QUIMERA

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Maldição!

Todos  haviam adentrado a floresta.
De repente um grito de gelar a espinha a fez correr naquela direção com sua arma a laser em punho, enquanto seu coração disparava, fazendo a adrenalina percorrer todo o seu corpo. Fazia pouco mais de vinte minutos que havia se afastado do grupo, não dava para terem ido muito longe, mas por que não conseguia alcançá-los? Não importava o quanto corresse. Já havia se afastado do módulo e desaparecido entre as árvores. Continuou seu percurso quando outro grito reverberou ainda mais alto que o primeiro, o que a fez atravessar uma densa névoa em busca de quem gritava por socorro.
Quase derrapou nos musgos ao se deparar com uma cena surreal. A sensação que tinha era que havia transmigrado de um lugar para outro. O que não fazia qualquer sentido. Só que não teve tempo para pensar sobre isso, pois adiante viu sua equipe ser atacada por uma besta alien. Um homem jazia no chão com o corpo parcialmente na água. Era um dos oficiais que fazia a segurança da equipe.
Inferno! A cor vermelha que vira antes era o sangue dele.

O bestial tinha uns dois metros de altura ou mais, dois pares de asas que lhe davam um envergadura de pelo menos cinco metros de uma ponta a outra. Sua cabeça e pelos dourados lembrava  um leão. Em sua longa cauda havia uma bola na ponta cheios de espinhos metálicos.

— QUIMERA! — alguém do grupo soltou um grito arrastado, quando o bicho volta a atacar.

O corpo de Anastácia se moveu por vontade própria para chegar nele primeiro e quando se deu conta estavam frente a frente; apertou o deu no gatilho, que acionava através da sua digital, e atirou sem dó. O animal recebeu o ataque e se afastou bruscamente, embora não se pudesse ver quaisquer danos em sua pele.

— Corram para a nave! — ela grita aos seus e acaba se irritando por eles ficarem lá em surto coletivo, mas parados. — Se movam, caramba! — grita por cima dos gritos de pânico.

— Há horas tentamos achar a saída! — um deles diz com voz trêmula, seu rosto está pálido como se não houvesse sangue sob sua pele.

— O QUE DISSE? — Anastácia quer ter a certeza de que não ouviu errado.

— Já fizemos de tudo! Sempre voltamos pro mesmo lugar! É como se estivéssemos andando em círculos. — ele confirma.

Nisso o feral alien investe contra a mulher que o atingiu, fazendo-a saltar de lado e rolar pelo chão, ainda assim consegue feri-la com suas garras dianteiras. Anastácia se levanta segurando o braço ferido de onde o sangue esguicha em profusão. Seu capacete está trincado e seu suporte de oxigênio foi cortado durante o ataque. Ela arranca o objeto, agora inútil, de sua cabeça, lançando-o de lado.

— Aqui bichinho! Nossa brincadeira ainda não acabou. — chama a atenção da quimera ao perceber que ele vai atacar novamente o grupo. Pelo que contou, já tinha três mortos e não podia permitir mais baixas. — Sigam por dentro do córrego! — Ordena por entender que se o sangue pode atravessar pro outro lado por essa via, eles também poderiam.

— Não podemos deixá-la aqui, comandante! — o último oficial de pé se opõe.

— Não é um pedido! É uma ordem, se alguém desobedecer será considerado motim. Retornem para o módulo, eu irei logo atrás. 

Nesse momento, eles vêem abismados sua comandante se lançar contra o feral apenas com um punhal na mão. A mulher parecia a aparição de uma deusa guerreira.

— Vamos ver do que sua pele é feita bichano! — ela deliberadamente o desafia, enquanto salta sobre ele.

Sua genética modificada faz com que leve vantagem sobre os demais e tenha muita força física, no entanto isso não seria suficiente para matar um animal alienígena que ela sequer conhecia o ponto fraco.
A quimera a acerta com o rabo, fazendo-a desabar no chão e se dobrar de dor. Aquela coisa tinha muita força e a mulher diante de si sabia que não tinha a menor chance se continuasse caída daquele jeito. Ela precisava arranjar mais tempo para sua equipe conseguir escapar.
Assim, quando o feral veio fungando sobre o seu corpo, acertou o pé num dos seus olhos com toda força que possuia. O ataque inesperado o fez rugir furiosamente, foi quando ela viu aparecer um terceiro olho bem no meio da testa dele.

Foi algo totalmente instintivo que a fez rolar para pegar seu punhal caído no chão e depois enfiá-lo no lugar onde avistou o terceiro olho. O feral caiu mole no chão e ela cambaleou e caiu de bunda. Porém, não pode descansar, nem avaliar os próprios ferimentos, porque subitamente ouviu rugidos ensurdecedores e olhando para a linha do horizonte avistou mais quimeras se aproximando num vôo muito rápido;  esses tinham o dobro do tamanho do que acabara de abater, o que a fez ter a certeza de que matara um animal jovem. Não tinha como enfrentá-los, nem se estivesse em boas condições, pior ainda estando toda arrebentada. Fez então o mais lógico a se fazer; correu na direção do módulo. Os outros já deviam estar bem adiantados, pois lhes dera tempo suficiente para isso.

Ao contrário do que eles haviam dito, ela demorou apenas alguns minutos para atravessar a neblina usando o córrego, mesmo assim, tinha a sensação de ter feito um traslado.
De longe viu a nave levantando vôo, o que a deixou confusa, fazendo-a correr mais rápido.
Como assim? Ela não lhes dera ordem de partir.
Acenou e gritou para que reparassem nela, mas foi em vão. Quando os propulsores foram ligados, a onda criada a lançou a metros de distância.
Enquanto jazia no chão, observou um dos pesquisadores bater na janela e gritar. Com certeza a estava vendo ali e tentava chamar a atenção do piloto.

— O que estão fazendo? — ela se comunica com o módulo através do seu comunicador de pulso.

— Não somos nós! — o oficial a bordo revela — Nos comunicamos com a estação e falamos o que houve aqui. Fomos ordenados a retornar. Recusei a ordem e o piloto automático foi acionado! Não consigo impedir!

— Quem deu a ordem?! — é a pergunta dela.

— O comandante interino!

Nesse momento, a comunicação foi interrompida por um grito da Anastácia. E logo depois, só o silêncio, o que os levou a crer que algo grave acontecera a ela.

— Comandante? — o oficial a chamou e insistiu por muitas vezes mais, mas apenas estática se ouvia.

Enquanto isso, a mulher havia sido cercada pelas quimeras e em vão tentara lutar por sua vida. Depois que uma delas a derrubou, não teve mais forças para se levantar. Encarou-os com respeito, enquanto sua consciência oscilava. Eles eram oponentes dignos. Sequer podia culpá-los pelo que estava acontecendo, já que fora ela que invadiu seu território.
Quando eles pousaram bem próximos de si, teve a nítida impressão de ter visto um homem de cabelos dourados montado sobre o feral que estava à frente dos outros.
Não podia ter certeza se isso era real ou uma ilusão.
Um anjo seria tão belo?!
Não tinha mais forças para permanecer consciente; apenas deixou-se arrastar pela escuridão que a reclamava.

Talvez aquele anjo a esperasse do outro lado.

Comandante Anastácia: contos Alienígenas Onde histórias criam vida. Descubra agora