Judite e Maria José precisavam se acostumar com a nova dinâmica no duplex.
Geralmente, as duas viam tanto Esther quanto Eulalia saindo do mesmo quarto, abraçadas ou uma fazendo cosquinha na outra, para logo depois chegarem até a cozinha e trocarem ideias sobre como fazer o café.
- Eu gosto de café forte, e você sempre colocava um café mais aguado do que qualquer outra coisa.
- Por que você nunca questionou isso, Esther? Essas coisas se verbalizam, não fica escondendo!
- Vossa Graça... – Judite decidiu falar. – Se a senhora quiser, nós podemos...
- Não precisa se preocupar. Minha namorada vai explicar como é que faz um bom café e eu vou começar a fazer sozinha, enfrentando essa cafeteira. Não creio que seja complicado... – a nobre olhou para Eulalia, depois para as empregadas, e por fim encarou a cafeteira, comprimindo os olhos como se estivesse enfrentando seu pior inimigo.
A babá cruzou os braços, observando como Esther lidava com o aparelho, tangenciando o dedo em algum botão com medo de apertar e o resultado ser o contrário do que desejava.
- Ester, mar, a cafeteira não vai te morder.
- Quem me garante?
O clima animado foi interrompido por diversas batidas na porta, logo convertidas num virar de chave. O grupo estranhou, já que poucas pessoas tinham a cópia da chave do duplex... A menos que fosse o irmão da duquesa.
Bento Menelik caminhou a passos largos, sem se preocupar em se fazer presente ou cumprimentar as pessoas que estavam ali. Assim que ele ouviu os sons de pessoas se aproximando da sala, percebeu aquilo que já tinha visto nos tabloides, mas não queria acreditar.
Sua irmã e a babá, a plebeia, de mãos dadas, em sincronia.
- Você sabe qual é o acordo?
- Esse acordo não foi assinado por mim. - Esther não se rendeu às palavras duras do irmão. - Foi uma decisão unilateral porque eu estava fazendo besteiras, e sou uma pessoa diferente, mas eu acho que vale a pena fazer algo por mim, no meu país, com...
- É um acordo entre famílias aristocratas que vai fortalecer a nossa posição dentro de Azzurro e nas famílias reais europeias que ainda existem. Você não pode ficar rompendo contratos como se isso fosse um passeio no parque. Você tem responsabilidades, Esther.
- É por eu ter responsabilidades que estou dizendo: não vou me casar com a mulher escolhida por você, windim.
O termo afetuoso não vinha com mel dos lábios da aristocrata. Esther vinha também em modo belicoso.
- Mas você deve fazer isso, senão...
- Senão vai fazer o quê? Me interditar, pegar minha fortuna? Não faz muito sentido, porque eu sou uma mulher sã, com as minhas faculdades mentais intactas, e meus contadores estão cuidando de tudo muito bem. Obviamente, no período em que você e Eulalia... – ela virou os olhos na direção da namorada, as duas trocando expressões de quem guardavam algum tipo de piada interna – estiveram com o controle dos meus cartões do banco, eu poderia muito bem acionar os contadores, mas é provável que eles estivessem com você no controle das minhas finanças... Eu andava tão borracha, como diria Lália... – sorriu. – Mas agora? Qual seria a razão para tomar o dinheiro que é meu? Ou você vai me colocar num hospício?
- Você sabe do que eu sou capaz de fazer.
- Então faça Bento. Mas é melhor se preocupar porque terá um escândalo.
Bento direcionou sua quieta fúria para Eulalia, ainda de mãos dadas com Esther:
- Acredito que não queira se encalacrar em um conflito bem acima de sua compreensão.
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A Duquesa (livro 3)
RomanceNo paraíso mediterrâneo de Azzurro, onde o mar é azul e as cidades possuem uma mescla de tradição e modernidade, Eulalia Bergen, mais conhecida como Lália, é uma babá requisitada na ilha de Axum, não apenas por sua competência e cuidado com as crian...