Choque

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Eulália estava em choque com o local selecionado para ela se hospedar no período em que fossem endireitar a duquesa.

Apesar de ser um aposento simples, em tons pastéis terrosos igual a um quarto de hotel, havia uma tranquilidade de quem poderia ficar naquele quarto sempre, reforçada pela maresia que vinha da varanda, cuja vista para o mar era reconfortante e com ar de paraíso.

Não era como seu quarto no apartamento onde vivia, pequeno e repleto de informações, já que o guarda-roupa tinha que ter suas roupas, livros, enxoval e até mesmo os DVDs dos filmes que colecionava. Aquele quarto caberia todo o seu apartamento, se bobeasse.

Enquanto ela arrumava suas malas e outras coisas pessoais (não levou tudo de sua casa, considerando que ficaria por algum tempo no duplex de Esther), a jovem foi recebida por um grupo bastante curioso e preocupado, demonstrando esse sentimento através de cenhos franzidos, olhares de soslaio, e palavras ditas em voz baixa.

- A senhorita vai ser a babá de duchēsi Esther Menelik?

- Aw. – a jovem esbanjou o melhor sorriso que ela poderia apresentar naquele momento tão complexo. - Eu sou Eulalia Bergen, mas podem me chamar de Lália. E vocês?

A camareira se chamava Judite, enquanto a faxineira era Maria José.

- É impressão minha ou praticamente todo mundo em Axum tem nomes com referências bíblicas?

- Bastante provável, porque Axum é a ilha onde os católicos chegaram primeiro. Apesar de Santa Cecília, a capital do país, ser em Aragón, a devoção a ela começou aqui. - Explicou Maria José, segurando o seu colar com a medalhinha da santa.

- Que Ela te proteja e que Todos os Santos e Anjos te cubram de bênçãos, Srta. Bergen! – prosseguiu a faxineira. – Porque Sua Graça, a Duquesa, não é fácil.

- Eu reparei nisso. Mas comigo aquela ali não se cria, não; ela já sabe qual apelido que eu dei a ela, e se não gostar da minha forma de trabalhar, eu vou chamá-la de duquesa borracha!

As duas mulheres levaram as mãos ao peito, em choque. Era muito raro alguém desqualificar ou criticar a duquesa, afinal de contas, era a figura mais importante dentro de Axum, logo após o duque Bento.

Lália notou a reação de Judite e Maria José e tratou de acalmá-las:

- Não se assustem, garotas! Eu não tenho o menor problema em falar mal da duquesa ou em esculhambar nobres. Minha melhor amiga é a rainha dos pais.

Enquanto o trio conversava, era possível ouvir, durante as respostas das outras empregadas, os gritos de Esther, ainda revoltada porque teria uma babá a acompanhá-la. A cada grito e xingamento em amárico, Eulalia revirou os olhos e respondia:

- Uma hora ela aquieta. Ou se cansa de gritar ou perde a voz. Vou torcer pela segunda opção.

Após se despedir de Judite e Maria José, e se sentir bem instalada no quarto, Eulalia decidiu buscar o notebook e conversar com os pais, irmãos e amigos, contar o que estava acontecendo e mais sobre onde ela estava instalada.

Com as amigas, outrora as "Solteironas da Floresta Azul" (título que somente Lália acabava por carregar), a conversa era sobre as novidades das meninas, casamentos e fofocas reais que só Carmen conhecia.

Na chamada de vídeo estavam Dolores, que já estava de volta a Azzurro após a viagem de lua-de-mel no Egito...

- Optamos por morar no Palácio de Inverno, em Calábria... – a jovem conversava tocando a barriga, bem grande, indicando a gravidez avançada.

- Calábria? – Frances, que não era uma pessoa de se surpreender muito, não disfarçou o espanto ao ouvir as palavras da princesa. – Por que você não foi morar na corte junto com Carmen?

A Duquesa (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora