Capitulo V - A Fazenda

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TALVEZ ESTEJAM SE PERGUNTANDO: Por que razão alguém faz tanta questão de estar numa fazenda? E para mim, não há melhor maneira de responder a essa pergunta  do que com uma história:

Nossa fazenda sempre foi a representação do amor e da união, mesmo quando ainda era dividida entre as duas famílias. Lembro-me que o Sr.Marcelino não permitia que minha mãe fizesse trabalho nenhum. Ele mesmo cuidava com prazer de toda a fazenda e dividia os lucros de forma justa. "Muito respeito por aquele senhor."

O forte das terras sempre foram as  plantações de milho e de trigo. Tínhamos as melhores lavouras da região e mesmo não semeando em quantidade suficiente para obter grandes lucros, ficávamos bem afrente das outras fazendas no quesito qualidade.

Lembro-me que foi por intermédio das parábolas do Sr.Marcelino que desabrochou em mim o amor pela agricultura. A  satisfação em preparar a terra, torná-la fértil, plantar e depois colher o que se plantou era única. Falar disso soa até poético, sabe? E Sr.Marcelino falava da agricultura com tanta maestria, que ao som de sua voz a terra se transformava numa musa e recebia os mais belos galanteios. Era lindo de se ver e ouvir.

— A terra é o verdadeiro exemplo de reciprocidade, meu filho... — falava ele, certa vez, enquanto adubávamos  as covas enfileiradas. Estávamos a fertilizar a terra para depois implantar as sementes e, dentre todos os processos, essa era o favorito do Sr.Marcelino.

— Como assim reciprocidade? — Perguntei.

— É que quando você cuida das terra  com o amor devido,  ela te dá, em tom de gratidão, os melhor  fruto e com a melhor qualidade. Mas se você não cuidar dela, tem risco de nem germinar o que tu plantou.

O senhor levantou a cabeça e varreu a fazenda inteira com um olhar afável.

— Por sorte, meu filho... O pedaço de terra que corresponde a nossa fazenda é santo. Toda a vida que nasce sobre ela nasce saudável, floresce e dá muito fruto.

— Isso é por que o senhor cuida muito bem das nossas terras.

— Pois é... Mas um dia essa responsabilidade há de ser sua, viu. E eu espero sinceramente que você cuide de tudo com muito amor.

— Eu vou! — Respondi emocionado.

Ele olhou pra mim orgulhoso, abanou a cabeça positivamente e continuou seu discurso. Falou de toda a fazenda e da beleza que nela havia enquanto eu o ouvia e me deleitava em cada palavra sua. Pois, além de ensinamentos, para mim aquela era também a típica conversa de pai e filho que eu nunca tivera. Receber conhecimento de alguém que por merecimento se tornou uma figura paterna para mim me fazia muito feliz.

Entretanto, ao contrário de mim, naquela época, Leninha (que agora exigia ser chamada de Yelena) desenvolveu um desinteresse profundo por tudo que tinha à ver com a fazenda e se liberou dos deveres que possuía. O gosto por rapazes entrou em sua vida por intermédio de duas amigas chatas, que a aconselhavam sobre o que gostar, quem gostar e por quê gostar. Influenciada por elas, a morena foi se afastando cada vez mais de sua essência. Moldando seus hábitos e se tornando no pior que poderia ser: Uma adolescente comum.

Agora saía mais vezes. Se entregou para a vida fora daquelas cercas e aos poucos, a Leninha amável e inocente deu lugar a Yelena rebelde que só pensava numa coisa: Agradar o Enzo Gonzales a todo quanto é custo.

Enzo era o garoto hispânico, e odiosamente simpático que acabara de se mudar pra fazenda ao lado. E foi ele que, com o seu jeito maroto, despertou em Yelena o mais clichê dos sentimentos: A paixão de adolescente. Lembro que eu os observava da varanda de casa enquanto eles conversavam por horas, cada um do seu lado da cerca, com olhares envergonhados e todos os outros pré requisitos de uma conversa "cor de rosa." Enquanto eu, entristecido, lamentava o facto dela não sorrir do mesmo jeito quando conversava comigo.

Até Que MorramosOnde histórias criam vida. Descubra agora