ali é a unidade de limpeza, haverá roupas limpas para que estejas apresentável diante de minha senhora! — apontou o local. — Faça isso o mais breve possível, em um quinto de ciclo retornarei para buscar-te! — avisou.

Ethan a acompanhou com o olhar, medindo seus tamanhos e ignorando suas falas. Essa mulher era de estatura mediana e seu corpo esguio não condizia com o corpo de um lutador, então seria fácil dominá-la.
Sorriu para si assim que ela se afastou, dirigindo-se à saida. Sequer pensou no quão bizarro era uma mulher servindo um prisioneiro potencialmente perigoso.
Num movimento abrupto e violento, tomou seu braço, torcendo-o atrás das costas, enquanto a outra mão repousou no pescoço dela, apertando o quanto imaginou ser o suficiente para cortar seu ar.

— Ajude-me a escapar daqui ou quebrarei seu pescoço. — ameaçou, sentindo-se vitorioso e prepotente em sua macheza.

Nem mesmo achou suspeito ela não emitir um grunhido ou reação de dor.

— Ó...um macho transgressor...?! — as palavras fluíram aveludadas de sua garganta, como se a pressão que estava fazendo não fosse nem cócegas — Devo aplicar-lhe uma devida punição antes de apresentar-lhe diante da mãe de todos...

Ethan sentiu um calafrio ao ouvi-la, ainda assim não foi capaz de desistir da sua presa. Torceu seu braço com mais força, até ouvir um estalo.

— Calada, vadia!

Essas foram suas últimas palavras conscientes. Sequer viu o que ou como fora atingido e voara todo o espaço, caindo em uma pilha mole no chão, do outro lado da cama.
A fêmea veio até ele igual uma fera de filme de terror.
Sua visão borrada, não o permitiu ver como seu seu abdômen foi rasgado, mas sentiu que fora com algo afiado e então, mais uma vez seu corpo foi arremessado, dessa vez contra a parede.
Sua cabeça bateu no mármore duro e ricocheteou, foi como se seu cérebro fizesse um giro de 360°. A dor estalou por toda parte, fazendo-o desejar a morte.
Quis falar, xingar aquela mulher maldita, mas engasgou com o próprio sangue. Estava literalmente se afogando em seu próprio sangue.

Um macho alfa como ele nunca cogitou a possibilidade de uma fêmea de Nebula ser alguém a ser temido. Em sua inocência, imaginou que os brutamontes aliens que avistara ao longe, eram o real perigo. Ledo engano! Certamente os machos eram perigosos e implacáveis na defesa de suas fêmeas, mas elas, de longe eram o elo que mantinha a corrente unida e forte. Elas detinham o poder sobre seus parceiros e os governavam com disciplina. Um deles que se atrevesse a desmoralizar uma delas, estaria cortejando a morte, e as que não tinham vínculos podiam ser ainda mais implacáveis com machos transgressores.
Não foi à toa que Anastácia mandou aquela em especial para cuidar de seu "convidado".
Ela conhecia bem o temperamento dele diante das mulheres e queria lhe dar as "boas vindas", já que chegara inteiro até ali.

Liha olhou o moribundo à sua frente e decidiu parar, por enquanto. Ele estava agonizando e decerto seria punida se não o entregasse com vida à mãe de todos.

— Irmãs?! — chamou em sua língua nativa e a porta se abriu, deixando passar mais duas fêmeas, que estiveram de prontidão, a aguardando do lado de fora — Cuidem para que esse lixo esteja apresentável. Retornarei em breve para buscá-lo! — disse e saiu sem olhar para trás.

Ethan registrou essa comunicação, mas sem entender absolutamente nada. A dor parecia algo mais urgente e apenas permitiu à escuridão lhe reclamar, enquanto as palavras de  Yalam dançavam em sua mente.

"Garanto que teria sido melhor ter morrido agora..."

Talvez ele tivesse razão... Não tinha como essa merda toda melhorar...

Comandante Anastácia: contos Alienígenas Onde histórias criam vida. Descubra agora