Floresta ☂

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Por isso eis que dias vêm, diz o Senhor, em que este lugar não se chamará mais Tofete, nem o Vale do Filho de Hinom, mas o Vale da Matança. Jeremias 19:6

O assobio do vento forte e constante era uma das poucas coisas perceptíveis em meio ao breu na rasa trilha daquele caminho assombroso. Quase não viam a si mesmo e escassos eram os recursos para seguir em frente. Corações inquietos e respiração compassada.

O cheiro de terra molhada denunciava a chuva que havia passado por aquele mesmo caminho, o que indicava que o dilúvio de sempre não daria as caras pelos próximos minutos, assim era o esperado e por isso arriscaram ir além das cercas de proteção.

Enorme era o risco que a chuva trazia consigo, já que a sensação de não ouvir, ver e sentir cheiros, se tornava ainda maior do que em qualquer outro momento. Quando o céu permitia que as águas caíssem sobre a terra, o perigo se transformava em silêncio e a quietude acompanhava-se da perturbadora sensação de paz, angustiante e falsa paz.

Aquele que lentamente caminhava um ou dois passos à frente, parou e levantou o fuzil semi-automático com seus 20 cartuchos mais do que bem carregados e os que vinham atrás, entenderam o claro alerta para que prestassem atenção nas próximas instruções. Com a mão livre fez sinal para que os demais seguissem pelo lado Oeste, e assim foi feito, com exceção do Kim que continuou em seu encalço, em direção ao Norte, escoltando seu companheiro.

Apesar da clara instrução para que todos fossem pelo Oeste, não o deixaria sozinho, era perigoso demais.

Os olhos afiados procuravam qualquer sinal de perigo em meio a escuridão de uma noite fria de lua cheia, apesar da estação ser verão, parecia mais o inverno, e ainda assim sentia o suor escorrer pela testa tamanha era o nervosismo por estarem em uma área desconhecida.

Checar o perímetro sempre seria um desafio árduo, mesmo para os veteranos, mesmo após tantos anos.

Somente atrás das cercas consideravam seguro. Não que o alojamento estivesse isento do alcance das criaturas, mas a partir do momento que estivessem um passo atrás dos arames com fortes grades de proteção, com seus companheiros e sob a guarda do Líder e de seu irmão mais velho, poderia então, soltar o ar e se sentir ao menos um pouco relaxado. A grande questão, é que neste momento, estavam muito longe das cercas, em direção a uma região daquela mata que nunca antes havia sido checada.

E quanto mais andava, mais o lado Norte da floresta se comparava a um labirinto perverso e traiçoeiro.

O maior número de perda de sobreviventes acontecia nas missões para reconhecimento de área. Onde só os mais experientes formavam um pequeno grupo de pessoas para checar determinado local. Nem sempre tinham sucesso em encontrar uma área limpa, era quando, na maioria das vezes, perdiam bem mais do que ganhavam.

Mau pressentimento.

Aquele era um mundo diferente. Onde os mortos em seu estado físico e deplorável habitavam a terra, e em uma quantidade muito maior do que os vivos. Criaturas nojentas e apodrecidas governam aquele mundo.

Localização: Província de Effluvia.

Talvez fosse um consolo imaginar que essas criaturas existiam desde tempos imemoriais. Como seres sem vida mascarados de humanos, que encontravam prazer em presenciar o mal acontecendo aos outros, sugando suas energias e destruindo famílias cultivando a inveja pelas conquistas alheias, alimentando-se de corações sensíveis. Agora, uma grande parcela dessas criaturas poderia realmente se alimentar e contaminar as poucas pessoas que sobreviveram àquela catástrofe.

Apocalipse Zumbi.

A morte alcança a todos, e essa é a certeza mais assustadora. É a única verdade incontestável que representa um fim inevitável e de valor universal. No entanto, jamais na história da humanidade tantos pereceram e, ao mesmo tempo, continuaram a vagar sobre a terra. Nunca antes o ceifador exerceu tão cruelmente sua amada função.

Eflúvio | HopekookOnde histórias criam vida. Descubra agora