Confesso que adoro escrever as falas de Esther tomando chá de realidade...
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Esther Menelik não podia acreditar na ironia do destino.
Agora ela estava do outro lado da bancada - ao invés de ser a mulher servida, ela estava servindo.
- Indemin aderatschu! Quero um vestido de gala para uma festa de aniversário no Grande Hotel.
O hotel em questão era o mais importante e caro de Vermiglio. Esther tinha frequentado diversas festas naquele local.
Reconheceu a mulher à sua frente como Miriam Kiros, uma aristocrata amiga da família da duquesa. Curiosamente, a mulher não parecia saber que a funcionária à sua frente era a irmã de Bento Menelik.
Pelo contrário: Esther notou que Miriam a olhava de cima a baixo antes de prosseguir, impaciente:
- Deseja uma cor em específico?
- Quero um vestido, e alguém que me ajude a escolher. É você quem fará isso?
Esther segurou a vontade de dizer poucas e boas para a mulher que ela conhecia de vários eventos na casa de seu irmão; mas lembrou-se de algo muito importante: "eu não tenho dinheiro, preciso de dinheiro, então terei de engolir o meu orgulho." Ela chamou outra funcionária, que sorrindo de tal maneira que o riso parecia rasgar a face, conduziu Miriam Kiros para dentro da loja. Esther voltou até a recepção, colocando os dois cotovelos na bancada a mão no queixo respirando profundamente.
De certa forma, ela ficou aliviada por não ter sido reconhecida tão facilmente, já que estava de uniforme: uma saia lápis na cor verde, um blazer de botões dourados também na cor verde porém mais clara, os cabelos dispostos em um coque austero, sapatos de salto quadrado, blocado e baixo; além da recomendação da dona da loja que ela não usasse maquiagens extravagantes tampouco brincos que mostrassem mais do que o necessário.
- Roupa horrível, brega, cafona! Quinze pessoas devem ter usado isso antes de mim... Pegarei urticária!
- Eu ouvi você falando mal do seu uniforme de trabalho, Esther... A nobre foi surpreendida pela aparição de Eulalia Bergen bastante sorridente, como se ver a nobre ali fosse a coisa mais interessante e mais feliz de sua vida. Esther imaginava o motivo: a babá devia estar adorando vê-la naquela situação que a aristocrata considerava humilhante.
- Estou vestida mal e porcamente, e ainda fui tratada feito lixo por alguém que eu conheço. E que nem me reconheceu.
- Bem-vinda ao mundo dos assalariados, Esther.
- Mas o que você está fazendo aqui, plebeia? Veio comprar um vestido? Sei que não tem um euro para comprar sequer um lencinho aqui.
- Não tenho interesse, as roupas aqui são muito matronais pra mim. – deu a língua ligeiramente. - Vim aqui para entregar uma coisa que você esqueceu: seu almoço.- a jovem entregou uma marmita enrolada por um pano azul turquesa, juntamente com um saquinho plástico contendo garfo e faca, além de guardanapo de papel.
Esther ficou surpresa, movendo a cabeça para trás, como se tivesse soluçado. Não imaginava que Eulalia apareceria com comida, e não tinha se lembrado de que teria de levar almoço de casa.
- Pensei que tinha alguma cozinheira aqui para fazer minha comida.
- Ninguém vai cozinhar nada pra você, Esther. Todo mundo que trabalha tem que levar sua marmitinha. Com certeza, deve ter algum microondas aqui para você esquentar, mas tá quentinho. Foi Sara quem fez.
A moça citada era a cozinheira do duplex.
- Pensei que você ia fazer minha comida...
- Pensou errado, duchēsi.
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A Duquesa (livro 3)
RomanceNo paraíso mediterrâneo de Azzurro, onde o mar é azul e as cidades possuem uma mescla de tradição e modernidade, Eulalia Bergen, mais conhecida como Lália, é uma babá requisitada na ilha de Axum, não apenas por sua competência e cuidado com as crian...