Raggedy tee and Tastes

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☆ Cigarettes out the Window ☆
- TV Girl

Andrew sempre sai do quarto para fumar depois de me beijar, isso é tão frequente quanto o fato dele sempre aparecer em minha porta tarde da noite. É como um conto, onde todos os personagens já sabem o que vai acontecer na vida patética deles, e infelizmente eu sei o roteiro de todas as minhas noites mal dormidas.

Andrew entra, tira seu casaco, joga ele no chão, vem e me beija.
Andrew para, suspira e me deixa.

Seus beijos são apressados e obscuros, escondem tudo o que ele sente. Escondem tudo o que ele tenta. Escondem tudo o que ele pensa.

Seus beijos são ótimos, são extasiantes, embriagantes, excitantes, só estou dizendo o mínimo é claro.
Seus beijos me deixam sem ar, tiram o fôlego de meus pulmões e liberam ele pela minha boca como um canto feito apenas para que os melhores deuses pudessem ouvir.
Seus beijos me enlouquecem, me umedecem, eles me entristecem.

Meu Andrew, se é que posso chamá-lo assim, sempre vai para a sacada fumar cigarros quando não consegue dormir. Sempre fuma por horas quando não consegue me tocar. Ele desaparece através da minha cortina e quando volta vai direto ao banheiro escovar os dentes, nunca me olhando quando o faz.

As noites são silenciosas em L.A., especialmente em meu apartamento, especialmente quando Andrew está.
Ouço apenas o barulho dos carros que invadem meu quarto, eles se esgueiram pela janela aberta e preenchem o cômodo de forma estranhamente agradável.
Andrew nunca fala, ele entra, me beija por alguns minutos e sai para a sacada.
E então ele volta, me ignora na cama, entra no banheiro e escova seus dentes por quase meia hora.

Vejo suas costas largas se mexerem ritmadas enquanto o mesmo faz sua higiene pós fumo em meu banheiro.
Ele sempre mantém a porta aberta, como se quisesse que eu visse o esforço que ele faz para tirar o restante da nicotina de sua boca, como se esse ato falasse por si só. "Veja! Estou tentando largar o fumo, está vendo? Faço isso por você!" Claro que essa última exclamação é só um fruto de minha ingênua cabeça tola.
Mas me pergunto, se ele deixa a porta aberta para me mostrar o esforço de se limpar, então porque toda vez que ele volta a me beijar consigo sentir o gosto amargo em seus lábios?

Ele apenas volta para mim quando se afasta da pia, seus olhos baixos e inquietos olhando para qualquer coisa que não seja a imensidão azul de meus olhos.
Suas mãos úmidas por estarem na água a apenas alguns segundos atrás.
Seus lábios gélidos e levemente avermelhados se chocando contra os meus, se aquecendo com os meus.
Seu gosto amargo misturado com o frescor da menta me embriagando, caçoando de sua tentativa falha de se livrar dele.
Sua língua invadindo minha boca, guerreando com a minha e tirando meu fôlego o dedicando aos deuses.
Mas sinto que Andrew é egoísta o suficiente para não permitir que os deuses me ouçam clamar, Andrew é egoísta o suficiente e me faz dedicar meus gemidos apenas a ele.

Quando ele termina de depositar seus beijos selvagens em meus lábios ele se levanta, segue em direção a porta e me dá uma última olhada.
Seus olhos amendoados me encaram e dizem tudo o que Andrew nunca disse em nenhuma dessas nossas longas noites, "eu irei largar, prometo." eles sussurram, "eu irei parar, prometo." Apenas silêncio.
Toda madrugada depois que Andrew me deixa, me pergunto se não é apenas minha imaginação, se não é apenas uma amarga e desastrosa esperança, que me faz pensar que os olhares de pesar que ele me manda são suplicantes desculpas e vazias promessas.
Sempre penso que ele vai largar seus vícios, que ele vai me tocar mais, me beijar mais, me desejar mais. Porém ele nunca o faz.

Às vezes, quando Andrew está na sacada, me pego questionando o que ele faz quando acaba de extravasar.
Imagino que ele apenas jogue as guimbas dos seus cigarros na rua logo a baixo, ou talvez ele acabe por mastigar elas para que seu gosto persista.

Inexplicavelmente gosto do cheiro do seu cigarro que fica pela casa.
Gosto da forma em que a rala fumaça entra através de minhas cortinas e se dissipa com a ajuda do vento quieto que vem de fora.
O mesmo vento que permite que os sons da rua entrem sorrateiramente pela janela, o mesmo vento que trás o perfume de Andrew em minha direção, preenchendo minhas narinas.
O cheiro dos seus cigarros gruda em sua roupa, sinto esse cheiro por todo meu pequeno apartamento, mesmo depois de horas após a partida do mesmo.
Gosto do calor mínimo que a fumaça deixa, gosto do pouco cheiro que permanece em minha blusa depois de Andrew se esfregar em mim, mesmo que de forma mínima.

Enquanto ele está aqui o cômodo permanece escuro, sendo iluminado apenas pelas luzes dos outdoors que ficam do outro lado da rua.
Sinto que ele preferiria se estivéssemos no breu total, mas ele deveria saber que nunca é realmente escuro em Los Angeles.
As luzes dos prédios sempre brilham, os enormes outdoors ofuscando até mesmo as estrelas.
Mas os anúncios já mudaram umas 13 vezes desde que ele partiu.
E eu permaneço em minha cama vendo as luzes da cidade dançarem pelo chão do meu quarto, me perguntando como seria tocá-lo, como seria tocar o inalcançável.

Andrew entra a noite, sai de madrugada e volta na noite seguinte.

Seu cheiro permanece, seus leves e raros toques permanecem, seus olhares pesados me encarando da porta permanecem.

As noites são sempre assim, vazias.
E, apesar de não gostar de mudanças, não sinto que consigo acompanhar se meu cotidiano continuar assim.
Se Andrew continuar assim.

Mas isso é um pouco melodramático, não acha?

Cigarettes Out the WindowOnde histórias criam vida. Descubra agora