[ 𝟟𝟡 ] 𝑪𝒐𝒏𝒇𝒊𝒔𝒔𝒂̃𝒐 𝒂𝒐 𝑺𝒐𝒍

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Só ri das cicatrizes quem ferida nunca sofreu no corpo.
Silêncio! Que luz se escoa agora da janela? Será Julieta o sol daquele oriente? Surge, formoso sol, e
mate a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza.
ROMEU E JULIETA, ATO II, Cena II


Voldemort está morto.

Assim como toda a família de Stella Mountbatten.

É o que passa pela mente da pequena garota que observa o sol subir gradualmente no horizonte, de onde ela está no que restou da Torre de Astronomia. A guerra acabou há algumas horas, e felizmente todos seus amigos estão bem. Entretanto, o mundo parece ainda estar se acostumando com a paz.

Vivo. Vivo. Ele está vivo.

Draco Malfoy sente a pequena mão de Stella tremer contra sua, apertando seus dedos de forma espasmódica. O loiro vira a cabeça para encarar a garota de pé ao seu lado fragilmente, com as vestes rasgadas e o cabelo ensanguentado. Ela parece à beira do abismo, como se travasse uma dança medonha contra a morte e estivesse perdendo.

Stella levanta a cabeça para fitar Malfoy, vendo sua pele pálida coberta de arranhões e escoriações. Madame Pomfrey havia examinado-o após sua colisão contra a parede e, milagrosamente, os ferimentos que tinha foram curados com alguns feitiços e poções. A loira também foi medicada, uma vez que após a adrenalina esvair-se de seu sistema ela mostrou-se incapaz de parar de tremer. Madame Pomfrey disse que Stella carregaria para sempre essa sequela. Como se, embora as Maldições Cruciatus que sofrera houvesse cessado, seu corpo jamais fosse capaz de se recuperar totalmente de todo sofrimento.

Vivo. Vivo. Ele está vivo.

"Eu não sei o que faria se você tivesse morrido" Stella confidencia, a voz não mais que um sussurro, enquanto mergulha nos olhos prateados do amado.

"Estou aqui" Draco promete, a luz do sol refletindo lindamente sobre seu rosto. Stella suspira, sentindo seus músculos ainda tensos relaxarem minimamente. "Como você está?"

"Mal" Stella responde, honestamente. Sente seu coração doer por cada perda que teve nos últimos meses, e se questiona se algum dia essa dor desaparecerá. "E você?"

"Mal" Draco ecoa, a sombra de um sorriso aparecendo em seu rosto. Stella também sorri levemente com o humor ácido, porém rapidamente qualquer resquício do sorriso desaparece de seu rosto quando ela desvia o olhar. Como se ela fosse fisicamente incapaz de tal ato.

"Estamos quebrados, Draco." Stella olha tristemente para o sol que corajosamente avança contra a noite no horizonte, tentando vencer a noite. Sente que o mesmo acontece dentro de si: sua parte boa tenta a todo custo vencer sua parte corrompida, a escuridão sem fim de sua alma que parece pairar eternamente em seu âmago.

"Eu sei" Draco sussurra, também olhando para o céu à sua frente. De alguma forma, ambos parecem completamente diferentes daqueles dois adolescentes que esgueiravam até à Torre da Astronomia para selarem beijos proibidos no quarto ano. Agora, são dois jovens marcados pela guerra, pela morte e pela dor.

Stella pensa em todas as atrocidades que cometeu. Todas as pessoas que feriu. Todas as pessoas que matou. E, enquanto encara o horizonte, sente em seu coração que deve confessar ao sol sua perversão.

"Eu sou uma assassina. Matei meu pai e minha madrinha." Stella sente seus olhos arderem com novas lágrimas, que escorrem por seu rosto sujo de fuligem e sangue. "E eu não me arrependo nem por um segundo."

"Eu trai o amor de minha vida, mantendo escondido dela segredos que feriram todo o mundo bruxo" Draco também confessa seus pecados, fitando o sol, como se buscasse redenção. "O pior é que faria tudo isso de novo se fosse para mantê-la segura."

INIMIGOS • draco malfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora