Aquela talvez estivesse sendo a amizade mais improvável da Cidade Celestial: Pei Ming e Xie Lian. Quem diria! Um mulherengo e um monge! Os dois conversavam com frequência na matriz de comunicação sobre as batalhas em que estiveram, as armas que utilizaram, as fofocas do céu e, principalmente, contavam as histórias de amor.
Mu Qing e Feng Xin já estavam até um pouco enciumados da situação e Shi QingXuan chegava a se revoltar com essa nova parceria.
- E EU?? SÓ PORQUE EU SOU UM DEUS EMÉRITO? VOU PERDER SUA AMIZADE TAMBÉM? - Com um misto de drama e tristeza, o Mestre dos Ventos se jogava no chão esperneando no chalé que Xie Lian tinha construído.
- Não. Você sempre será meu amigo e um amigo muito especial. A diferença apenas é que com General Pei Ming... Eu consigo falar tranquilamente sobre San Lang sem me sentir julgado.
- Não estamos te julgando, Sua Alteza. - Shi QingXuan se levantou todo sujo da poeira do chão. - Apenas não queremos alimentar no teu coração algo que pode te fazer mal.
- Eu sei... Mas é difícil.
Afinal se fazia 9 meses desde a partida de Hua Cheng. O colar com o anel permanecia em seu pescoço, o que dava a possibilidade da volta do amado. Porém, a esperança que tarda em se cumprir fere o coração.
Esses três meses só não foram mais difíceis porque seu amigo Pei Ming estava lá, levando bons pratos de comida, fazendo pequenas batalhas e até levando alguns jogos para os dois passarem o tempo juntos.
Isso estava sendo muito positivo, até Xie Lian ter um sonho estranho ao dormir.
Neste sonho ele estava no Templo Qiandeng brincando com um castelo de folhas de ouro. Ele havia conseguido montar um bem bonito, alto e imponente. Queria que aquilo não desabasse. Ao lado dele estava Pei Ming, alisando discretamente o cabelo do colega oficial celestial.
- General, eu construí isso com tanto carinho. Não quero deixar cair o castelo.
- Por que a preocupação? Estou te atrapalhando? Não pareço estar. O castelo de folhas ainda está inteiro. - A mão de Pei Ming perpassava desde as mexas até o ombro, tocando a pele de Xie Lian que sentia um leve frio na espinha.
- Apenas... Me distraindo um pouco.
- Qual o problema de se distrair? - A voz de Pei Ming já não estava mais longe, mas perto de sua orelha, como desse para sentir o calor do hálito por todo o pescoço. Quase que naturalmente, Xie Lian vira para o General e sente os lábios se encontrarem num toque suave de corpos. Um leve encontro que fazia queimar todo o corpo. Ao separarem as bocas, seus olhos se encaram. - Viu? Olhe o castelo de folhas de ouro. Ele permanece inteiro.
Apesar das palavras, o corpo onírico de Xie Lian já não raciocinava mais. Com uma das mãos simplesmente destruiu totalmente o castelo que havia construído e voltou de modo sedento aos lábios de Pei Ming. Os dois trocavam saliva e toques por todo o corpo. Com suas mãos, passava os dedos por dentro da armadura do amigo, sentindo a pele firme e combativa de um guerreiro. Tirou então a vestimenta de guerra, o deixando com a blusa debaixo, que nem no dia que tomou banho. Queria ver mais.
Pei Ming, em contrapartida, nem esperava para ver mais. No sonho, ele tirava a vestimenta branca e passava a língua pelo corpo do sacerdote taoísta que fervia com cada detalhe. A boca descia até o pênis daquele que sonha, que recebia os estímulos com o membro absolutamente tensionado.
A entrega aumentava, só que igualmente vinha a angústia no peito, algo estranho, como que outra presença estivesse ali. Uma voz familiar, não muito distante veio de modo choroso naquela cena:
- Gege?
E, naquele momento, Xie Lian acorda assustado, muito assustado.
- San Lang? - Sem pensar direito, começou a ir como a todos os cômodos procurando saber se seu amado havia voltado. Foi a varanda, a cozinha, olhava dentro de potes, até mesmo nos cantos. Nada. Chegou a ligar várias vezes pela matriz de comunicação espiritual a He Xuan, mas também nenhuma resposta. Também ligou para Ling Wen para tirar uma dúvida:
- É possível que alguém entre em seu sonho?
- Sua Alteza, somente demônios muito especializados e fortes poderiam fazer algo desse tipo.
- Como Hua Cheng, não? - Um pequeno temor subiu.
- Não, Sua Alteza. Se ele está sem força de manter sua forma corpórea, dificilmente conseguiria ter força e entrar num sonho. - Xie Lian suspirou em alívio discretamente. - Por que, Sua Alteza?
- Ah... - Como explicar? - Eu tive um sonho ruim e não queria que meu amado tivesse dúvida de minha paixão.
- Não se preocupe, Sua Alteza. Todos nós já tivemos sonhos que não nos orgulhamos. É compreensível e impossível para o Rei Fantasma ter acessado ele. Não se preocupe.
As palavras de Ling Wen foram bálsamo. Ele não estava ali e, pela primeira vez, Xie Lian parecia feliz com isso. Um sentimento de dor e culpa veio ao seu coração. Não havia nenhuma dúvida que amava Hua Cheng, que queria passar o resto da eternidade com ele. Porém, como lidar com esse sentimento que crescia?
- Tomarei um banho frio e vou recitar os sutras para relaxar.
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Alguém que me entenda.
Hayran KurguAo final da luta com Jun Wu, Hua Cheng se dissolve em centenas de borboletas, deixando Xie Lian solitário, na espera da volta do seu amado. Shi QingXuan, Mu Qing e Feng Xin tentam o consolar, mas o que eles sabem sobre uma verdadeira paixão? Talvez...