Capitulo IX - Dia 5 e 6

83 21 71
                                    



FOI UMA LUTA DURA PRA DORMIR, ISSO LITERALMENTE. Sem o cobertor que aconchegava minhas culpas, nem as almofadas que afagavam as angústias, a calçada dura me fazia refletir sobre os erros que cometi, as faltas com Yelena que de alguma forma nos transportaram  para esse triste fim. Não sendo o bastante, tinha também a sensação de fracasso por não ter conseguido dar à Yelena o descanso merecido no lugar onde com certeza nossos últimos dias seriam bem aproveitados.

Ao amanhecer do quinto dia, os urubus de microfones pairavam pelo lugar esperando pelo novo réu. O escolhido da vez era ninguém mais ninguém menos que ele, Dr.Jonas Bradford, que agendou uma conferência de imprensa para o pronunciamento oficial da More Health sobre o caso tão repercutido.

Lembro que nem eram dez da manhã quando o grupo de jornalistas cercou os portões da Indústria More Health, e  minutos depois Bradford saiu, com a mesma frieza de sempre e sem muitas de longas, começou a comunicar:

"Primeiramente gostaria de passar as minhas saudações a todos os jornalistas aqui presentes, e a todos que acompanham essa transmissão. Como é do vosso conhecimento, a nossa empresa está a ser alvo de várias acusações. Dentre  elas, a mais grave: A acusação de tentativa de Bioterrorismo, que é por si só um crime hediondo. Queremos por meio desse pronunciamento refutar todas as acusações que nos foram feitas e dizer que a More Health está isenta de qualquer culpa. Somos umas das indústrias farmacêuticas mais importantes do mundo, e o nosso compromisso é com o bem estar das pessoas e não o contrário. Para finalizar, vale informar que este caso está a ser investigado pelas autoridades competentes e logo nossa inocência será comprovada."

Tendo dito o que pretendia,  deu-se abertura a fase de perguntas:

— O que o senhor tem a dizer sobre a cientista que foi infectada?— Pronunciou-se um dos  jornalistas. —A história de que ela seria levada para o interior é verdadeira?

— Éh... Não, não é.— Dr.Bradford respondeu. — A Dra.Yelena Vegas é uma profissional exemplar que merece o respeito de todos nós. Suas descobertas foram muito importantes na luta contra o COVID-19, certo? Ou vocês já se esqueceram disso. Hoje ela é sem dúvida uma das cientistas mais respeitadas do país e posso garantir que depois de tudo o que ela fez pelo mesmo, a última coisa que iria querer é criar uma situação em que possa haver risco de propagação de um vírus que pode causar muitos problemas a nossa sociedade e ao mundo.

— Mas então... como aconteceu a Infecção?  — Questionou outro.

— Por questões políticas, essa informação não será revelada em detalhes, mas podemos dizer apenas  que foi um acidente trágico num dos laboratórios, que culminou com a exposição ao vírus de vários cientistas que trabalhavam no local.

— Então tem mais de uma pessoa infectada?

— Não! Apenas a Dra.Yelena foi infectada. — Esclareceu. — Mas os outros, apesar de não terem contraído o vírus, estão em quarentena domiciliar obrigatória por uma questão de prevenção.

Olhou para o lado e me viu sentado na calçada, direcionando a ele o pior dos olhares. Bradford se virou para os jornalistas inquieto.

— Não poderei responder a mais perguntas... —  interrompeu um dos urubus que já engatilhava a próxima questão. — Gostaria apenas de finalizar essa coletiva dizendo que a situação não representa nenhum  risco a saúde pública. A paciente infectada, no caso, a nossa querida Dra.Yelena, está em um ambiente isolado sem qualquer contacto com o meio externo, e todas  as medidas de biossegurança estão a ser seguidas a risca. Sendo assim, posso garantir que ela vai permanecer nesse isolamento, até que essa situação tenha o seu fim...

— Até que ela morra! —  Acentuei em um grito tão forte que atraiu todos os olhares para mim. — Por quê  não diz de uma vez? Vocês vão deixar ela trancada até que o vírus a possua por completo e ela morra. Todos  vocês acham que  isso é o mais certo a se fazer, não é mesmo?

Até Que MorramosOnde histórias criam vida. Descubra agora